Karla e Manoel estavam na rodoviária, esperando os tios da garota.
— Acho que vai ser um pouquinho difícil encontrá-los nessa muvuca.
— Por quê?
— A rodoviária tá lotada e...
Antes que Karla pudesse acabar a frase, um homem que parecia ter a idade da minha mãe apareceu, caminhando de maneira desajeitada na direção dos dois, e não parecia ter mais que um metro e sessenta e cinco.
— Poxa, dava pra eu ter enchido o carro que ele ia no colo.— Manoel sussurrou no ouvido de Karla e deu um risinho baixo.
— Por que tá falando isso?
— Ué, não é esse cara que tá encarando a gente e vindo pra cá?
— Não mesmo, cara estranho. Olha eles lá!— Ela apontou para trás de Manoel e ele se virou para olhar.
Um homem loiro, com mais de 1,80 de altura, forte, de barba fina e parecendo estar na casa dos 40 anos apareceu no meio da multidão, carregando diversas malas.
— Eles tão vindo é de mudança mesmo, né Karlinha?
— Sim, e isso é quase tudo de roupa da minha tia.
— E onde ela tá?
— Bem ali.
Para onde Karla apontou, estava vindo uma mulher bonita, de cabelos castanhos e ondulados. Com um corpo esculturalmente definido e de olhos verdes, parecia ter cerca de 35 anos. Vestia roupas que normalmente eram usadas por garotas da idade da Karla, apesar de elegantes, e carregava uma pequena bolsa no braço.
— Acho que tá apontando para a pessoa errada.
— Por quê?
— Aquela mulher é nova demais pra ser sua tia.
— É ela mesma. Já passou dos 40 há um tempinho, mas faz vários procedimentos estéticos no rosto, e eu até brinco que um dia vou parecer mais velha que ela. Mas fala baixo porque ela é brava.
— Vou é calar a minha boca.
— Karla!— Ela gritou assim que a viu.
— Oi tia!— Karla foi em sua direção e a abraçou.
— A cada dia está maior e mais bonita. Um dia vai ficar como eu.
— Talvez eu já tenha parado de crescer mais de 10 anos atrás, mas vou tratar como um elogio. Oi tio!— Karla o abraçou e ele retribuiu de forma fria.
— E quem é esse?— A tia apontou para Manoel— Seu namorado?
— Não, é o irmão da Maria.
— Fico feliz que não seja. Maria?— A tia perguntou, mas logo se lembrou— Ah, lembrei, é aquela sua amiga estranha e que tem uma irmã metida.
— Essa mesma!— Manoel respondeu da maneira mais bem humorada possível.
— Espero que você não seja igual a elas, meu rapaz.— A tia advertiu.
— Sou o mais normal da família.
— Me sinto muito mais segura em ouvir isso. E vamos de que?— A tia perguntou para Karla.
— O Manoel vai nos levar até a casa.
— Então vamos, meus pés estão inchados nesse sapato.
— Talvez seria melhor tirar o salto?
— Não me diga o que fazer Karla! Agora vamos porque eu quero tomar um banho. Querido,— Ela olhou para o marido— leva a minha bolsa por favor, tá pesada.— Ela jogou a bolsa junto à pilha de malas que o marido já carregava.
Eles foram até o carro de Manoel. Os tios de Karla ficaram esperando na porta para que alguém a abrisse para eles. Karla e Manoel entraram e os dois continuaram do lado de fora.
— Por que eles não entram?— Manu perguntou.
— Acho que estão esperando você abrir, devem achar que você é um motorista.
— Eles não conseguem abrir sozinhos?
— São cheios de manias e não gostam, por exemplo, de colocar a mão na maçaneta do carro de um desconhecido. Não, eu não sei o porquê.
— Você escolheu a carreira certa, só tem doido perto de você...
— Eu que o diga. Eu vou lá abrir antes que eles reclamem que o sol tá quente.
— Deixa que eu vou.
Manoel saiu, deu um sorrisinho e... Ao abrir a porta, ela bateu no braço do tio, que fez uma careta de reprovação. Karla só olhou e conteve um riso. Depois os dois entraram e Manoel fechou a porta.
— Estão todos prontos?— Manoel perguntou, tentando ser gentil— Já vamos sair, mas antes vamos ligar o ar condicionado porque ninguém merece esse calor.— Ele ligou o ar, que estava no máximo— Muito melhor.
— Desliga isso!— A tia de Karla deu um grito.
— Mas por quê? Tá quente. Daqui a pouco eu começo a suar igual tampa de marmita e o carro vai feder a suor. Isso não vai ser legal, vocês vão reclamar do cheiro, eu vou reclamar da reclamação e vamos todos ficar irritados.
— Desliga isso, Manoel!— Karla também gritou.
— Não é possível que até você! Você não morou com a Miranda, não é? Porque aquela lá não fica um segundo sem ar condicionado. E a Maria é outra que fica achando que passar calor de manga comprida é a última moda em Paris e coloca o ar no máximo. Agora só falta o seu tio reclamar.
— Ele tem alergia ao perfume que você colocou pro ar condicionado espalhar e a garganta dele tá fechando. Desliga logo!
Manoel olhou pelo espelho e viu que o tio estava sendo ajudado pela esposa, mas respirava com dificuldade e parecia sufocado. Meu irmão se desesperou e começou a tentar desligar o ar. Resultado: sim, o botão quebrou na mão dele, o que o fez ficar ainda mais desesperado. Karla, com toda sua calma, apenas pegou o botão, o encaixou e desligou o ar. O tio logo começou a melhorar.
O resto do trajeto foi tranquilo. Manoel pensou em ligar uma música, mas um leve tapa de Karla em sua mão quando ele aproximou o dedo do som mostrou que era melhor que não o fizesse. Finalmente chegaram.
— Não via a hora de chegar!— A tia se espreguiçou ao sair do carro, ajudando o marido, que ainda não parecia estar bem.
— Tá se sentindo melhor tio?
— Agora ele está, não é Karla? Mas alguns minutos atrás ele estava sem conseguir respirar e quase morrendo. E como você estava? Calma e tranquila, parecendo aqueles hippies do festival de Woodstock. Acha que tudo tá tranquilo e que tudo se resolve com paz e amor.
— Não adianta nada se desesperar nessas horas, o que vai acontecer é quebrar o botão e não conseguir resolver o problema.— Ela sorriu para Manoel, que passou a mão pelo cabelo e sorriu.
— Eu já vou, viu? Foi um prazer!— Ele falou, se virou e entrou no carro.
— Muito obrigada e desculpa qualquer coisa.— Ela sorriu para ele, que acelerou e foi embora.
— Se você me aparecer com uma criatura dessas na sala de casa e me falar que é o seu namorado— A tia sussurrou no ouvido de Karla— eu te jogo dentro de um convento, e não me venha falar que já é uma mulher, porque um retardado assim eu não aceito na minha família. Estamos entendidas?
— Sim tia.— Karla revirou os olhos ao responder.
— É assim que eu gosto. Agora vamos entrar porque o seu tio vai precisar de ajuda.
— Sim tia.— Karla apenas olhou para a rua e sorriu antes de entrar com os tios na casa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Apesar Da Vingança
Lãng mạnCONCLUÍDO "Porque apesar da vingança, eu me apaixonei pelo filho do homem que destruiu meus sonhos." Olá. Me chamo Maria. Nessa história, vou lhe contar como meu mundo perfeito desmoronou, me transformando em uma mulher fria e vingativa. Depois de m...