Dia 15

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A Última das Luzes (por eitacaroline)

Ele acordou com frio, deitado em um chão duro. Nem parecia que tinha aberto os olhos, estava tudo escuro ao seu redor. Caio tateou o bolso e pegou o isqueiro para iluminar os arredores. Achou uma caixa cheia de uma espécie de sinalizador ao seu lado e tratou de acender um deles para ter uma iluminação mais ampla. Já de pé, quase caiu sentado de novo. Se encontrava em um túnel enorme e vazio. Virou-se para os dois lados, mas não conseguiu enxergar algo que parecesse com o final ou o começo.

Coçou a cabeça. Não fazia ideia de como havia ido parar ali e sentiu medo. A respiração pesada criava fumacinhas no ar.

- Alguém?! - gritou. Tudo que obteve de resposta foi seu eco.

Usou o sinalizador já aceso para acender outro.

- Qual é, que tipo de brincadeira idiota é essa?

Ninguém respondeu. Ele resolveu dar alguns passos a frente, arrastando a caixa de sinalizadores. Andou por dez, quinze, trinta minutos. Já sentia fome sede e seu corpo tremia de frio. O túnel não acabava.

Caio sentou-se no chão, desesperançoso. Havia um único sinalizador na caixa. Estava tomado pelo pânico e já não sentia suas extremidades. Desejou a morte.

- Queres morrer? - ouviu como um sussurro.

Ah, pronto, pensou. Agora eu estou delirando.

- Não estás a delirar, Caio Bandeira.

- Quem está ai? 

Fez menção de acender o último sinalizador.

- Eu pouparia um pouco a luz se estivesse em sua pele.

- O que você quer?! - gritou.

A voz sem corpo riu.

- Apenas alimento. Seu corpo me pertence a partir do momento que a última de suas luzes se apagar.

Caio tremia.

- Que brincadeira idiota!

- Se tens fé de que isso não é sério, acenda-o - a voz provocou.

Caio, obstinado, acendeu o último sinalizador e aguardou em silêncio. Agora conseguia ouvir a respiração pesada do dono da voz, quem quer (ou o que quer) que fosse.

Já não sentia mais frio, na verdade, quase tinha calor.

- Esse calor provém de mim. Me chamo Tsukeen e sou o Dragão Guardião.

- O que você guarda?

- Tesouros.

- O que você quer comigo?

- És apenas uma pequena moeda de troca. Alguém maior que tu usou de teu corpo como acesso para meus tesouros.

- Isso é ridículo.

- Aguarde sua chama chegar ao final e verás.

Caio tremia agora de medo. A luz do sinalizador ficava cada vez mais fraca. Olhou ao redor buscando por alguma outra fonte de iluminação mas não encontrou. A risada começou um segundo antes da chama apagar. Seu peito subia e descia acelerado. Ele se encontrava em total escuridão. Ouviu um rastejar se aproximando e recostou na parede.

Os dois olhos que romperam a escuridão pareciam carvões em brasa em meio a um rosto dourado. Parecia de ouro maciço.

Aquele estranho brilho que emanava da pele de Tsukeen foi a última visão de Caio antes de tudo se apagar permanentemente.

Antologia 1 - JunhoOnde histórias criam vida. Descubra agora