42. Descobertas

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Lex parou de repente, a uns metros dali. Martins quase trombou nele.

- Eu vou quebrar sua cara se você me chamar de Biel mais uma vez.

- Tá bom. Não tá mais aqui quem falou. Agora, vem.

Lex o pegou pela mão, de repente, e o puxou para dentro de uma loja. Os dedos pálidos faziam a pele de Martins parecer mais escura. Hipnotizado pelo contraste, o garoto foi arrastado sem oferecer qualquer resistência.

Eles passaram por corredores e nichos de roupas de cama, banho, acessórios de cozinha e banheiro. A mão fria de Lex segurava a dele por todo o caminho até que eles pararam e as mãos se soltaram.

Martins estava acostumado à brutalidade de empurrões e puxões enquanto a mão de Lex era acolhedora e gentil. Seria bom poder segurar a mão dele outra vez, ele pensou e, ao tomar consciência do próprio pensamento, engoliu a seco e deu um passo para trás. Por sorte, Lex estava atento ao casal do outro lado do corredor, além das prateleiras da vitrine e o desconforto de Martins passou despercebido.

***

Pedro sentou na cadeira ocupada antes por Lex, mas de frente para ela, apoiando o braço esquerdo sobre a mesa. Tina encarou o pote de frutas abandonado pela metade. Durante algum tempo, os dois ficaram em silêncio.

Antes de começar a falar, Pedro arrastou a cadeira dela fazendo com que ficasse de frente para ele também.

- Você sabe que eu nunca ameacei usar a Úrsula pra ficar com você. - O semblante de Pedro estava calmo e a afirmação soou quase como uma pergunta.

- Não foi o que pareceu.

- Foi por causa da casa abandonada, não foi? Eu tava puto com você, com o Davi, eu não...

As palavras embolaram na garganta o interrompendo. A expressão de Pedro era sincera, o verde dos olhos era límpido e claro, o coração de Tina batia com força. Pela primeira vez, parecia que ele estava sendo honesto, e ela estava com medo de estragar a oportunidade.

- Não foi pelo que aconteceu na casa abandonada - ela disse com a voz suave. - Foi pelo que veio depois.

- Mas eu parei sempre que você pediu.

- Até quando? Quem me garante que você não vai se frustrar a qualquer momento e entregar tudo?

- Não. Eu... Você quis! Eu não forcei nada. Não! Isto não.

Pedro virou de frente para a mesa com os punhos cerrados sobre ela, o cenho franzido. Parecia angustiado em procurar um culpado ou justificativa. Tina observou o garoto por alguns instantes e achou que ele merecia um pouco de honestidade de volta.

- Eu sei que não forçou. Poderia ter sido forçado, mas eu quis.

- Você quer isto tanto quanto eu, não quer?! - ele perguntou com brilho nos olhos. - Então qual é o problema?

Sim, ela queria, mas tinha pavor de querer. Era errado, vulgar e vergonhoso. Tina fitou os olhos dele, incapaz de desviar ou mentir, mas ainda incapaz de admitir que perdia o controle, o chão e a si mesma sempre que ele encostava nela.

- Eu quero. Mas eu também quero levantar desta mesa e correr o mais rápido possível até em casa, poder trancar a porta e fingir que nada disso aconteceu.

- Porque você me odeia, não é? Eu vou te deixar em paz. Não se preocupe.

Pedro esboçou um sorriso por dois segundos e virou de frente para mesa. Pegou o pote dela, brincou com as frutas e deu uma colherada. De repente, voltou a falar.

Pedro e TinaOnde histórias criam vida. Descubra agora