XXIV_No covil do assassino

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— Quando saí daqui eu era uma menininha, mas agora cresci e percebi que fiz muitas coisas erradas no passado.

— Realmente me acusar de assassino do seu pai não foi uma atitude muito legal.

"Matar o meu pai também não, maldito desgraçado", pensei, mas mantive minha respiração constante, tentando me manter o mais calma possível, enquanto ele continuou:

— Mas também penso que também não é uma atitude normal para uma criança. Alguém comentou alguma coisa com você que te fez pensar isso de mim?— Ele se aproximava mais e mais, a voz sussurrante e intimidadora.

— Sinceramente senhor, eu vim aqui pelo seu filho, pra comemorar o seu aniversário e passar um bom momento com as pessoas que o Miguel ama.— Me levantei e fiquei de frente para ele— Se o senhor vai querer remoer o passado ao invés de pensar que aqui na sua frente existe uma mulher que ama o seu filho, acho que devo ir embora.

— Tudo bem, não foi a minha intenção ser inconveniente. Não vamos ficar pensando no passado, não é?

— Concordo plenamente, o presente é muito mais importante... E muito melhor.— Continuei com os olhos fixos nos dele.

— Você se tornou uma mulher muito bonita, sabia?

— Obrigada.

— Seus pais também foram muito bonitos na juventude.— Ele pegou o canivete que eu havia acabado de dar e começou a mexer na lâmina— Sua mãe ainda é.

"Meu pai não, porque você o matou maldito! Como eu queria fincar esse canivete na sua garganta."

— É verdade.— Foi o único que consegui dizer— Você que mudou muito desde a última vez que o vi.

— Eu era muito jovem quando os meninos nasceram, mas agora só estou parecendo um homem.

— Não parece ter mais do que 50 anos.

— Tenho 55.

— Poxa nem parece, vejo que o tempo só lhe fez bem.— Sorri, tentando parecer o mais calma possível.

— Acho que já conversamos o suficiente, não é? Podemos voltar para junto dos outros.

— Não tem mais nada o que conversar comigo?

— Não, já vi que você é uma mulher bem diferente da menina pirracenta que saiu daqui, o que é bom. E bem diferente da mimada da sua irmã, o que é melhor.

— Isso quer dizer que eu SIRVO para o seu filho?

— É exatamente o que eu quero dizer.— Ele abriu a porta e estendeu a mão para o corredor— Me acompanha?

— Claro.— Olhei com o canto do olho para a mesa do escritório, pois Fernando tinha passado rapidamente a mão em alguns papéis dentro de uma das gavetas logo que chegamos, como se escondesse algo. É claro que em outro momento eu voltaria até aquela sala para verificar — Posso lhe fazer só mais uma pergunta?

— Claro que pode.

— Você disse que a Miranda não passou no teste pra namorada do Miguel, mas ainda assim a aceitou.

— A sua irmã sabe ser persuasiva, inconveniente e, acima de tudo, discreta quando quer.

— Quer dizer que, mesmo contra sua vontade, ela e Miguel continuaram o relacionamento?

— Sim. Digamos que o resultado dessa entrevista não é uma obrigação, mas apenas um conselho.

— Você aconselhou o Miguel a não se envolver com ela, ele não lhe deu ouvidos e você não foi capaz de destruir o relacionamento pra não magoá-los.

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