Perrie narrando:
Eu estava conversando com a senhora Jane Conner, irmã do meu outro paciente, o cabo Conner, e lhe dando algumas informações sobre o tratamento do irmão dela. Ali na salinha de recepção hoje estava mais lotado de pessoas, haviam mais parentes e amigos pra falar com os pacientes internados na UTI. Eu estava tentando dar atenção a todas as visitas dos meus três pacientes, então eu já havia falado um pouco com a família do cabo Jason, falei com a cabo Nelson, com a senhora Norma Thirwall, sogra da Leigh, e agora era a vez dos familiares do cabo Conner.
Ellie também estava circulando pra lá e pra cá conversando com as visitas de seus pacientes, e eu às vezes esbarrava sem querer nela, mas mesmo assim não dizia nada, porque eu e ela, e Cloeh também, estávamos brigadas desde ontem à noite. Quando as duas ficaram me pressionando com aquela história de eu estar gostando da Leigh... Mesmo eu insistindo em dizer que não, que era tudo mentira da Cloeh, que eu e a Leigh estamos apenas... Nos tornando mais próximas como amigas, nada além disso. E ponto final!
- Enfermeira? - Uma voz soou de repente atrás de mim e eu olhei no mesmo instante pra trás, vendo que era ela, a esposa da Leigh, que finalmente tinha vindo hoje visitá-la depois de todo esse tempo em que esteve ocupada demais trabalhando - Posso falar um minuto com senhora?
- Aconteceu alguma coisa com a Le... Com a sargenta? - perguntei angustiada a olhando e ela balançou a cabeça negativamente, então respirei aliviada e olhei pra trás, falando com a senhora Jane Conner - Com licença, senhora.
Ela acenou com a cabeça pra mim e eu então me afastei dali com senhora Pinnock ao meu lado, paramos num canto da salinha e ela ficou de frente pra mim, me encarando com uma expressão séria mas ao mesmo tempo... Triste? Não pude deixar de perceber que ainda haviam algumas marcas de lágrimas em sua face também.
- Eu... Eu preciso que você diga pra Leigh que eu vou embora, e amanhã eu volto pra ver ela... - Ela começou a falar mas eu dei uma risada fraca, sem entender pois ainda estava cedo demais pra isso. Olhei em meu relógio no pulso rapidamente e falei:
- Mas a senhora nem ficou vinte minutos com ela, hoje é permitido duas horas de visita senhora Pinnock, por que não fica mais um pouco? A sargenta está morrendo de saudade de...
- Eu não tô me sentindo bem. - Ela me cortou, antes de eu terminar de falar e eu sorri pra ela, dizendo:
- Eu posso examinar a senhora se quiser, posso lhe passar um medicamento também, isso não é problema...
- Não dá! - Ela me interrompeu novamente, mas dessa vez parecendo mais exaltada - Não dá, não dá, não dá, entendeu? Eu preciso ir embora agora, eu, eu não consigo, não consigo mais voltar lá pra falar com ela! Eu vou embora, me dá licença.
Ela já iria se virar e ir na direção de sua mãe, que estava sentada numa das cadeiras encostadas na parede da salinha, mas eu segurei em seu braço a impedindo, e ela virou-se pra mim.
- Por que a senhora mesma não diz pra sua mulher que não quer mais ficar e fazer companhia a ela? - Questionei sem soltá-la, e ela bufou pra mim enquanto puxava seu braço de volta com agressividade, então eu a soltei. Ela não me respondeu nada, apenas se afastou de mim olhando em meus olhos e eu percebi que os olhos dela estavam levemente marejados agora, ela se afastou de mim e depois foi até sua mãe, falou algo com ela e depois com a cabo Nelson rapidamente, e depois passou às pressas por mim junto com a mãe dela, saindo da salinha.
A cabo Nelson veio até mim, e perguntou o que havia acontecido pra ela ter ido embora daquele jeito, mas eu preferi não comentar sobre aquilo agora com ela, e lhe pedi que me aguardasse ali, para que eu pudesse falar a sós com a Leigh por um momento. Ela concordou e eu então me dirigi ao interior do centro hospitalar, rumo à UTI.
E assim que entro no leito dela, a encontro soluçando baixinho, e parecendo estar chorando, mas ela disfarça rapidamente ao me ver ali parada olhando pra ela, e dá um sorriso fraco pra mim, falando:
- Oi, Perrie. Eu... Tô esperando a Jade, ela foi beber uma água e já deve estar voltando.
