A Última das Luzes (por eitacaroline)
Ele acordou com frio, deitado em um chão duro. Nem parecia que tinha aberto os olhos, estava tudo escuro ao seu redor. Caio tateou o bolso e pegou o isqueiro para iluminar os arredores. Achou uma caixa cheia de uma espécie de sinalizador ao seu lado e tratou de acender um deles para ter uma iluminação mais ampla. Já de pé, quase caiu sentado de novo. Se encontrava em um túnel enorme e vazio. Virou-se para os dois lados, mas não conseguiu enxergar algo que parecesse com o final ou o começo.
Coçou a cabeça. Não fazia ideia de como havia ido parar ali e sentiu medo. A respiração pesada criava fumacinhas no ar.
- Alguém?! - gritou. Tudo que obteve de resposta foi seu eco.
Usou o sinalizador já aceso para acender outro.
- Qual é, que tipo de brincadeira idiota é essa?
Ninguém respondeu. Ele resolveu dar alguns passos a frente, arrastando a caixa de sinalizadores. Andou por dez, quinze, trinta minutos. Já sentia fome sede e seu corpo tremia de frio. O túnel não acabava.
Caio sentou-se no chão, desesperançoso. Havia um único sinalizador na caixa. Estava tomado pelo pânico e já não sentia suas extremidades. Desejou a morte.
- Queres morrer? - ouviu como um sussurro.
Ah, pronto, pensou. Agora eu estou delirando.
- Não estás a delirar, Caio Bandeira.
- Quem está ai?
Fez menção de acender o último sinalizador.
- Eu pouparia um pouco a luz se estivesse em sua pele.
- O que você quer?! - gritou.
A voz sem corpo riu.
- Apenas alimento. Seu corpo me pertence a partir do momento que a última de suas luzes se apagar.
Caio tremia.
- Que brincadeira idiota!
- Se tens fé de que isso não é sério, acenda-o - a voz provocou.
Caio, obstinado, acendeu o último sinalizador e aguardou em silêncio. Agora conseguia ouvir a respiração pesada do dono da voz, quem quer (ou o que quer) que fosse.
Já não sentia mais frio, na verdade, quase tinha calor.
- Esse calor provém de mim. Me chamo Tsukeen e sou o Dragão Guardião.
- O que você guarda?
- Tesouros.
- O que você quer comigo?
- És apenas uma pequena moeda de troca. Alguém maior que tu usou de teu corpo como acesso para meus tesouros.
- Isso é ridículo.
- Aguarde sua chama chegar ao final e verás.
Caio tremia agora de medo. A luz do sinalizador ficava cada vez mais fraca. Olhou ao redor buscando por alguma outra fonte de iluminação mas não encontrou. A risada começou um segundo antes da chama apagar. Seu peito subia e descia acelerado. Ele se encontrava em total escuridão. Ouviu um rastejar se aproximando e recostou na parede.
Os dois olhos que romperam a escuridão pareciam carvões em brasa em meio a um rosto dourado. Parecia de ouro maciço.
Aquele estranho brilho que emanava da pele de Tsukeen foi a última visão de Caio antes de tudo se apagar permanentemente.
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Antologia 1 - Junho
RandomEsse não é um projeto de divulgação de livros, é um projeto de exercícios de criatividade que reúne os melhores textos de cada desafio de escrita. Cada dia apresenta uma imagem ou frase sobre o qual os autores devem produzir no mínimo 100 palavras...