Perrie narrando:
Verifiquei o raio-x e o exame de imagem do joelho da sargenta Pinnock, dentre os vários papéis com exames dela e de outros dois pacientes que estavam sob meus cuidados aqui na UTI.
O canivete que perfurou o joelho dela atingiu uma artéria importante, e por isso ela havia perdido tanto sangue e também desmaiado, além dela ter fraturado o osso de ligamento do joelho e estar com uma inflamação no tecido interno da perna.
Seus hematomas pelo rosto e pelo corpo, não foram de muita gravidade felizmente, apenas causaram inchaços e marcas roxas que em pouco tempo irão desaparecer, usando pomadas e também com ela tomando todos os medicamentos certos. Que eu mesma já tratei de receitar para ela.
Por sorte aqui nesse centro médico do navio temos equipamentos bem avançados e que irão ajudar e muito nesse tratamento dela que pode ser um pouco longo.
Tomei a responsabilidade de cuidar dela assim que cheguei a esse navio e descobri tudo que ela fez contra os rebeldes. É uma grande responsabilidade pra mim, com certeza, mas eu me sinto preparada pra isso. Vai ser um ponto alto em toda minha carreira de enfermeira, e não importa quanto tempo leve para isso, eu estou disposta a anular todos os meus compromissos dentro e fora do exército nas próximas semanas até que eu possa ver essa mulher completamente recuperada.
- E então enfermeira? Mais algum prognóstico sobre seus pacientes? - Doutora Kingsley, médica responsável pelo setor de UTI do centro hospitalar, questionou enquanto eu estava concentrada em anotar os resultados dos exames de meu outro paciente, o cabo Conner, dormindo pesadamente na cama hospitalar ao meu lado.
- Não senhora, todos os quadros permanecem instáveis. - Falei, aquela que eu acho ter sido a quinta vez somente hoje que ela me perguntava a mesma coisa.
Eram comuns esses tipos de procedimentos em um hospital, então eu já estava acostumada. Porém pelo fato de haver muitos pacientes feridos e os ânimos ainda estarem aflorados após um dia do atentado, a pressão era ainda maior por parte dela e de todos dentro desse navio.
- Certo, qualquer coisa me procure. - Ela falou olhando rapidamente pro meu paciente dormindo.
- Pois não, senhora. - Falei acenando brevemente com a cabeça para ela.
Então ela se retirou do leito e fechou a cortina que dava acesso ao enorme corredor com outros leitos todos ocupados por pacientes internados na UTI.
Respirei fundo e ajeitei meus óculos de leitura nos olhos, começando então a escrever um resumo em relatório de todos os exames dos meus pacientes, pra assim ter uma informação mais completa e rápida para dar aos seus familiares daqui a pouco, no horário de visitas.
Minutos depois eu terminei os relatórios e deixei o leito do cabo Conner. Vi no horário do relógio em meu pulso que já estava quase marcando 16:00 da tarde, o horário marcado pra visitas aqui da UTI. Então eu tratei de ir direto para a recepção, pois seria eu quem receberia e levaria os visitantes até os meus três pacientes.
...
- Adivinha quem está aqui pra lhe ver... - Cantarolei assim que entrei no último leito do corredor.
A sargenta logo abriu um enorme sorriso, e arrastou-se um pouco para trás na cama até conseguir ficar sentada sobre ela.
- Jade!! - Ela exclamou empolgada. Confesso que me surpreendeu bastante vê-la assim pela primeira vez desde que a conheci ontem, até agora não tinha a visto demonstrar nenhum tipo de animação com absolutamente nada, em alguns momentos foi até um pouco fria comigo mesmo eu tentando sempre descontrair e interagir com ela, como normalmente faço com qualquer paciente meu.
- Olá. - A mulher que estava logo atrás de mim falou chegando ao meu lado. A sargenta parou de sorrir no mesmo instante olhando aquela que se descreveu a mim como irmã dela.
- Sairah? - A sargenta falou quase pra si mesma, parecia não estar acreditando no que estava vendo.
- Quanto tempo, não? - A senhora Sairah Pinnock chegou mais perto da cama. Ela vestia-se muito bem, bem elegante, usando salto alto e roupas sociais, parecia que era uma empresária ou executiva, talvez. E sua postura séria me lembrava bastante à da própria sargenta Pinnock, elas duas eram muito parecidas fisicamente, até pareciam gêmeas.
