Perrie narrando:Peguei outro biscoito e o enfiei direto dentro da boca, quase me engasgando de tanto rir enquanto Cloeh continuava a usar outros dos nossos equipamentos pra insinuar atos sexuais, em cima de sua mesa que ficava num canto oposto ao meu, dentro do consultório.
"ATENÇÃO SETOR HOSPITALAR, CORONEL EDWARDS PEDE QUE TODOS OS MÉDICOS, PARAMÉDICOS E ENFERMEIROS ESTEJAM À POSTOS PARA UM COMUNICADO URGENTE, AGORA MESMO NO 1° PAVIMENTO, REPITO, TODOS OS MÉDICOS, PARAMÉDICOS E ENFERMEIROS PRECISAM IR IMEDIATAMENTE PARA O 1° PAVIMENTO."
Eu engoli a seco meu biscoito, paralisada com aquela informação que haviam acabado de anunciar no alto falante, pelos quatro cantos de todo o setor hospitalar. Cloeh parou de fazer suas brincadeiras no mesmo instante e olhou pra mim assustada, já sabendo que boa coisa não poderia ser.
Coronel Edwards, ou melhor, meu pai, muito raramente fazia esse tipo de solicitação, então, quando ocorria, era motivo de preocupação pra todas nós. Algo de muito grave deve ter acontecido.
- Ei, o que estão esperando? Vamos logo! - A médica responsável pela minha equipe, doutora Trump, entrou de repente no consultório, falando agitada com nós duas.
Então me levantei rapidamente e limpei meu jaleco branco de enfermeira, todo sujo de farelo de biscoito, enquanto começava a correr na direção da porta, esperando um pouco até Cloeh me alcançar, e depois nós duas saímos juntas.
Uma concentração enorme de enfermeiros e enfermeiras estavam espalhados pelos corredores, uma falação sem fim, todos querendo saber o motivo daquele chamado enquanto andávamos apressados até o pavimento principal do exército.
- Deve ter alguma coisa a ver com o acidente no navio da marinha.
Ouvi de relance uma das enfermeiras de outra equipe comentando com sua colega, e me aproximei um pouco mais delas, pra poder escutar melhor.
- Como assim? O que aconteceu no navio? - A outra perguntou.
- Eu vi escondido no meu celular, ta em todos os sites de notícia, o navio foi atacado por rebeldes, mais de dez pessoas morreram, só ainda não sabem o numero de feridos, mas pelo visto foram muitos.
Franzi a testa confusa sem saber se aquelas informações eram verdadeiras ou não, voltando pro meu lugar. Não tinha como ter certeza de nada, todos nós ficamos isolados aqui dentro, sem acesso à qualquer meio de comunicação, porque é proibido usar o celular durante o trabalho, então somos sempre os últimos a saber das coisas.
Mas eu espero que não seja nada disso que ela falou, senão seria uma tragédia terrível mesmo, uma das piores que eu já vi nesses dois anos e cinco meses como enfermeira do exército.
[Meia hora depois]
- Filha, você não precisa ir, não insista por favor, sua mãe vai me matar se acontecer alguma coisa com você naquele navio. Ele acabou de ser atacado por rebeldes, pode ser alvo novamente...
- Pai os marinheiros já controlaram o ataque e prenderam todos os culpados, não há nenhum perigo a mais dentro daquele navio. - Falei impaciente enquanto arrumava meus equipamentos médicos dentro da bolsa, com meu pai atrás de mim, tentando me convencer a ficar.
Era algo meio constrangedor para mim esse excesso de proteção que ele tinha comigo, afinal ele era a autoridade máxima aqui nessa base militar, mas mesmo assim me tratava como se estivéssemos em casa quando vinha falar comigo, e sequer permitia que eu tentasse manter o profissionalismo de chama-lo de "senhor coronel Edwards".
- Nada que eu fale vai fazer você mudar de idéia, não é mesmo?
