XXII_Só amor é o suficiente?

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Assim que Miguel e eu chegamos ao portão das fazendas, ele disse que precisava resolver uma coisa na casa grande. Já eu fui resolver um problema com os empregados a mando de Manoel.

Na hora do almoço, assim como o combinado, fui até a casa na árvore, pois Miguel havia me dito que uma surpresa me espetaria lá.

Antes de começar a subir pelas escadinhas de madeira que levavam à entrada da casa na árvore, escutei barulhos estranhos. Era como se alguém estivesse me seguindo e se aproximando cada vez mais e mais...

— Quem tá aí?— Ninguém respondeu— Miguel?

Meu coração disparou. Na conversa com os empregados, eles haviam me falado que a reclamação era sobre mais segurança, depois que três haviam sido mortos no último mês. Peguei o canivete e o escondi na mão.

— Responde! Quem tá aí?— Nada.

Escutei os passos se aproximando, mas era impossível saber de onde vinham. Foi quando, como um raio, alguém chegou por trás de mim e me segurou. Tentei acertar o canivete no braço que senti como masculino, mas sem sucesso. Foi quando me virei e...

— Se acalma Maria!— Miguel gritou assustado— Só queria te fazer uma surpresa, mas você parece que tá sempre pronta pra matar alguém.

— Me desculpa, eu acabei de conversar com os empregados e eles me disseram que alguns trabalhadores daqui já foram mortos nos últimos dias.

— Sério?

— Sim, todos com tiros de revólver.

— E por que eles não falaram nada antes ou publicamente?

— Ficaram com medo de serem os próximos, mas assim que eu chegar na cidade, vou resolver esse assunto e procurar as autoridades.

— É o mais certo a se fazer.

— Sim, é minha obrigação protegê-los, pelo menos nas minhas terras. Mas e aí, o que vamos fazer aqui na casa da árvore?

— Sobe e verá.— Sorriu.

Eu subi e tive uma grande surpresa ao entrar. Uma toalha estava estendida no chão e uma pequena mesinha no centro. Em cima dela, um lindo almoço estava pronto para ser devorado. Velas ainda apagadas a decoravam.

— Que lindo, foi você que fez?

— Tudo para você.— Ele sorriu enquanto acendia as velas.

— Não precisava de tudo isso.— Eu o beijei.

— É claro que precisava. Precisava porque hoje é um dia muito especial.

— É?

— Sim, hoje nós vamos comemorar dois aniversários.

— Achei que ainda faltavam alguns meses pro seu.

— Ainda faltam.

— Então... De quem são os aniversários?

— O primeiro é o do meu pai, e eu te convido a ir comigo jantar lá em casa em comemoração ao dia.— Meu coração gelou. Eu seria capaz de me manter fria a ponto de comemorar um ano mais de vida do homem que havia provado meu pai de comemorar seus aniversários?

— Não sei se devo...

— Por quê?

— Por...— Foi então que me toquei que Miguel não sabia sobre tudo o que eu havia dito e feito com seu pai, mas que contar tudo seria praticamente uma sentença de morte ao nosso relacionamento e, consequentemente, ao meu plano A, que ainda não tinha um substituto à altura — Por nada, só que eu acho que é uma coisa familiar e que eu não deveria ir.

— É por isso que hoje vamos comemorar outro aniversário. No caso hoje não, mas no ano que vem sim.

— Não tô entendendo mais nada.

— Em exatamente um ano, vamos comemorar a formalização do nosso namoro. _ Ele abriu uma caixa na qual haviam dois anéis iguais. Alianças de compromisso.

— Não tô acreditando nisso.

— Pois acredite. Melhor, só aceite ser a minha namorada e não faça com que tudo isso que eu preparei tenha sido em vão, sem querer te pressionar, é claro.

Eu não sabia o que dizer, já que por tantos anos odiei um homem e desejei sua morte e a desgraça de sua família. Agora, estava sendo pedida em namoro pelo filho dele... O filho do meu maior inimigo, o amor da vida da minha irmã, por quem ela seria capaz de atravessar céu e inferno para ver feliz. Seria eu capaz de fazer isso? Seria eu merecedora de tanto amor, ainda que só o estivesse utilizando para meus objetivos mais sombrios?

Mas algo dentro de mim parecia perceber que eu já estava afundada em areia movediça, e que cada tentativa de sair daquela situação que eu mesma tinha criado, somente me afundaria mais e mais, além de me afastar de meu objetivo principal. E, mais uma vez, o lado vingativo do meu cérebro foi responsável por dar a resposta:

— Sim.

Ele, que estava assentado, me ajudou a ficar de pé e, logo em seguida, se ajoelhou, depois colocou a aliança no meu dedo e o beijou. Se levantou. Eu peguei a outra aliança e a coloquei em sei dedo, também o beijando depois disso.

— Agora somos oficialmente namorados ,Maria Soares.

Nos beijamos, e que acontecesse o que tivesse que acontecer. O jantar daquela noite era minha melhor oportunidade de entrar no covil do assassino e reunir provas o mais rápido possível, antes que fosse tarde demais para não destruir o coração de Miguel com minha revelação. Ou pior, antes que eu me apaixonasse verdadeiramente pelo filho do meu maior inimigo.

Apesar Da VingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora