O Retorno do Indesejado

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  O olhar de Carmilla para Matska era fatal. Havia acabado de retornar para sua residência e não sabia dessa "surpresa" não tão agradável de que Elizabeth teria retornado para a mansão. Ficou ainda mais enlouquecida quando sua irmã não fez questão de alertá-la.

 O olhar que Matska dava a Carmilla era como se disse para que ela parasse de encará-la ou para ao menos tentar fingir que não tem um ódio mortal pela mãe. O que era basicamente quase impossível já que para Elizabth, as filhas eram apenas peões no seu jogo de quebra cabeças.

— Então, como foi a viagem mamãe? Acredito que fez bem pra pele já que parece mais.... Jovem. — Respondeu a condessa olhando a bruxa de cima a baixo.

— Oh Carmilla que bom que reparou. — Sorriu ironicamente consertando sua posição na poltrona felpuda de tom amarronzada. — Foi um tanto desconfortável, mas me fez um bem não acha?

— E o que a fez rejuvenescer tanto? — Prosseguiu a pergunta e Elizabeth sorriu ainda mais.

— A curiosidade pode matar cara filha. — Respondeu dando a condessa de Karnstein um olhar tentador. — Não se preocupe com isso, ao contrário de Elly Kedward eu não uso criancinhas para fazer jus a minha beleza.

"Beleza comprada com magia negra" Pensou Carmilla.

— E você? Soube que esteve rondando a família Hollis. — Disse a bruxa e o olhar que Carmilla lançou a Matska era fatalmente explicito que dizia "Ah, mas eu vou arrancar os seus olhos e língua, cara irmã!"

— Não importa, foi apenas uma distração mamãe. Nada com o que se preocupar.

— Não a quero perto desse tipo de gente. Sabe disso.

— Ficará na Estíria até quando? — Perguntou Matska reparando no olhar perigoso da condessa não satisfeita com o modo em que sua mãe se referia à família de Laura, ah se ela pudesse soltar uma longa respirada aquele seria de fato um momento para isso.

  A questão era que Carmilla estava louca para se livrar de sua mãe, e no sentido de mata-la e devolvê-la ao inferno, não gostava da forma em que ela tratava as pessoas e muito menos como usava Matska e Carmilla.

— Iremos viajar em breve. Temos um negócio pendente.

— Espera. Irei embora também? — perguntou Carmilla.

— Sim oras, preciso dos seus serviços! Não te transformei em um ser poderoso como esse para ficar correndo atrás de mulheres! — Respondeu e a condessa sentiu-se levemente constrangida. — da próxima vez, vê se fisga o peixe. Não crio minhas meninas para perderem uma batalha. Especialmente se o tema for sedução. — respondeu acariciando o rosto da filha e se virando para subir as gigantescas escadas no centro da sala que levava aos quarto.

***

  Laura respirou fundo. Estava perdendo totalmente a paciência. O príncipe Jonah estava mais interessado nos seios da milady do que de fato na sua personalidade. Desde que Carmilla foi embora, ele não parava de comentar o quão a voz da condessa o excitava, como se Laura simplesmente não estivesse ali junto. E o rei? Ria de suas menções como se fosse algo completamente normal e digno do homem.

  Quando eles estavam juntos era Jonah que tagarelava. Seria desse jeito que Carmilla se sentia quando Laura começava a tagarelar sobre sua vida com ela o tempo inteiro?

  Não. Ela já havia dito que gostava quando Laura falava sobre ela. Sem contar que Laura nunca mencionava palavras machistas ou metidas como se o mundo girasse em torno dela e de suas conquistas.

  Infelizmente Laura havia praticamente expulsado a condessa Karnstein para que parasse suas distrações e finalmente fosse de fato uma mulher feliz com uma família de verdade e quem sabe até mesmo rainha.

