Dia 20

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O Caminho ao Fim do Caminho (por eitacaroline)

Eu não me lembrava de como cheguei ali, mas estava feliz por ter chego. A paisagem era deslumbrante e enchia meu peito de uma paz que eu não presenciava há muito tempo. Eu estava sentada em um banquinho sob a sombra de uma frondosa árvore e os raios do sol acariciavam a minha pele de um jeito gostoso.

Tardei um pouco a perceber que um homem me observava, sentado ao meu lado. Me assustei ao vê-lo.

- Não tem porquê se assustar, Tassiane – ele me acalmou, ou tentou, já que sua frase me deixou ainda mais apreensiva.

- Quem é você? – indaguei.

Ele era bonito. Tinha os cabelos loiros e o maxilar quadrado, normalmente o tipo de homem por quem eu me atrairia, mas algo nele me fazia tremer nas bases como se ele pudesse me fazer coisas horríveis.

- Me chamo Forseti – respondeu com a voz grave.

- E onde eu estou? – perguntei. – Que gozado, não me lembro de ter chegado aqui.

- Você está sentada abaixo da Árvore da Decisão. Vim te ajudar a trilhar o Caminho ao Fim do Caminho – esclareceu, me deixando mais confusa ainda.

- Eu estou em um Caminho ao Fim do Caminho? – disse confusa.

Cada vez menos aquilo tudo fazia sentido e eu deveria me sentir inquieta e curiosa sobre tudo a minha volta, mas eu só conseguia sentir paz e vontade de me esticar naquela grama.

- Sim, você está – sorriu. – O Caminho ao Fim do Caminho é o caminho a trilhar em morte quando seu caminho em vida acaba. Você morreu, Tassiane.

- Oi?! – esse cara só podia estar delirando.

- Morreu – repetiu lentamente como se eu fosse uma criança.

Eu não queria acreditar nele, mas senti confiança em suas palavras.

- Você não deveria, sei lá, avaliar meus pecados? – perguntei e ele soltou uma risadinha.

- Isso é muito ultrapassado, confuso e vago. Veja bem, muitas pessoas só são boas com a intenção de ir para um bom lugar depois da morte. Foram boas, mas não por quererem ser boas, foram boas com intenções egoístas – explicou, gesticulando. – Os Guardiões dos Portões sempre caíam nesse paradoxo, então abandonamos esse método.

Pisquei atordoada com a explicação.

- Mais alguma dúvida?

- Como? – indaguei. – Digo, como eu morri?

- Feche os olhos – ele pediu e eu obedeci. Quando ele falou novamente, sua voz soou distante e cheia de ecos. – Era uma tarde chuvosa...

Como em um filme, a imagem apareceu na minha cabeça.

"Você estava atrasada, correndo de volta para o escritório depois de almoçar..."

Eu via os borrões que eram as pessoas e os guarda chuvas passando ao meu redor enquanto eu corria desabalada na direção do meu trabalho. Olhei no relógio e eu já estava muito atrasada para a reunião da tarde.

"Os carros pararam de passar na avenida e você imaginou que fosse seguro atravessar..."

Assim que o barulho de carros diminuiu, eu me aproximei do meio fio, olhando acelerada para os dois lados. Dei um passo. Outro passo.

"Um ônibus veio correndo..."

Um clarão. Apertei com força os olhos e quando os abri estavam marejados, encarando o belo cenário de paz ao meu redor. Olhei chorosa para Forseti.

Antologia 1 - JunhoOnde histórias criam vida. Descubra agora