[Dia seguinte, sexta-feira, 7:08 da manhã]Perrie narrando:
Abri meus olhos, acordando depois de escutar meu celular vibrando no travesseiro embaixo da minha cabeça por alguns minutos até eu finalmente tirá-lo dali e desligar o alarme dele, marcado pra 7:00 da manhã.
Eu não costumo ser essa pessoa preguiçosa que ignora o toque do alarme de manhã cedo o máximo que consegue, pelo contrário, se tratando de um trabalho como o meu, em que havia pessoas realmente precisando de mim e dependendo totalmente da minha presença pra basicamente tudo, a pontualidade pra mim era primordial.
Mas a culpa dessa minha preguiça e das prováveis olheiras em meus olhos foi a falta do sono que me deixou acordada por quase toda a madrugada, e o motivo dessa minha insônia era algo, ou melhor... Alguem, que não deveria estar tão presente assim nos meus pensamentos como estava sendo ultimamente. Mas ela estava muito presente, muito mesmo, principalmente depois do que ela fez ontem de noite, me chamando por meu primeiro nome e me autorizando a chama-la pelo dela também.
Eu não consegui dormir porque eu estava tentando compreender a dimensão do que eu estava sentindo, e ao mesmo tempo eu não queria descobrir de fato o que era aquele sentimento, porque eu simplesmente não posso senti-lo. Não posso. Vai contra todos os meus princípios como enfermeira, e principalmente vai contra todos os meus valores como ser humano também. Ela é casada, e eu sou apenas a pessoa responsável por cuidar dela, nada mais.
Então eu preciso parar de sentir isso, porque é errado.
Muito, muito errado.
...
Entrei no leito dela após verificar como estavam meus dois outros pacientes, e vi que ela ainda estava dormindo, seu semblante parecia tão calmo e relaxado que eu até tive pena de ter que acorda-la para lhe dar o café da manhã e também os medicamentos necessários à recuperação do ferimento no joelho dela.
Fui andando lentamente até o lado direito de sua cama, e observei-na mais de perto. Percebendo sua respiração lenta de repente começar a ficar acelerada, olhei pra telinha que mostrava seus batimentos cardíacos e vi eles subindo rapidamente de 95 pra 110, 122, 135, 150...
Entrei em desespero e olhei novamente pra ela, vendo que ela estava começando a se debater, fazendo uma expressão de dor e sussurrando ainda com os olhos fechados:
- Não... Por favor, Jade! Não! Jade? JADE?
Ela gritou de repente o nome da esposa e eu tive que segurá-la pra tentar acalma-la e falei tentando fazê-la acordar daquilo que imaginei ser apenas um pesadelo.
- Leigh? Leigh, acorda! É só um pesadelo! Abre os olhos, olha, sou eu... a Perrie.
Ela começou a abrir os olhos devagar e então eu sorri pra ela e segurei em sua mão repousada sobre a cama, pra fazê-la perceber que eu estava ali com ela mesmo, e seu pesadelo tinha acabado. Assim eu notei que sua respiração e seus batimentos cardíacos estavam voltando à normalidade lentamente, e eu sorri ainda mais pra ela.
- Perrie? - Ela sussurrou, com a voz fraca e rouca de sono.
- Oi... - Respondi num tom de baixo e calmo, segurando ainda mais firme em sua mão.
- Perrie, a, a Jade... - Ela sussurra parecendo ainda um pouco transtornada depois de acordar de seu pesadelo - A Jade...
- O que houve com a sua esposa sar... Digo, Leigh? - eu ainda tava me acostumando a chamá-la pelo nome, então quase agi por impulso a chamando de sargenta como antes, e ela, percebendo isso, surpreendentemente sorriu para mim após eu lhe fazer aquela pergunta.