Não... Eu não acredito que vou ser obrigada a falar isso pra ela, vendo ela desse jeito. Eu tô sentindo uma dor tão grande e profunda dentro de mim por apenas pensar possibilidade de fazer ela chorar de novo,que...
- Perrie? - Ela me chama, e eu olho pra ela - Aconteceu alguma coisa? Que cara é essa?
[No dia seguinte, 11:27 da manhã]
Jade narrando:
Eu estava tentando parecer brava, muito brava. Andando pra lá e pra cá dentro do leito dela enquanto lhe dizia todas aquelas palavras, lhe acusando e tentando fazê-la ficar com ainda mais raiva de mim. Ela já estava triste comigo depois do que eu fiz ontem, e agora eu só queria reforçar ainda mais esse sentimento, porque só assim ela vai conseguir me esquecer mais rápido, só assim vai ser menos doloroso pra nós duas o que eu tô prestes a fazer com o nosso casamento.
- Chega, eu... Eu só não quero mais brigar Jade, por favor. - Ela fala de repente, e eu paro de andar, olhando pra ela e vendo que seus olhos agora estavam marejados. Droga, não faz isso comigo Leigh-Anne. Desviei meu olhar pra baixo e respirei fundo, tomando coragem pra continuar nossa discussão, eu precisava fazer isso, eu preciso.
- Não seja ridícula, Leigh-Anne! Pára de chorar, pára de se fazer de vítima, essa sua ceninha não vai me convencer!
Ela soluçou, e eu a olhei rapidamente vendo que ela parecia querer levantar naquele exato momento pra me abraçar ou qualquer coisa, mas como não podia, ela apenas estava sentada com o corpo inclinado pra frente na cama, com os olhos suplicando que eu fosse até ela, mas eu não posso. Não posso de jeito nenhum, senão eu não vou mais largar ela dos meus braços e vou chorar rios de lágrimas igual eu fiz ontem. Então ela vai perceber que eu não quero fazer nada disso que eu tô fazendo agora, brigando e discutindo feito uma louca, ciumenta possessiva, fria e insensível. Senti meus olhos queimarem e as lágrimas começarem a querer sair, mas eu me segurei ao máximo e engoli o choro, voltando a andar e olhando pro chão.
- Jade? Jade, por favor... Eu, eu não tô mentindo, eu te amo... Eu jamais trairia você com ninguém nesse...
- Cala a boca, Leigh-Anne! - Quase gritei em desespero, interrompendo a frase embargada de choro dela. Eu me odeio tanto por isso, eu nunca vou me perdoar por estar fazendo isso com ela, nunca. Mas eu preciso ter forças pra continuar de qualquer maneira - Como eu pude ser tão tola, me casando com alguém como você? Como eu pude me enganar tanto com você? Claro que você mentiu pra mim esse tempo inteiro, você nunca me amou, você me traiu, você ainda me trai!
- Não Jade, não... - Ela sussurra fraco, parecendo sem forças pra continuar discutindo mais.
- Sim Leigh-Anne, sim... - Suspirei parando de andar e encarando minha esposa olho no olho, bem na frente da cama dela - Eu não suporto mais ver você me tratando dessa maneira! Não suporto mais viver sozinha naquele apartamento enquanto você deve ficar aqui se esfregando com todas as mulheres e todos os homens desse navio! Você é suja! Você não presta! E eu... eu não quero mais isso pra mim Leigh-Anne, já chega, basta!
Seu olhar vazio e inundado em lágrimas estava vidrado ao meu agora, então eu segurei novamente a minha vontade de chorar a vendo daquela maneira, e a encarei tentando parecer decidida. E logo nossa conexão que sempre foi tão forte, dispensando qualquer tipo de palavra, bastava apenas um olhar, denunciou o que estava se passando por minha mente naquele momento. Leigh balançou a cabeça negando o que eu estava prestes a falar, ela já sabia.
Então ela abaixou a cabeça e apertou os olhos com força, deixando as lágrimas descerem intensamente por sua face, e meu coração formou um nó enquanto eu voltava a abrir minha boca lentamente e pronunciava as palavras que dariam um fim à todos os nossos planos de um futuro juntas, à tudo que nós construímos em três anos de relacionamento, à nossa família, que apesar de ser pequena, ainda era uma família, com ela, eu e nosso cãozinho Harvey, mas agora, agora acabou tudo. Acabou. Eu sinto muito meu amor, eu te amo, sempre vou te amar, mas eu não tenho escolha, eu estou sendo ameaçada, eu posso ser presa. Então é melhor que seja assim. Espero que um dia você consiga me perdoar por isso:
- Eu quero o nosso divórcio, Leigh-Anne.
