Dia 2

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Metrô de Budapeste, 02:00am (por ahospedada)

Caminho tropeçando em meus próprios pés, sinto o frio congelar as minhas mãos, mas isso não importa, ele segura em minha cintura, sinto seu hálito em minha nuca e penso em minha mãe. Algo tão inapropriado para aquele momento. Penso nela e em como ela crê que eu estou estudando, em como ela crê que eu me mantenho como au pair e que estar aqui é uma boa oportunidade para mim.

Sinto a lágrima vir, mas a seguro. Não posso chorar, não agora, ele diz algo e eu rio como se fosse engraçado, está nitidamente bêbado, mas eu não me importo. Tem tanta cocaína em mim que o menor dos meus problemas é um cliente bêbado. Ele quer algo diferente, "exótico" como eu, palavras que todos esses cretinos usam para serem racistas sem se declararem como.

Respiro fundo deixando-o me guiar, transar no metrô com certeza não é um dos piores fetiches, já enfrentei clientes com gostos muito mais peculiares. Descemos a escadaria rumo ao subterrâneo, ouço um click e é como se tudo ficasse claro em minha mente. Ele não é um cliente.

Tento me lembrar da onde o conheço, mas não consigo, o nervosismo toma conta de mim, começo a tremer e ele nota, gargalha. Exatamente igual ao irmão e é então que eu entendo. Ele não é um cliente. Eu sou a cliente. Respiro fundo tentando me manter calma, mas não consigo, minha mente não para, meu corpo não para, corro assim que meus olhos encontram os dele. Tento fugir enquanto seu irmão gargalha novamente. Mas não há pra onde correr. Sinto a primeira bala, mas continuo a correr, a segunda me derruba. Respiro fundo tentando não engasgar em meu próprio sangue, penso em minha mãe, tendo uma filha prostituta morta em um metrô por um qualquer. Penso em seus olhos caridosos e em seus abraços, quase posso ouvir a sua voz, mas ele coloca a arma em minha cabeça e a única coisa que consigo ouvir é ele a engatilhando e o meu fim.

 Penso em seus olhos caridosos e em seus abraços, quase posso ouvir a sua voz, mas ele coloca a arma em minha cabeça e a única coisa que consigo ouvir é ele a engatilhando e o meu fim

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Budapest (por laertecjr)

- Budapest? Que porra eu to fazendo aqui?

Marcos acordou com o barulho dos trens passando, seu espanto era genuíno afinal sua última lembrança era de estar em sua mesa trabalhando e ainda era dia. Se levantou do pequeno banco e procurou alguém para falar, mas não tinha ninguém ali, correu até a beira da estação mas também não tinha ninguém. Começou a gritar por ajuda, mas a sua voz se perdia com o barulho dos trens.

Correu em direção a escada mas tropeçou caindo na linha, levantou-se meio tonto olhando para os lados a tempo apenas de ver a luz do trem que vinha em sua direção.

Não teve tempo nem de gritar. Abriu os olhos e uma senhora olhava para ele.

- E então, como foi sua primeira viagem astral?

- E então, como foi sua primeira viagem astral?

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Antologia 1 - JunhoOnde histórias criam vida. Descubra agora