07. Um chiclete inesperado (parte 2)

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"Acho que isso é seu"

Pedro ficou admirado com a ousadia da Freirinha e mordeu os lábios para conter o riso. Toda a turma estava boquiaberta. Lex e Amanda arregalaram os olhos assustados e Davi ficou sem ação. "É uma declaração de guerra", pensou o garoto sentindo o rosto queimar.

Tina resistiu ao impulso de feri-lo fisicamente, mas acabou atingindo o ego de maneira dolorosa. O garoto precisou trincar os dentes para se conter.

- Você tá muito fodida, Tina - bradou Davi, de pé, enquanto ela caminhava para a carteira de cabeça erguida. A raiva era tanta que ele a chamou pelo nome em vez do apelido, mas só notou ao escutar a própria voz.

A garota girou nos calcanhares e disse com arrogância:

- Eu não tenho medo de você, Davi!

O garoto quase espumou de raiva. Tina ficou a espera de alguma reação e ambos se encararam por longos segundos para deleite da turma que assistia muda ao espetáculo.

A admiração de Pedro deu lugar à preocupação. A Freirinha escondia um lado ousado que traria problemas. A disputa entre aqueles dois seria acirrada.

Davi arrancou a página do caderno, amassou uma bola com o chiclete no centro e atirou nela. Errou o alvo e o projétil caiu ao lado da carteira de Tina que acabava de sentar. Para completar o cenário, o professor entrava em sala e chamou a atenção do garoto na frente de todos pela bola arremessada. Fez com que ele pegasse o objeto e o jogasse no lixo. Ser repreendido pelos adultos era coisa de fracassado e Davi jamais a perdoaria pela humilhação.

- Posso ir ao banheiro? - Tina perguntou ao professor com a voz suave e o semblante calmo. Por dentro, o autocontrole se esvaia. Era preciso sair dali com urgência antes de se quebrar diante de todos.

O professor consentiu e ela saiu de sala sem olhar para os lados. Sentou no chão do banheiro encostada na parede e chorou até que as lágrimas grudassem de volta todos os pedaços de si mesma, até que conseguisse ir ao espelho checar se estava mesmo inteira.

Ela não estava. Faltava a ela um tufo de cabelo e um punhado de amor próprio.

A Tina que a encarava de volta, de olhos vermelhos e machucados, ordenou que ela retomasse o controle. Ela obedeceu respirando fundo e guardando os sentimentos na mala abarrotada. Lavou o rosto, improvisou um coque para disfarçar o cabelo que faltava e ensaiou um sorriso diante do espelho. Voltou para a sala de aula com a expressão mais serena que conseguiu falsificar.

Na hora da saída, Lex tentou ao máximo manter Tina próxima ao professor evitando que ficasse sozinha com a gangue. O plano funcionou até certo ponto. Ele chamou o professor para atrasá-lo, empurrou a amiga para apressá-la, mas nas escadas, acabaram sozinhos.

Davi e Leandro empurraram Lex e Amanda para longe, entrelaçando os braços de Tina, um de cada lado.

- Você tá tão fodida! - disse Davi ao pé do ouvido.

- Eu não tenho medo de vocês! - desafiou Tina esforçando-se para esconder a insegurança.

- Não! Você não tem medo. Você tem nojo. Não foi isso que você disse? Me aguarde. - Davi lambeu o rosto da menina antes de se afastar.

O resto da gangue cruzou por ela, logo em seguida, às gargalhadas. Menos Pedro. Ele olhou para Tina erguendo os ombros, com um discreto sorriso, como quem diz: "eu avisei".

Tina limpou o rosto com as mãos sentindo o estômago embrulhar. Talvez fosse impressão, mas ela sentiu a saliva grudenta de açúcar e ficou ainda mais enojada.

Os amigos poderiam reprovar a atitude dela, mas ignoravam as reais motivações. Tudo que Tina queria era manter a gangue longe de Amanda e talvez ela conseguisse, pois estava disposta a pagar o preço. Qualquer que fosse.

Pedro e TinaOnde histórias criam vida. Descubra agora