XXIII_Jantar "em família"

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Já eram quase seis da tarde quando Miguel estacionou o carro na porta da minha casa.

— Te vejo às oito, acha que consegue ficar pronta?

— Tem que deixar a Miranda no passado, se quiser passar às sete, eu já vou estar pronta.— Ri.

— Então tá ótimo. Até mais tarde minha princesa.— Ele me beijou.

— Só tem uma coisa que eu tenho que te falar: eu não gosto que me chame de princesa, porque realmente não sou uma.

— Então até mais minha bruxa.— Ele sorriu e eu também. Fechei a porta do carro e ele arrancou.

Entrei em casa e fui direto para o quarto, não queria arriscar ser vista pela Miranda.

...

Miranda vestiu a roupa vermelha que havíamos comprado no dia que fomos ao shopping com a Karla e acabou de arrumar o cabelo, cuidadosamente preso para o lado e com os cachos à mostra. Mesmo com pouco equilíbrio, ela calçou um salto relativamente alto e fino, dourado, combinando com suas pulseiras e com os brincos compridos, desceu as escadas da varanda de seu quarto que davam para a piscina e saiu pela porta de serviço.

...

Antes das oito eu já estava pronta, então quando Miguel buzinou, apenas abri a porta e saí. Eu também vestia a roupa que havia comprado com a Karla no shopping, mas com o cabelo solto, apenas com duas mechas da frente trançadas e presas para trás. Os brincos eram argolas médias e prata, combinando com as pulseiras delicadas.

— Você tá linda.— Sorriu.

— Quer dizer que não sou linda no resto do tempo?

— Claro que é, mas hoje você está mais.

— Você também!

Sorri, entrei no carro e o beijei. Depois fomos para o que eu chamei de "o covil de Fernando Fernandes".

Chagando lá, Miguel pediu que eu esperasse na porta enquanto ele ia até o pai. Entrou na casa por uma pequena escada que dava para uma grande porta de madeira.

— Oi pai!— Miguel cumprimentou Fernando assim que o viu sentado no sofá.

— Oi meu filho, por que não foi buscar a sua namorada?

— Eu fui sim, ela tá esperando lá fora.

— Não, ela tá no banhei...— Antes que ele acabasse de falar, Miranda apareceu na frente do corredor que levava ao banheiro social.

— Boa noite Miguel.— Ela sorriu.

— O que tá fazendo aqui?— Ele perguntou.

— Vim visitar o meu sogrinho e desejar feliz aniversário pra ele.

— Quando você vai entender que NÓS TERMINAMOS?— Ele foi na direção dela e a segurou pelo braço.

— Quer soltar ela?— Felipe apareceu na porta— Vai buscar a sua namorada lá no carro, ao invés de ficar gritando com a minha!

— O quê?— Miguel soltou os braços de Miranda sem acreditar.

— Acha que só você pode refazer a sua vida? Pois se engana muito.— Miranda passou muito perto de Miguel, os olhos fixos nos dele— Eu também tenho esse direito e quis dar uma chance ao Felipe.

— Vocês devem estar brincando.

— Não estamos meu irmão, e inclusive te agradeço por ter deixado essa princesa pra mim. Pode deixar que eu vou cuidar dela melhor do que você cuidou.

— Agora eu que não estou entendendo nada.— Fernando parecia confuso.

— Eu vou buscar a Maria.— Miguel saiu enquanto Miranda e Felipe se beijavam.

— O que os dois estão aprontando?— Fernando perguntou.

— Nada sogrinho.— Miranda riu— Só cansamos de correr atrás de quem não nos valoriza.

...

Miguel abriu a porta do carro um pouco estressado.

— Que foi?— Perguntei.

— Vai ter uma linda surpresa.

— Que tipo de surpresa?

Ele abriu a porta e eu arregalei os olhos ao ver Miranda e Felipe abraçados.

— B-boa noite?— Gaguejei, mas tentei sorrir.

— Boa noite irmãzinha.— Miranda sorriu de volta.

— Então vocês dois estão namorando?— Fernando perguntou para Miguel e para mim.

— Estamos Papai.

— Eu trouxe para você, senhor Fernando, espero que goste.— Me aproximei dele e entreguei uma sacola de presente.

— Obrigado, mas não precisava se incomodar.— Ele abriu e ficou um pouco surpreso ao encontrar um canivete de luxo dentro da sacola.

— Todo homem precisa de um canivete, seja para se proteger ou para cortar as coisas mais facilmente.— Falei.

— Eu concordo plenamente, e muito obrigado. Maria, eu tenho uma tradição de chamar todas as namoradas dos meus filhos para conversar na primeira vez que vêm aqui, então vamos aproveitar essa grata surpresa de uma vez? Me acompanha?

— Claro.— Eu o acompanhei até seu escritório.

— Fique à vontade.— Ele abriu a porta e a fechou logo que entrei.

— Obrigada.— Ele puxou a cadeira para que eu me assentasse.

— Eu peço desculpas pelos meus modos, mas faço questão de ter essa conversa antes de me sentar à mesa com a namorada de algum dos meus filhos. Se vocês tivessem me contado mais cedo, eu teria te chamado antes e teríamos evitado a situação embaraçosa de eu te convidar para o meu escritório antes mesmo de te oferecer uma taça de vinho.

— Eu entendo sua posição defensiva. O senhor e sua família são muito importantes e influentes, é normal que se preocupe com quem entra em sua casa ou se aproxima de seus filhos.

— Você é bem mais compreensiva que sua irmã, ela se sentiu muito atacada quando comecei com as perguntas.

— E se saiu bem?

— Não e eu, inclusive, não fiz gosto do relacionamento entre Miranda e Miguel.

— E quanto a mim?

— Veremos agora. Já lhe prometo que serão perguntas simples e você tem todo o direito de se recusar a respondê-las caso não se sinta confortável. Essas são apenas perguntas de um pai preocupado com o futuro dos filhos, não um interrogatório.

— Fico feliz, porque não me saio bem sob pressão.

— Muito bem, então vamos começar, porque a comida logo estará na mesa. Maria Soares, não imaginava que te faria essa pergunta algum dia, acho que não imaginava nem que fosse te ver novamente, — Ele caminhava ao meu redor, passando os dedos pela cadeira, como um caçador analisando sua presa, fazendo com que meu corpo enrijecesse e meu coração palpitasse incontrolavelmente por alguns instantes— mas quais são as suas intenções com o Miguel? Achei que odiasse a minha família. O que aconteceu?— Ele me encarou e, ainda tensa, meus olhos se fixaram nos dele, se fixaram naqueles olhos que por tanto tempo haviam assombrado meus pesadelos.

Apesar Da VingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora