Dia 16

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Os Prédios da Rua Bonfim (por eutemporario)

Os prédios da Rua Bom eram todos iguais. Mesmas cores, estruturas e ornamentações. Diferenciava, talvez, no natal onde havia competição de decoração. Porém, no frio de junho tudo parecia vazio e triste. As cores cinzas das casa ajudavam nesse sentimento. Não se via ninguém, nem mesmo dentro de casa.

Na manhã de segunda-feira, João foi acordado por uma população extremamente barulhenta. Nunca ouvira tamanha euforia e baderna. Vestiu-se e foi ver o que era. Petrificou-se na porta, não conseguia se mover. Era uma coisa linda e ao mesmo tempo assustadora, não tinha palavras para descrever. Tomado por um horror e paixão, caminhou em direção ao espanto. Surgirá naquela rua uma casa laranja no meio das cinzas.

O prédio sem cor (por RenikVanDorn)

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O prédio sem cor (por RenikVanDorn)

A cidade de Alegoria sempre justificou o nome; marchinhas de rua, bares que nunca se fecham, novas fórmulas de cerveja criando-se a todo tempo e cores cada vez mais carnavalescas fazem uma pequena parte da identidade de quem ali vive.

Os carros e ônibus buzinam em ritmo, as motos desafinam cantos e até mesmo as bicicletas parecem rodar ao embalo de alguma musiquinha que toca num bar qualquer.

Quando Elina se mudou para tal cidade, não pretendia ser um ponto sem cor nem vida em meio a uma transa de cores. No mesmo dia em que trouxe suas poucas tralhas, fora avisada que o prédio precisava de uma nova tintura, que aparentemente não incluía-se no médio valor da compra.

A rua ostentava amarelos como a união de dois sóis, laranjas cegantes e verdes limão e atibaia. Até mesmo misturas peculiares de cores reforçavam o jus ao apelido de Cidade Arco-íris. Mas foi um azul acinzentado que esticou os olhos de Elina, não podia negar que assemelhava-se mais à sua alma.

Não que ela não possuísse alegria em seu âmago ou que caísse depressiva como numa adolescência solitária, tampouco era indiferente às cores, apenas sentia que ainda como um papel em branco em meio a livros de colorir terminados, não deveria sentir-se pressionada pela voz comum que aconselha seguir o padrão.

Elina não é uma militante, tal discussão arrancaria nem mesmo cinco minutos de seu dia rodeando de um lado a outro em seus pensamentos aleatórios, mas era como se estivesse prestes a quebrar uma cultura ou obviedade. Uma cidade com nome de Alegoria com casas escuras seria no mínimo sarcástico. Ela não sabe se tem tal direito; é uma recém chegada, afinal.

Decide pintá-lo da cor que deseja, fodam-se as opiniões. Como resposta às próprias suposições, colou milimetricamente adesivos no vidro da janela da sala de estar: "Crtl+Alt+Del". Em outras palavras, quando o conflito fosse maior que o sossego, seria como reiniciar. E na mesma semana pintaria o prédio de um rosa fúcsia ou vermelho alaranjado, não sabe ao certo.

Antologia 1 - JunhoOnde histórias criam vida. Descubra agora