Apesar Da Vingança

XXV_Ninho de cobras

No dia seguinte, assim como Miranda havia dito, fui passar a noite na casa de Karla e seus tios, e minha irmã esperava ansiosamente pela chegada de Miguel em busca do meu diário.

Perto das 11 da noite, ela escutou leves barulhos vindos do meu quarto.

— É ele.— Pensou, e logo saiu de seu quarto em direção ao escritório, vestindo uma decotada camisola vermelha.

Alguns minutos depois ela, escondida atrás da porta do escritório com a luz apagada, viu o vulto de um homem entrar. Logo acendeu a luz e teve uma surpresa.

— Felipe?— Perguntou assustada.

— Oi linda, tá bonita com essa camisola. Mas por que tá aqui no escritório, com essa camisola, bem no dia que o meu irmão viria?

— Porque... Porque eu tô na minha casa e escutei um barulho vindo daqui.

— Excelente resposta, mas pode ficar tranquila que eu não tô bravo com isso. Você só está buscando o que quer.

— E de onde tirou que seu irmão viria hoje? Eu não sei de nada.

— Não se faça de sonsa, porque não combina com você. Tô falando sério, não acho que tá errada em querer recuperar o Miguel, nós estamos nos divertindo juntos, mas sem compromisso.

— Mas é claro que sim.

—Mas é verdade essa história de que a Maria tem um caderno onde escreve que quer se vingar de toda a minha família?

— Não sei de onde tirou isso.

— Nós somos cúmplices nesse lance de tentar separar os pombinhos, então acho que você deveria confiar mais em mim.

— Tá ok, desisto de fingir. É sim.

— Então você vai tratar de descobrir onde ele fica e pegá-lo. Vou adorar saber o que a sua irmã prepara pra mim. — Sorriu.

— Eu teria medo de saber se fosse você.

— Não tenho medo de uma órfã ressentida que quer me destruir.

_ Não duvide da órfã ressentida, ela pode ser muito cruel às vezes. Não se esqueça que você já a assediou quando eram mais novos.

— Éramos duas crianças, isso nem pode ser chamado de assédio.

— Você que sabe como deve chamar.

— Mudando de assunto, me responde uma coisa?

— Claro que sim, pode perguntar.

— Tá sozinha?

— Não, mas minha mãe e meu irmão dormem como pedra

— Pode ficar tranquila, não vou fazer nada com você. Nada que você não queria, no caso. Só acho que a gente podia ir pra piscina, oque que você acha? Tá quente, a gente tá atoa...

— Eu topo, vou colocar o biquíni e que se dane se os dois bobões acordarem. Mas se ousar chegar perto do meu quarto, eu te mato, viu?

— Pode deixar, não sou do tipo de homem que faz esse tipo de coisa. Isso pra mim é homem que não consegue mulher e tem que aproveitar a primeira oportunidade que aparece, porque não sabe quando vai aparecer de novo. Quando VOCÊ quiser algo a mais do que o nosso trato, me procure que eu vou adorar satisfazer suas vontades. Fora isso, vou esperar. Estarei lá em baixo.— Ele foi em direção às escadas que davam para a piscina.

Em alguns minutos ela voltou vestindo um biquíni e com uma canga amarrada na cintura. Felipe já estava sentado na espreguiçadeira de madeira.

— Mas você tá muito bonita pra só ficarmos aqui. Não precisava ter se arrumado tanto.

— Eu sou assim naturalmente.

— Isso me deixa feliz.— Ele riu.

— Bebe alguma coisa?

— O que tiver.

Ela foi até a parte da churrasqueira e voltou alguns minutos depois trazendo dois drinks. Entregou um a Felipe e depois se deitou na outra espreguiçadeira, onde brindaram.

...

— E o que você sentiu quando esteve dentro do escritório do Fernando?— Karla, deitada em sua cama, conversava comigo.

— Uma mistura de ódio e impotência, sabe? Não é justo eu ter ido comemorar o aniversário daquele desgraçado, sendo que o meu pai não tem mais aniversários por culpa dele.

— Mais matá-lo não seria a melhor solução.

— Eu nunca pensei em matar o Fernando, sabe? Porque no final ele estaria morto e eu condenada à cadeia.

— Eu sinceramente nunca entendi os seus planos.

— Meus planos sempre consistiram em tirar a família e as terras dele. Mas hoje eu percebo que tirar o Miguel de perto do pai faria mais mal a ele do que ao Fernando, e eu não posso mais vê lo sofrer.

— Então você dá sua vingança por terminada aqui?

— Não, mas o que eu busco agora é por justiça.

— Não tô entendendo.

— Eles esperam que eu ataque com violência, mas não imaginam que me formei em Direito por um plano muito mais audacioso.

— Alguém da sua família sabe?

— Não, pra eles eu estava fazendo especializações na Arquitetura, mas mal imaginam que eu só usei o curso como disfarce.

— Sabe que eu vou te apoiar se quiser fazer as coisas corretamente, não sabe? Mas como advogada, sabe que o crime provavelmente já prescreveu.

— Mas sei também que existem brechas na lei que podem me ajudar a reabrir o caso, ainda mais que ninguém nunca foi sequer indiciado ou acusado. Você vai ver Karla, eu vou ganhar essa batalha e levar a guerra.

...

Sentados na espreguiçadeira, Miranda e Felipe conversaram por cerca de uma hora e depois entraram na piscina.

— Aceita?— Felipe ofereceu a ela um cigarro eletrônico logo depois de fumar um pouco.

— Você fuma isso?— Ela pegou e deu uma tragada— Jurava que era coisa de adolescente.

— Talvez eu seja mentalmente um adolescente.— Riu— E pelo visto, você também.

— Só algumas vezes e só uma tragada ,no máximo.— Devolveu.

— Não quer mais um pouco?

— Não, porque conheço gente como você, que depois vai me oferecer outras coisas e me drogar. Não sou burra.

— Bom saber que não é, mas eu já disse que não faria isso. Você é muito assustada, fica vendo esses jornais sensacionalistas e depois chega cheia de paranóias.

— Já sei que estou entrando em um ninho de cobras todas as vezes que entro na sua casa e você e seu pai estão juntos.— Riu e bebeu um gole de sua bebida.

— Achei que você era só um rostinho bonito, sem nada dentro dessa cabeça, mas vejo que pelo menos um pouco de malícia tem. Acho que a Maria te subestima bastante.

— Conheço má intenção quando vejo uma.— Ela o encarou— E a sua garota, alguma notícia dela? Ou ela não te aguentou e foi embora?— O brilho nos olhos de Felipe sumiu como um passe de mágica.

— Já tá meio tarde, ou melhor, meio cedo.— Ele riu— Acho que já tá na minha hora.

— Também acho, porque eu ainda tenho que tomar um banho antes de dormir e logo cedo o povo dessa casa já começa a fazer barulho.

— Talvez seja porque eles sim trabalham. Te vejo qualquer hora dessas.— Ele deu um suave beijo na mão da minha irmã, vestiu uma calça por cima da cueca molhada, depois uma camisa e foi em direção à porta que Miranda havia deixado aberta.

— Felipe!— Ela o chamou e ele prontamente se virou— Posso saber como sabia que o Miguel estaria aqui?

— Não é só você que escuta as conversas dos outros escondida.— Ele riu e saiu.

Miranda vestiu a saída de praia branca que havia levado e subiu para seu quarto.