Miguel me esperava na cafeteria, como sempre costumava fazer.
- Oi princesa!- Ele veio me beijar, mas me afastei- O que foi?
- Miguel, eu já te disse que precisamos ir devagar com isso, ainda mais em respeito à Miranda.
— Ela não tá vendo a gente.
— Era pra ser uma piada? Porque é de muito mau gosto.
— Me desculpa.
— De qualquer forma, precisamos tomar cuidado. A Miranda já sabe da nossa tentativa de aproximação.
— Como ela descobriu?
— Eu realmente aposto no seu irmão, mas não quero me precipitar.
— O que o Felipe ganharia com isso?
— Não sei mas, honestamente, o seu irmão não me transmite verdade.
— Precisaremos ser mais discretos?
— Eu acho que sim. E para todo mundo, até os mais próximos, vamos fingir que desistimos de tentar.
— Vai ser difícil, mas eu vou fazer um esforço. — Ele sorriu e veio me dar um beijo, mas virei a bochecha. Sorri, me levantei, e saí.
...
Naquela noite, fui para a casa que minha família tinha na cidade, acompanhada pela Karla. Pegamos meu carro e seguimos até um bairro residencial onde ficava a quinta casa da rua: rodeada por muros, mas com a porta de entrada em Blindex, com garagem e um jardim no primeiro andar, além de uma área onde, todos os anos, eram comemorados os aniversários da minha mãe. Passamos por essa área e subimos por uma escada branca de pedras, relativamente curta, até que demos de frente com uma porta de madeira trabalhada. Abri. Passamos por uma luxuosa sala de estar, onde subimos por uma escada que a dividida da também luxuosa sala de jantar. Assim, chegamos a um corredor no terceiro andar, onde ficavam os quartos. Abri a porta e entrei no meu.
- Faz muito tempo que você não vem aqui?- Karla perguntou.
- Algum, mas não tanto. Vinha pra cá nas férias, só não ia pra fazenda.
- Você tá com uma carinha triste...
- Não é nada.
- Fez o que tinha que fazer, não foi?
- Sim, duvido muito que a gente volte, mas não quero ser a responsável pela morte da Miranda.
- Todos nós sabemos que ceder a todos os caprichos dela não é a melhor maneira, mas acredito que, por cauda dessa situação difícil que ela tá vivendo, seja a melhor opção.
- Eu vou tomar um banho pra relaxar e não pensar no Miguel. Eu preciso tirar Miguel Fernandes da minha cabeça de uma vez por todas porque me envolver com ele só tem me trazido sofrimento.
Entrei no banheiro e lá comecei a refletir: era estranho que aquelas palavras saíssem da minha boca com tanta naturalidade e que eu conseguisse fingir amar e odiar o Miguel ao mesmo tempo. A vingança tinha me corrompido completamente por dentro, e enquanto Fernando Fernandes não pagasse pelo que fez, eu não poderia viver em paz.
...
No dia seguinte, voltei para o hospital e, pela próxima semana quando se seguiu, fomos discretos, ao mesmo tempo que eu me fazia de difícil. Miranda estava se recuperando cada vez mais no que se referia às pernas, que ela agora já sentia. O que ainda preocupava Luiz era a questão da visão, que parecia continuar da mesma forma.
Naquela tarde, como fazia sempre, Juliano foi até o quarto de Miranda visitá -la depois da fisioterapia.
- Oie!!- Ele bateu na porta e entrou.
- Oi Juliano! Tudo bem com você?
- Tudo ótimo! E você? Tá melhor?
- As pernas estão cada dia respondendo mais aos meus comandos. Já os olhos...
- Vão melhorar. Pode ter certeza disso. Hoje vai ser literalmente uma visita de médico. Tenho uma cirurgia daqui a pouco e só vim te dar um abraço.
- Bom saber que faz tudo o que pode pra pelo menos me dar um abraço. Já a minha mãe...
- É o jeito dela. Te garanto que está tão preocupada quanto eu.
- Espero que esteja certo. Porque ela nunca se preocupou em saber o que eu estava sentindo, que problemas eu estava tendo... Sempre achou que era drama.
- Olha, você realmente deveria ser um pouco menos dramática com algumas coisas, assim as pessoas te levariam mais a sério.
- Não sou dramática!
- Às vezes você é um pouquinho sim, e eu te recomendo que evite um pouquinho, assim as pessoas vão dar atenção pros problemas reais que você tem, como esses que tem atualmente. Agora eu já vou, foi bom saber que está melhor.- Ele a abraçou e entregou a ela uma rosa amarela- Sei que você não pode ver, mas é uma rosa amarela. Pode sentir o cheiro e pensar em mim quando eu não puder vir. Assim vai ser como se eu estivesse ao seu lado o tempo inteiro.
- Obrigada mesmo! Não sei o que faria se você não estivesse aqui. Não sei porque faz tudo isso por mim, mas muito obrigada! É a pessoa mais fantástica que já conheci. Nunca me pediu nada em troca, gosta de mim e oferece a sua companhia de graça. Isso não tem preço Juliano.- Ela o abraçou e sorriu.
- Você merece. Não tem o coração tão ruim quanto dizem que tem. Agora eu já vou, até amanhã.
-Até.- Sorriu.
Juliano fechou porta e Miranda ficou passando a mão pela rosa, mirando os olhos nela para tentar enxergar nem que fosse um vulto. E foi o que ela conseguiu: após um longo tempo, viu algo que parecia o vulto da planta.
- Eu tô imaginando coisas...- Falou sozinha- Melhor ir dormir.- Deixou a rosa em cima da mesa de cabeceira e dormiu.
...
Naquele fim de tarde, eu estava no jardim do hospital quando Miguel chegou por trás e tocou meu ombro.
- Aqui não. - Falei, sem muita paciência.
- Eu preciso estar perto de você, não aguento mais ser discreto.
— Se a Miranda sabe de nós dois é porque alguém está contando. Vai mesmo correr o risco de colocar tudo a perder, simplesmente porque não consegue ficar longe de mim por alguns dias? — Eu definitivamente estava sem paciência.
— Quando você ficou tão seca comigo?
— Só estou pensando na minha irmã, que é o que realmente importa nesse momento. Se quisermos um momento a sós, precisa ser longe daqui.
-
Pensei no mesmo. Me encontre amanhã às quatro da tarde na casa da árvore.
- O que tem lá?
- Vai. Só vai. Verá quando chegar. Aliás, temos que terminar de construir.
- Não é por isso, não é verdade?
- Sabe que não. Se ainda acha que podemos ter um futuro, me encontre lá. Caso contrario, eu vou entender que terminamos pra sempre.
Ele me deu um beijo na bochecha e saiu.
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Apesar Da Vingança
RomanceCONCLUÍDO "Porque apesar da vingança, eu me apaixonei pelo filho do homem que destruiu meus sonhos." Olá. Me chamo Maria. Nessa história, vou lhe contar como meu mundo perfeito desmoronou, me transformando em uma mulher fria e vingativa. Depois de m...