XXXII_Já era hora

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Karla e Manoel chegaram em casa ao mesmo tempo que uma forte chuva desabou.

— Eu já tava preocupada!— Falei logo que eles entraram em casa, já um pouco molhados— Onde vocês estavam?

— O Manoel tava me levando pra conhecer uns lugares da fazenda.

— Uns lugares que eu nem conhecia, devo admitir.— Ele falou— Mas na verdade o objetivo era encontrar vocês, só que não conseguimos.

— A gente tava na casa da árvore e na cachoeira.— Falei, torcendo pra que não tivessem nos visto, mas Karla sorriu como quem guarda um segredo.

— Então acho que nos desencontramos.— Ela sorriu tentando disfarçar.

— Mas falando sério, o lugar que a Karla e eu encontramos hoje é simplesmente fantástico, não sei como nunca vimos antes.

— Essa fazenda sempre reserva surpresas._—Miguel chegou atrás de mim e me abraçou pela cintura.

— E nós temos uma surpresa muito legal.— Falei sorrindo— Na verdade uma notícia, ou melhor, um convite.

— Desembucha logo mana!

— Vou falar agora, aproveitando que a Miranda não tá aqui. Vamos pra varanda.— Fomos até a varanda e nos sentamos, apreciando a chuva— Então, a notícia é que o Miguel me pediu em casamento.

— Agora tudo faz sentido.— A ideia de Karla era sussurrar, mas aquelas palavras saíram altas demais e ela tentou rapidamente disfarçou— Parabéns pros noivos!

— Só não dei a aliança porque decidi de última hora.— Miguel se justificou enquanto Manoel me abraçava.

— E já têm data para o casamento?

— Por enquanto só queremos fazer a cerimônia no civil— Falei—, e depois que tudo se acalmar com a Miranda, faremos na igreja. Por enquanto só queremos nos casar porque Miguel e eu não estamos muito confiantes no namoro da Miranda com o Felipe e temos medo dos planos deles.

— Não estamos armando nada para estragar a felicidade de vocês, aliás pouco me importa o que fazem ou deixam de fazer com essa vidinha medíocre que têm.— Um relâmpago iluminou o rosto de Miranda, que entrava na varanda_ Quando vocês vão entender que não são o centro do mundo e que as pessoas não passam o dia inteiro conspirando contra esse namoro ridículo dos dois?

— É difícil de acreditar nisso depois de todas as loucuras que já fez desde que o Miguel terminou com você.— Falei.

— Eu só desejo que sejam felizes, e que deixem que o Felipe e eu também sejamos. Não queremos destruir vocês, só queremos tentar ser felizes SEM vocês. Mas Miguel, eu te desejo sorte, porque não imagina com quem vai se casar.— Ela me encarou e eu retribuí o olhar— Agora eu já vou, sei que não sou bem vinda aqui.— Ela se virou e bateu de ombro com minha mãe, que chegava, enquanto andava rápido para dentro— E a propósito, quando quiserem um pouquinho mais de intimidade, vão pra um quarto, pro motel, pra casa na árvore ridícula que construíram, porque ninguém é obrigado a ficar vendo o que não quer.

— Que bicho mordeu aquela garota?— Minha mãe perguntou assustada.

— Ué, achei que você não vinha hoje.— Falei quando a abracei.

— Resolvi vir hoje à tarde ao invés de amanhã de manhã, mas por que a Miranda tava tão nervosa?

— Essa eu explico dona Lúcia.

— Não me chame de dona Miguel, pra você é só Lúcia senão eu me sinto velha. E vamos combinar que eu não sou.— Riu.

_—Então está bem Lúcia, a Miranda está assim porque eu acabei de pedir a Maria em casamento.

— Não estou acreditando, mas que alegria!

— Agora eu quero pedir pra senhora..._ Minha mãe olhou para ele com cara ruim— Pra você. Me concede a mão da Maria?

— É uma escolha dela Miguel, mas fico muito feliz em ter você novamente como genro. E se for pra ser definitivo, fico mais feliz ainda!— Sorriu— Mas entendo a tristeza da Miranda, vocês namoraram por muito tempo.

— Mas uma hora ela vai ter que entender que a Maria e eu vamos nos casar.

— E já estão pensando no dia?— Minha mãe perguntou.

— Por mim poderia ser amanhã!— Miguel sorriu.

— Não, acho que isso tem que ser escolha da noiva.— Karla riu— A dor de cabeça fica toda por conta dela.

— Pois é.— Concordei— Mas para o mês que vem acho que está bom, o que acha meu amor?

— Te dou um mês pra organizar tudo princesa, e daqui a exatamente um mês vamos nos casar.

— E quem vão ser os padrinhos?— Manoel perguntou.

— O convite era exatamente esse.— Falei— Manoel, Karla, queremos que vocês sejam os padrinhos. Não exatamente os padrinhos, mas as testemunhas. Mas já se preparem porque serão os padrinhos da cerimônia religiosa também.

— Vai ser uma honra.— Karla me abraçou.

— Eu vou ficar muito feliz, principalmente porque sei que você vai fazer a minha irmã feliz.— Manoel abraçou Miguel.

— Pode ficar tranquilo que eu vou fazê -la a mulher mais feliz do mundo.— Miguel olhou para mim e sorriu, e eu retribuí o sorriso.

...

— Não sei se você se incomoda com o fato de o Manu te ver transando, mas eu vou ter que concordar com a Miranda porque te salvei hoje.— Karla entrou no meu quarto emburrada.

— Mas  do jeito que você gritou agora todo mundo já tá sabendo.

— Acho que só tava faltando a sua mãe e o seu irmão, e eles só não entenderam o comentário da Miranda se forem muito burros ou inocentes.

— Me desculpa tá?

— Tô brincando tá? Tô feliz por ter te ajudado em um momento tão especial.

— E o que você fez pro Manu parar de me procurar?

— A gente encontrou uma caverna na cachoeira e fomos lá ver como era. O lugar é lindo, dá vontade de passar o dia conversando.

— Qualquer dia eu quero conhecer.

— Maria eu...

— Que foi?

— Eu quase beijei o seu irmão.

— Sério?— Sorri— Mas por que tá com essa cara triste?

— Porque eu disse pra ele que não queria tentar agora e acho que entendeu. O Manu é meu amigo e eu não me sinto bem pensando em ser mais do que isso.

— Eu te falaria aquele discurso de sempre, porque sabe que eu sempre vou apoiar vocês dois. Mas sabe, hoje eu percebo que se você não tá em paz dentro de um relacionamento não tem como ser feliz.

— Não tá feliz com o noivado?

— Aí que tá, eu tô sim. Hoje o Miguel me levou lá pra cachoeira pra me libertar de toda a dor que eu sentia pela morte do meu pai, e parece que todo o meu rancor e o desejo de vingança foram levados pela correnteza._ Segurei o colar do meu pai e o apertei contra o peito— Eu sinto que agora finalmente me libertei e vou conseguir ser feliz.

Sim, nós seríamos felizes. Já era hora de eu me libertar de tanto rancor, já era hora de Fernandes e Soares viverem em paz.

Apesar Da VingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora