Capítulo 16 - Tempo

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Perrie narrando:

- Eu não consigo, eu não posso, eu não posso... - digo sozinha andando de um lado pro outro dentro da minha cabine no dormitório. Passo a mão na cabeça e sento na cama da Ellie, encarando a minha mochila aberta em cima da minha cama, bem ali na minha frente - Eu não posso mais continuar assim, sentindo tudo isso por ela sem fazer nada... Eu vou enlouquecer.
Passo as mãos com força em meu rosto, abaixando a cabeça e olhando pro chão desesperada, sem saber o que fazer agora. Nos últimos dias eu venho tentando me conter e apoiar a Leigh o máximo que eu posso devido a ela ainda estar fragilizada pelo término do casamento dela, mas o fato da gente ter se aproximado tanto só fez piorar a minha tentativa de parar de gostar dela.

Eu ontem fiquei depois do horário lá com ela em seu leito, conversando e a distraindo pelo fato dela ter tido uma tarde difícil assinando os papéis do divórcio que o advogado da ex mulher dela veio trazer, então eu só queria que ela não pensasse naquilo, que ficasse feliz e não voltasse a chorar lembrando da Jade. Mas acontece que fazendo isso, eu e ela acabamos nos abraçando em despedida no final de uma longa e descontraída conversa, e depois que eu me separei dela, nosso rostos se arrastaram lentamente um contra o outro, e eu olhei em seus olhos mas não consegui evitar de encarar sem querer os lábios dela também, e nós ficamos assim por alguns segundos até ela dar uma risada sem graça e declarar que estava com sono, deitando rapidamente pra dormir. E eu fiquei quase vermelha de tanta vergonha, e me despedi dela rapidamente também e andei quase correndo pra fora do leito dela.

E bem, depois disso, eu mal consegui dormir óbvio, e no dia seguinte, ou melhor, hoje eu não consegui voltar a falar com ela como se nada tivesse acontecido, eu ainda tava muito abalada por aqueles sentimentos então preferi apenas fazer o meu trabalho com ela e evitar ter conversas mais íntimas porque isso só iria piorar o meu estado. E agora eu tô aqui, feito uma covarde, escondida nessa cabine, pra ficar longe dela, mas mentindo pra todos dizendo que eu me sentindo mal, eu não tô sentindo nada, aliás eu tô sim, eu tô sentindo tudo!

Eu tô ficando louca, eu não consigo mais dormir direito, eu tento agir naturalmente na frente da mulher que eu não paro de pensar um segundo sequer, tento ser uma amiga pra ela, ser uma enfermeira dedicada pra cuidar bem dela, uma pessoa em que ela possa confiar, em que ela possa desabafar, chorar e abraçar quando quiser mas eu fico com o coração a mil por dentro toda vez que ela encosta o corpo dela no meu, eu fico arrepiada quando ela olha pra mim sorrindo, eu fico sem chão só de imaginar ver ela chorando, eu... Eu tô completamente apaixonada por ela.

- Só tem um jeito... - digo pra mim mesma, depois de um longo tempo refletindo e encarando a minha mochila com todos os meus pertences de enfermeira que eu trouxe da base do exército aqui pro navio; algumas roupas, produtos básicos de limpeza, celular, algum dinheiro e enfim, o estritamente necessário. - Talvez eu só precise disso mesmo... - dou uma risada fraca e sem emoção, pegando minha mochila e rapidamente procurando minha carteira e o celular - Hoje é sexta-feira, não vai fazer mal dar uma volta por aí um pouco, beber em qualquer barzinho sozinha, sem mais ninguém só eu e eu. Ficar longe desse navio e sem pensar nela por algumas horas, isso talvez me ajude a superar e conseguir voltar a trabalhar normalmente amanhã, sendo uma enfermeira comportada e super amiga dela, que não pensa em coisas maliciosas quando olha pra boca dela ou quando a vê completamente nua... me sinto tão podre.

Minutos depois eu já tinha tomado um banho e me arrumado de maneira bem básica, sem maquiagem nem nada, só usando uma calça jeans e uma regata preta simples, cabelo solto pra receber um pouco de ar já que ele só vivia preso num coque bem armado por mim todos os dias de manhã antes de iniciar meu trabalho como enfermeira nesse navio.

Assim, eu saí do navio eram quase 21:30 da noite, pretendia retornar antes de meia noite. Então não vi a necessidade de comunicar a ninguém sobre minha saída, só queria espairecer mesmo.

