Assim que Miguel e eu chegamos ao portão das fazendas, ele disse que precisava resolver uma coisa na casa grande. Já eu fui resolver um problema com os empregados a mando de Manoel.
Na hora do almoço, assim como o combinado, fui até a casa na árvore, pois Miguel havia me dito que uma surpresa me espetaria lá.
Antes de começar a subir pelas escadinhas de madeira que levavam à entrada da casa na árvore, escutei barulhos estranhos. Era como se alguém estivesse me seguindo e se aproximando cada vez mais e mais...
— Quem tá aí?— Ninguém respondeu— Miguel?
Meu coração disparou. Na conversa com os empregados, eles haviam me falado que a reclamação era sobre mais segurança, depois que três haviam sido mortos no último mês. Peguei o canivete e o escondi na mão.
— Responde! Quem tá aí?— Nada.
Escutei os passos se aproximando, mas era impossível saber de onde vinham. Foi quando, como um raio, alguém chegou por trás de mim e me segurou. Tentei acertar o canivete no braço que senti como masculino, mas sem sucesso. Foi quando me virei e...
— Se acalma Maria!— Miguel gritou assustado— Só queria te fazer uma surpresa, mas você parece que tá sempre pronta pra matar alguém.
— Me desculpa, eu acabei de conversar com os empregados e eles me disseram que alguns trabalhadores daqui já foram mortos nos últimos dias.
— Sério?
— Sim, todos com tiros de revólver.
— E por que eles não falaram nada antes ou publicamente?
— Ficaram com medo de serem os próximos, mas assim que eu chegar na cidade, vou resolver esse assunto e procurar as autoridades.
— É o mais certo a se fazer.
— Sim, é minha obrigação protegê-los, pelo menos nas minhas terras. Mas e aí, o que vamos fazer aqui na casa da árvore?
— Sobe e verá.— Sorriu.
Eu subi e tive uma grande surpresa ao entrar. Uma toalha estava estendida no chão e uma pequena mesinha no centro. Em cima dela, um lindo almoço estava pronto para ser devorado. Velas ainda apagadas a decoravam.
— Que lindo, foi você que fez?
— Tudo para você.— Ele sorriu enquanto acendia as velas.
— Não precisava de tudo isso.— Eu o beijei.
— É claro que precisava. Precisava porque hoje é um dia muito especial.
— É?
— Sim, hoje nós vamos comemorar dois aniversários.
— Achei que ainda faltavam alguns meses pro seu.
— Ainda faltam.
— Então... De quem são os aniversários?
— O primeiro é o do meu pai, e eu te convido a ir comigo jantar lá em casa em comemoração ao dia.— Meu coração gelou. Eu seria capaz de me manter fria a ponto de comemorar um ano mais de vida do homem que havia provado meu pai de comemorar seus aniversários?
— Não sei se devo...
— Por quê?
— Por...— Foi então que me toquei que Miguel não sabia sobre tudo o que eu havia dito e feito com seu pai, mas que contar tudo seria praticamente uma sentença de morte ao nosso relacionamento e, consequentemente, ao meu plano A, que ainda não tinha um substituto à altura — Por nada, só que eu acho que é uma coisa familiar e que eu não deveria ir.
— É por isso que hoje vamos comemorar outro aniversário. No caso hoje não, mas no ano que vem sim.
— Não tô entendendo mais nada.
— Em exatamente um ano, vamos comemorar a formalização do nosso namoro. _ Ele abriu uma caixa na qual haviam dois anéis iguais. Alianças de compromisso.
— Não tô acreditando nisso.
— Pois acredite. Melhor, só aceite ser a minha namorada e não faça com que tudo isso que eu preparei tenha sido em vão, sem querer te pressionar, é claro.
Eu não sabia o que dizer, já que por tantos anos odiei um homem e desejei sua morte e a desgraça de sua família. Agora, estava sendo pedida em namoro pelo filho dele... O filho do meu maior inimigo, o amor da vida da minha irmã, por quem ela seria capaz de atravessar céu e inferno para ver feliz. Seria eu capaz de fazer isso? Seria eu merecedora de tanto amor, ainda que só o estivesse utilizando para meus objetivos mais sombrios?
Mas algo dentro de mim parecia perceber que eu já estava afundada em areia movediça, e que cada tentativa de sair daquela situação que eu mesma tinha criado, somente me afundaria mais e mais, além de me afastar de meu objetivo principal. E, mais uma vez, o lado vingativo do meu cérebro foi responsável por dar a resposta:
— Sim.
Ele, que estava assentado, me ajudou a ficar de pé e, logo em seguida, se ajoelhou, depois colocou a aliança no meu dedo e o beijou. Se levantou. Eu peguei a outra aliança e a coloquei em sei dedo, também o beijando depois disso.
— Agora somos oficialmente namorados ,Maria Soares.
Nos beijamos, e que acontecesse o que tivesse que acontecer. O jantar daquela noite era minha melhor oportunidade de entrar no covil do assassino e reunir provas o mais rápido possível, antes que fosse tarde demais para não destruir o coração de Miguel com minha revelação. Ou pior, antes que eu me apaixonasse verdadeiramente pelo filho do meu maior inimigo.
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Apesar Da Vingança
RomanceCONCLUÍDO "Porque apesar da vingança, eu me apaixonei pelo filho do homem que destruiu meus sonhos." Olá. Me chamo Maria. Nessa história, vou lhe contar como meu mundo perfeito desmoronou, me transformando em uma mulher fria e vingativa. Depois de m...