Capítulo 5 - Culpa

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Jade narrando:

De repente uma chuva de repórteres de TV, jornalistas e fotógrafos estavam na porta do nosso apartamento. Eu mal tive tempo de comemorar e agradecer aos céus pela notícia maravilhosa de que minha mulher estava viva e sem correr risco de vida, que os noticiários começaram a dar também uma ficha completa da vida pessoal e profissional da mais nova heroína do povo, Leigh-Anne Pinnock.

Eu, minha mãe e Dani mal conseguiamos acreditar todas as vezes que víamos e ouviamos as reportagens na TV mostrando imagens da Leigh e até minhas com ela, falando nossos nomes completos e sobre o fato de sermos casadas.

- "Fale mais sobre sua esposa senhora Pinnock, queremos saber tudo."

- "Como vocês se conheceram, senhora Pinnock?"

- "É verdade que os pais dela não tem uma boa relação com a senhora?"

- "Vocês pensam em ter filhos?"

- "A quanto tempo estão juntas?"

Foram essas e outras milhares de perguntas que os repórteres me fizeram, porém eu não consegui responder a todas elas porque, além de eu ser extremamente tímida, também não queria expor tanto assim a minha vida pessoal e a de minha esposa, até porque alguns deles faziam perguntas bem inconvenientes.

Já era quase dez horas da noite, e eu finalmente tive uma trégua tanto do telefone, como da campainha tocando, com mais alguem da mídia querendo informações. Até agora não sei como eles descobriram o nosso endereço e o meu número de telefone.

- Que loucura hein amiga?! - Danielle comentou divertida sentada no sofá da sala de estar, enquanto acariciava o cãozinho que Leigh me presenteou assim que nos mudamos pra esse apartamento, o nome dele era Harvey. O pug mais fofo desse mundo.

- Nossa, nem me fale. - Me joguei exausta ao lado dela e mamãe logo nos chamou da cozinha, avisando que já estava pronto o jantar. Eu estava faminta sim mas ainda não iria comer agora pois havia lembrado que o celular de Leigh estava desligado das ultimas vezes que liguei pra ela, mas agora talvez ela já pudesse atender, então tentei mais uma vez, e liguei.

Chamou uma, duas, três, quatro vezes. E quando eu já estava desistindo e deixando pra ligar amanhã, alguém atendeu do outro lado da linha:

- Alô? - Uma voz familiar soou em meu ouvido, mas tinha certeza que não era a de Leigh-Anne.

- Alô... Quem tá falando? - Perguntei confusa, levantando novamente do sofá.

- É a Jesy, lembra de mim Jade?

- Ah... Oi Jesy, claro que lembro. - dou uma risada sem graça - Como você esta? Tudo bem?

- Acho que sim, na medida do possível, não é? Ainda to um pouco triste pelos meus colegas que morreram depois desse ataque dos rebeldes desgraçados, mas feliz por ter feito parte da nossa vitória sobre eles ao lado da sargenta, ela foi a maior responsável por tudo na verdade. Foi uma grande líder pra mim e os outros cabos, nossa sargenta foi brava, valente, heróica de verdade.

Jesy parecia bastante orgulhosa ao dizer aquelas palavras sobre Leigh, e eu também estava sem dúvida, esse era mais um dos motivos que estava me deixando tão ansiosa pra falar com minha esposa na verdade.

- Pois então Jesy, ela está aí com você? Eu posso falar com ela?

- Então Jade... - ela fez uma pausa dramática e depois continuou - A Leigh na UTI do setor hospitalar tendo acompanhamento maior dos médicos por causa do joelho dela...

- O que aconteceu com o joelho dela?? - Perguntei desesperada, cortando a explicação de Jesy.

- Calma. Calma Jade, ela vai ficar bem, não se preocupe. A enfermeira que cuidando dela me garantiu isso. Mas fato é que ela não pode atender celular na UTI, então eu vou ficar com o celular dela por enquanto, ela mesma me pediu pra fazer isso. E também mandou te dizer que... - Jesy fez outra pausa, parecendo com vergonha de falar dessa vez - Ela te ama.

Senti meu chão desmoronar ao ouvir aquilo. Lembro de ter brigado com ela por telefone pouco antes desse atentado, lembro dela se despedir de mim dizendo que me amava e eu sequer respondi nada, apenas desliguei porque fiquei brava por ela estar sempre tendo que trabalhar feito uma escrava naquele navio, e nunca poder conversar comigo direito.

- Eu... Eu agradeço Jesy. - Falei quase sem voz, tamanha a tristeza que eu estava sentindo agora - Amanhã eu vou estar aí pra poder falar com ela, pessoalmente. Você sabe o horário de visitas?

- Não. Mas eu pergunto e depois mando pra você por mensagem.

- Muito obrigado. Até amanhã então Jesy.

- Fica bem Jade. Até amanhã.

Desliguei a ligação e olhei pra minha mãe e Dani, que estavam me assistindo a todo momento durante a ligação. Senti vontade de chorar novamente, mas dessa vez era pela culpa de não ter dito, quando tive a oportunidade de dizer, o quanto eu amava aquela mulher que eu tanto amo, e que me ama muito também, apesar de nossas brigas, e da minha falta de compreensão e de apoio ao trabalho dela.

[No dia seguinte]

Entrei às 8:00 horas da manhã no prédio da Gard's Interprise, uma empresa de construção e imobiliária que fica no centro de Londres, meu local de trabalho à cerca de dois anos. Meu trabalho como contadora lá dentro era bastante valorizado, e eu recebia bem por ele. Então estava bastante contente e feliz exercendo minha profissão naquele lugar, apesar de saber que estar ali era mais um motivo pra meus sogros não gostarem de mim, já que a família da Leigh é dona de uma das maiores empresas concorrentes da empresa que eu trabalho.

Como eu já esperava porém não queria de jeito nenhum que acontecesse, todos dentro da empresa já sabiam e comentavam entre si por onde eu passava sobre eu ser a esposa da sargenta que salvou o navio da marinha. O pior é que alguns deles antes sequer notavam minha existência, mas agora só faltavam me pedir um autógrafo. O que soava até divertido pra mim, confesso.

Quando o relógio marcou 15:00 da tarde, eu comecei a guardar rapidamente todos os meus pertences em cima da mesa de trabalho, desliguei o computador e tirei os óculos de pouco grau que usava apenas dentro do meu escritório. Saí da sala e corri pra pegar o elevador que já ia descendo, cheguei ao térreo e corri mais uma vez pra chegar ao meu carro estacionado numa vaga na frente do prédio.

Destravei ele e entrei jogando minha bolsa e uma pasta de documentos com planilhas da empresa no banco de carona, enquanto fechava a porta e já dava a partida no carro, colocando o cinto de segurança por último.

- Tá legal, vai dar tempo, vai dar tempo, calma Jade, calma. - Falei respirando fundo várias vezes enquanto olhava rapidamente o horário no painel eletrônico do carro, e tentava manter a calma vendo um paredão de veículos parados na minha frente - Droga, não vai dar tempo, não vai dar tempo.

A base naval da marinha ficava à quase uma hora de distância dali, sem trânsito, mas hoje era meio da semana, horário de pico, então isso poderia levar o dobro do tempo facilmente.

Será que eles irão me impedir de falar com a minha esposa depois do horário de visitas? Porque com certeza não vou chegar às 16:00 horas naquele navio.

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