- Ainda bem que sabe disso. - Falei colocando a mochila no ombro e olhando para trás, encontrando o olhar dramaticamente triste de meu pai - Foi o senhor mesmo que me ensinou a ser assim pai, a não medir esforços pra ajudar qualquer pessoa que esteja em nosso alcance, a ter coragem, atitude. Então eu vou, vou ajudar no que eu puder a esses marinheiros que sobreviveram a esse ataque covarde e cruel, e vou fazer de tudo também pra que mais nenhum deles morram.
Ele suspirou pesadamente, parecendo ter desistido de argumentar algo a mais. Então fui até ele e o abracei, ele me abraçou também e me segurou durante um bom tempo em seus braços até eu finalmente conseguir me separar dele e me afastar dando um sorriso fraco para ele.
- Até logo pai.
- Vai com Deus minha filha.
Ele falou em tom baixo, e eu acenei brevemente com a cabeça, depois comecei a caminhar pra fora do consultório.
- Ele deixou você ir? - Cloeh me interceptou assim que saí pela porta, me dando um pequeno susto.
- Tenho 24 anos de idade Cloeh, não sou nenhuma criança pra precisar da permissão do pai pra fazer qualquer coisa. - Respondi incomodada com a imagem, que não só ela, mas a maioria das pessoas aqui no exercito, têm da "filha do coronel Edwards".
- Ta bom, calma. Só fiz uma pergunta. - Ela revirou os olhos, entediada.
- Vamos logo então. - Falei voltando a andar e sem esperar que ela me acompanhasse.
...
Uma equipe unificada com duas médicas, cinco paramédicos e sete enfermeiras, ao qual estavam incluídas eu, Cloeh, Rosita e Ellie que já eram de minha equipe lá no setor hospitalar do exercito, e outras tres enfermeiras de outra equipe diferente da minha mas que conhecia também, eram elas; Victoria, Anna e Jessica.
O clima estava um pouco tenso entre todas nós então não conversamos muito dentro da ambulância com escolta do exército durante o trajeto não muito longo até o navio da marinha.
Quando chegamos na base terrestre da marinha, fiquei por alguns segundos deslumbrada com a beleza daquele lugar enorme, decorado nas cores brancas em todo canto praticamente, tendo ao fundo a extensão do mar se perdendo no horizonte e logo meus olhos encontraram também os vários navios gigantescos que ficavam ancorados ali perto, num enorme cais, com portos indicando cada navio.
Eu não vinha aqui a muito tempo, por isso fiquei tão impressionada logo no início. A última vez que lembro ter vindo aqui, foi com meu pai e meus irmãos quando era mais nova, e muita coisa mudou por aqui desde então.
- Senhoritas, me acompanhem por aqui, por favor. - A voz de um homem entrou em meus pensamentos e eu despertei, olhando pra ele e vendo que era um marinheiro.
- Só se for agora gatinho. - Cloeh sussurrou baixinho ao meu lado e eu olhei pra ela, que riu começando a andar na direção dele.
Respirei fundo e fui atrás dele também, vendo que havia uma concentração enorme de pessoas tumultuadas mais adiante, em um dos portos. Então imaginei que provavelmente aquele era o porto do navio que havia sido atacado.
Havia equipes de reportagem, autoridades da marinha tentando controlar as exaltação das pessoas querendo passar pelo cerco estabelecido na entrada do porto, impedindo a passagem de todos.
Vi várias pessoas passarem por mim chorando, desesperadas por alguma noticia. Acredito que sejam as famílias das pessoas que estavam lá dentro do navio.
Tive que me segurar pra não ir até cada uma delas e tentar conforta-las de alguma forma, mas minha missão aqui é diferente dessa, e eu preciso ficar focada, só assim vou conseguir dar o melhor de mim pra ajudar esses heróis que estão feridos lá dentro.
Respirei fundo e segurei meus impulsos, caminhando mais firme e já começando a avistar a área em frente ao navio, com várias fileiras de ambulâncias estacionadas no local.