Caminhei tranquilamente pelas ruas saindo da base da marinha, eu não conhecia muito bem aquela região então não quis ir muito longe. Tinha alguns bares por ali e dentre eles um que me chamou atenção, seu nome era "Secret Love Song". Eu entrei nele e vi que era um lugar até agradável, não tava muito cheio apesar de ser sexta-feira, então resolvi começar os trabalhos e fui direto até o balcão pedir uma bebida ao atendente.

E minutos depois eu tava bebendo uma cerveja, sentada solitária num banquinho alto perto do balcão do bar, distraída curtindo o som da música que tocava agora ali dentro. E eu vi uma pessoa dançando sozinha entre algumas pessoas ali não muito longe de mim. Demorei um pouco pra reconhecê-la pois ela tava bem diferente da última vez que eu vi ela, suas roupas, seu cabelo, maquiagem, sua expressão de felicidade e a forma desinibida que ela estava dançando, definitivamente não parecia a mulher que foi visitar a Leigh a cinco dias atrás e terminar o casamento delas por puro ciúmes e falta de confiança na mulher com quem casou.

Jade não parecia ter percebido minha presença, aliás ela não parecia estar se importando muito com nada, só queria dançar e cantar, segurando uma garrafa de vodka na mão, parecendo já estar muito bêbada pra ligar pra alguém que viesse a tocar nela de maneira imprópria, como eu percebi uns dois rapazes fazendo enquanto dançavam em volta dela. Mas eu não ia ficar ali sem fazer nada vendo aquele assédio imundo acontecer na minha frente, e deixei minha garrafinha de cerveja em cima do balcão e fui até ela, afastando os dois homens de perto dela e falando de forma bem firme e ameaçadora pra eles:

- Saiam de perto dela agora, saiam! Ela está bêbada, seus pervertidos nojentos! Jade, vem aqui fica perto de mim. - peguei ela pelo braço e a coloquei do meu lado mas ela começou a rir e se separou de mim falando com a voz arrastada e confusa:

- Sai daqui... quem é você hein?

- Perrie, a enfermeira da sua ex mulher. - Respondi a encarando seriamente enquanto ela ria de mim sem parar e dava um novo gole na garrafa de vodka em sua mão, melando sua boca e borrando ainda mais seu batom vermelho. Ela estava definitivamente fora de si - Me dá isso aqui, Jade. - falei tentando pegar a garrafa da mão dela mas ela desviou rapidamente de mim.

- Não... Ninguém tira essa garrafa da minha mão... - ela fala ainda mais arrastada nas palavras, então começa a dançar sorrindo a toa, mas de repente ela se desequilibra e quase cai no chão sozinha, mas eu seguro ela, a pondo de pé novamente - Me larga, eu... Eu não quero te dar... Minha vodka, que saco! - ela diz se escorando em mim, sem eu nem encostar nela, então do nada ela me abraça e começa a chorar falando tudo ainda mais embolado - Foi aqui que eu... Eu conheci a mulher da minha vida... A gente, a gente dançou juntas... Ela não me beijou... Eu queria tanto beijar ela, mas... Ela sorriu e... Ela me pediu o número de telefone... Eu achei que... Ela não fosse, ela não fosse ligar pra mim... Mas ela, ela me ligou no dia seguinte... A gente saiu, saiu várias vezes juntas, e depois a gente... Começou a... Namorar e depois ela... Me pediu em casamento, a gente se casou e eu agora estraguei... Tudo...eu terminei com ela por... Por causa da minha burrice... Eu não, não devia ter... Ter ido falar com o... O maldito do pai dela e... - Jade de repente parou de falar e soluçou começando a chorar muito me abraçando, eu ainda tava muito confusa após ouvir as palavras dela mas mesmo assim a abracei também, acariciando suas costas. E depois de um tempo naquele abraço, eu levei ela pra pra fora do bar e chamei um táxi pra levar ela pra casa.

Depois daquelas coisas que ela me falou dentro do bar, ela não falou mais nada, só ficou chorando e se lamentando baixinho pela sua separação com Leigh. Eu também evitei falar muito com ela dentro do táxi, apenas fiquei a observando e tentando entender tudo aquilo acontecendo.

Mas ao que me parece, Jade não queria se separar da Leigh, e o fato dela ter feito isso, tinha algo relacionado ao pai da Leigh. Só que eu ainda não entendo o que ele poderia ter feito de tão grave assim pra poder interferir no seu pedido de divórcio para a Leigh. Algo não está se encaixando nessa história, mas... O que será  esse algo?

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