  Porém quanto mais o tempo passava, mais Laura sentia-se impotente, magoada, triste e infeliz. Ela gostava de Carmilla, gostava de sua companhia, gostava de como a condessa era direta, e gostava também de sua elegância, seu cheiro... "Oh Laura, vamos não pense nela logo agora!" Pensou consigo mesmo... Seria isto o amor? Essa necessidade, esse vício de querer se manter perto de alguém? Seria mesmo possível uma mulher se apaixonar por outra mulher?

  Não, não, tinha de ser apenas um pecado. Ambas eram demônios, ou meio demônios. Deveria ser normal ter esses tipos de pensamentos impuros, já que era de sua natureza. Laura acreditava que mudaria... tinha de acreditar que estava fazendo a coisa certa.

  Ela precisava acreditar...

— Senhorita? — Chamou uma de suas governantas, Madame Perrigton entrando no quarto e esbugalhando seus graciosos olhos azuis. — O que faz aqui sozinha? Por que não está lá embaixo junto dos demais, e de teu noivo? — Perguntou entrando logo a frente de Lafontaine, a sua segunda governanta.

— Ah, estou bem, já, já eu desço Perry...

— Não, não está nada bem. Conheço esse olhar. — Disse Lafontaine sempre tímida, mas com um ar encantador em sua voz. — É o olhar de uma criança confusa e com medo. O que aconteceu Laura? — Perguntou franzindo o cenho preocupada.

  Laura procurou as palavras certas e com bastante cautela para que não despertasse em nenhum momento a desconfiança de que ela estivesse de fato apaixonada por Carmilla, precisava de fato desabafar, e suas governantas eram as melhores psicólogas naquele momento.

— E se hipoteticamente falando, uma moça se apaixonasse por outra pessoa, que não seja seu noivo, só que essa pessoa seja alguém muito... Impossível de se ter um relacionamento, um amor impossível digamos assim.

— Como se o rapaz fosse de classe bem baixa e não pudesse bancar a esposa? — Perguntou Perry.

  Não. Não era nada a ver.

— Sim. Isso, tudo a ver. — Disse Laura. — Eles estão apaixonados, mas não podem ficar juntos, sem contar que a menina também não tem certeza se é possível ela de fato estar apaixonado por ela... Quero dizer ele. Por ele.

  Naquele momento Laf, sempre a mais esperta franziu a testa desconfiada da embolação e confusão de Laura que permaneceu tentando desviar o assunto para o ponto onde queria chegar.

— O certo para que a moça fosse de fato feliz, seria se casar com o que tem condições para banca-la, não é? Assim ela seria feliz... — Disse a milady tentando se convencer.

  Lafontaine respirou fundo ao se sentar do lado da menina e segurar suas mãos antes de lhe entregar um leve sorriso reconfortável.

— Isso que a moça sente por esse rapaz é real? — Perguntou. — Quando estais perto dele, ela sente como?

— Se sente... Bem. Ela gosta dele. Gosta do cheiro, das frases elegantes, até gosta de sonhar com ele. — Dizia com um sorriso bobo no rosto.

— Então é amor. Sinceramente, acho que a moça deveria lutar por este amor.

— Mas... Mesmo que ele não possa banca-la?

  Ou no caso, mesmo que ela fosse uma mulher?

— Laura querida. — Disse Perry se sentando do outro lado. — O amor verdadeiro é puro e raro. Se encontrou o amor de sua vida, corra atrás, pois uma vez amando, seria quase impossível ser feliz sem que seja com o seu amado. — Respondeu por fim deixando Laura cada vez mais próxima de uma decisão maluca.

— Mesmo que esse amor seja pecado? — Perguntou e Lafontaine se levantou calmamente soltando mais um sorriso ao olhar para Laura e dar a ela a palavra final.

— Se for amor, não é pecado Laura. O amor é puro, e único. E muito bonito para ser pecado. — Respondeu Laf colocando Laura para refletir sobre.

Alguém ali estava pensando em fazer uma burrada.



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