38. Na casa dele (parte 2)

96 5 25
                                    

Pedro abriu o cesto embutido sob a bancada do banheiro e atirou a roupa suada lá dentro junto com toda a decepção. Olhou para baixo e massageou a si mesmo, a excitação ainda visível em rigidez.

"Parabéns, por ter se precipitado!", pensou com ironia. Uma voz dentro dele sabia que devia ter parado, mas aquela menina tirava dele qualquer chance de bom senso.

Ele girou a torneira e deixou que a água gelada doesse nas costas. Conforme o corpo esfriava, a frustração escorria pelo ralo. Aos poucos, a água esquentou dando espaço para que Tina voltasse à mente do garoto.

Desde que a vira no terreno baldio sem a camiseta, ele almejava tocar a pele, o corpo delicado, tocar com as mãos, os lábios, provocar o mesmo desejo que sentia por ela. Por um breve instante, a ambição tinha se concretizado nos olhos dela, na boca entreaberta, na respiração ofegante. Ele ainda trazia na memória a cintura esguia, quente e sedosa, o perfume suave, adocicado e discreto.

A imaginação o levou para além daquele momento, onde ele teria ignorado os braços que o empurraram para longe, onde a freirinha pertencia a ele sem precisar de consentimento.

Pedro deixou a mão e a criatividade aliviarem toda a excitação.

***

Ao chegar na sala, Tina encontrou um cômodo amplo que incluía sala de estar, de TV e jantar. Uma porta de vidro levava à varanda. Assim como a cozinha, o local parecia ter saído de uma revista de decoração para sofrer uma invasão na sequência. Havia roupas espalhadas, louça sobre a mesinha de centro e papelada sobre a mesa.

Ao lado, estava o corredor que se abria a outros cômodos, de onde vinha o barulho do chuveiro. Uma porta aberta parecia levar ao quarto de Pedro.

Ela lembrou da dificuldade em dizer não e da incerteza de que ele aceitaria a negativa. Até quando ela conseguiria sustentar aquela situação antes que ele insistisse na intimidade? Antes que desistisse dela abrindo mão de todos os segredos? Até quando ela resistiria aos próprios desejos?

Talvez, naquele quarto, ela encontrasse um computador com as contas logadas e conseguisse apagar os arquivos roubados.

Ela largou a mochila no sofá e cruzou o corredor ouvindo o som de água batendo no chão.

Ao cruzar pela porta, ficou surpresa por se deparar com uma estante repleta de livros e quadrinhos. O restante da decoração deixava óbvio que o quarto era mesmo de Pedro. A lixeira tinha uma pequena cesta de basquete em cima, um enorme pôster ao pé da cama trazia um jogador no meio do arremesso e o abajur tinha silhuetas naquele mesmo tema. O uniforme e a mochila dele largados em um canto acabaram com qualquer dúvida.

A curiosidade a arrastou até algumas lombadas onde identificou livros de escola, como O Cortiço e Dom Casmurro, mas havia outros tantos que ela desconhecia ou tinha apenas ouvido falar. Alguns quadrinhos eram edições encadernadas em capa dura.

Na mesinha de cabeceira havia um porta retrato com Pedro ainda criança abraçado a uma mulher com alguns traços semelhantes. Era provável que fosse a mãe. Ao lado, estava o livro Guia do Mochileiro das Galáxias. Tina havia assistido uma parte do filme com Lex e Amanda, mas esqueceu por que havia parado na metade. Ela pegou para ler a sinopse confirmando que era, de fato, a mesma história. Na primeira página, havia uma dedicatória.

"Pra você entender melhor sua doida favorita. Nada de entrar em pânico e pular da varanda antes de ler os quatro volumes. Essa é coisa mais sensata e inteligível que irão te dizer hoje. Até mais e obrigada pelos peixes." - Mel

Pedro e TinaOnde histórias criam vida. Descubra agora