- Bem eu irei me retirar para deixa-las mais a vontade. - Falei olhando para minha paciente que ainda parecia estática com a presença da irmã.
- Obrigada, enfermeira. - A irmã da sargenta deu um leve sorriso olhando para mim e eu apenas acenei com a cabeça, me retirando então do leito e deixando-as sozinhas.
Voltei até a recepção onde havia deixado a outra visita da sargenta aguardando para entrar após a irmã dela. Na verdade eu não havia entendido porque a cabo Nelson não quis entrar junto com a irmã da sargenta, já que eram permitidas duas pessoas de cada vez, mas enfim, talvez a senhora Sairah só queira ter uma conversa particular com a irmã.
- E então enfermeira? Tudo bem lá dentro? - A cabo Nelson me perguntou assim que entrei na salinha onde os familiares dos pacientes aguardavam para serem levados até a UTI.
- Sim, senhora Nelson. - Respondi sorrindo um pouco confusa com sua pergunta - E por que não estaria?
- Hã? Não! Por nada. - ela riu parecendo nervosa - Nada, nada mesmo.
- Hum. - murmurei um pouco desconfiada porém preferi mudar de assunto.
Ficamos ali conversando um pouco sobre o processo de tratamento do joelho da sargenta e ela me fez várias perguntas e quis tirar algumas duvidas também, aos quais eu tive um imenso prazer em responder com minha prancheta cheia de anotações em minhas mãos. Então de repente o celular dela tocou e ela pediu licença pra mim ao atendê-lo, acenei com a cabeça pra ela e me afastei um pouco pra lhe dar a devida privacidade, mas antes pude escutar rapidamente ela dizer o nome "Jade" ao atender, então presumi que seria a esposa da sargenta Pinnock, ela já deveria estar aqui na verdade, será que ocorreu algum imprevisto?
Saí de perto dela e fui falar com as visitas dos meus outros pacientes que também aguardavam ali para poder entrar depois das duas pessoas que entraram primeiro.
Pouco tempo depois a cabo Nelson veio até mim parecendo um pouco aflita com alguma coisa e me pediu pra levar ela agora até o leito da sargenta Pinnock. Não entendi o que estava acontecendo mas preferi não questionar e pedi licença ao pai do cabo Jason, meu outro paciente, me afastei um pouco dele e falei com a cabo Nelson;
- Eu irei levar a senhora, calma, venha comigo.
- Obrigado. - Ela agradeceu e eu então comecei a conduzi-la até o interior do centro hospitalar, um lugar que era enorme por sinal e poderia deixar qualquer um perdido facilmente ali dentro, passamos pelo setor de enfermagem, lotado de pacientes, clinica medica, cirurgia e finalmente a UTI. Entramos pela porta com a placa escrito: 'entrada restrita' e eu a levei por entre o enorme corredor agora bem agitado e barulhento devido aos visitantes dentro do leito com os pacientes internados aqui.
Assim que chegamos no último leito, eu parei em frente a cortina branca que me dava acesso a ele, pois escutei algo estranho lá dentro, parecia uma discussão;
- Isso não vai ficar assim, não vai! Você vai pagar por isso!
- E o que vocês irão fazer hun?! Já não basta terem me rejeitado? Me excluirem da familia como se eu fosse uma criminosa, eu não tenho medo de você e do meu pai Sairah, eu não LIGO!
- Você é suja, uma vergonha pra nossa familia Leigh-Anne, você e aquela sua namoradinha.
- Já falei pra não falar da Jade! Ela é minha esposa e eu exijo...
Acabei entrando de uma vez no leito e interrompendo a discussão das duas. A sargenta me olhava parecendo agradecida por eu ter feito aquilo, mas a irmã dela parecia querer me matar naquele exato momento.
A cabo Nelson foi falar com a sargenta mas eu fiquei ali parada de pé encarando a Sairah. Eu não sei qual a relação que ela tem com a minha paciente, mas pelo pouco que eu ouvi antes de entrar aqui, não era uma relação nada boa. E eu não posso permitir que minha paciente passe por um estresse desses, isso pode prejudicar bastante a recuperação dela.
Sinto muito mas eu não irei permitir que essa mulher fique com a sargenta Pinnock nem por mais um segundo aqui dentro.