Pedro e Tina

37. Na casa dele (parte 1)

Tina agarrou as alças da mochila e começou a explorar o playground em busca de Pedro. O lugar era enorme, com piscina, parquinho e churrasqueira. Algumas crianças corriam e brincavam, o vento soprava de forma agradável e o ambiente era acolhedor.

Ela seguiu o som que ecoava da quadra e encontrou Pedro jogando basquete com um rapaz um pouco mais velho. Tina se escondeu atrás de uma pilastra para observar os dois que pareciam estar se divertindo mais do que competindo por pontos. Tina poderia ficar ali assistindo por um longo tempo antes de se entediar.

A luz amarela do sol quente cobria quase toda a quadra fazendo o suor marcar a camiseta regata vinho e molhar os cabelos de Pedro. Ela reparou no corpo esguio e nos músculos, que começavam a se definir, dando a ele uma aparência mais madura. Pedro era ágil e implicava com o amigo menos habilidoso.

Um alarme tocou e eles foram até um canto da quadra. Pedro tirou a camiseta, enxugou o rosto com ela e a jogou sobre o ombro. Tina ficou tão absorta admirando o abdômen dele que tomou um susto quando uma notificação vibrou o celular.

[Pedro]
15h [ícone de ampulheta]

Tina achou graça. Ela estava começando a entender o padrão de comportamento dele. "Idiota!", ela pensou.

Tina guardou o aparelho e o sorriso antes de entrar na quadra dando um discreto aceno. O colega de basquete deu uma cotovelada de leve nas costelas de Pedro e virou de costas para esconder o que comentava. Pedro reagiu com uma bem-humorada reprovação e um soco no braço do rapaz. Era óbvio que falavam dela, o que causava um leve desconforto.

O nome dele era Fábio, era simpático, vizinho de Pedro, estava se formando na faculdade, a irmã dele estava voltando para o país e isso foi tudo que Tina descobriu na breve conversa entre eles. Fábio se despediu e seguiu para outro bloco de apartamentos.

- A gente precisa subir mesmo? - perguntou Tina, com frio na barriga, concentrada na luz verde do botão do elevador. - Aqui tá tão tranquilo e fresco.

- Meu material tá lá em cima e eu preciso de água e banho.

"Material. Ele estaria querendo mesmo estudar?", pensou ela.

- Eu te espero - Tina tentou.

Pedro ignorou a sugestão e a conduziu para dentro do cubículo se encostando na parede metálica com a bola cor de laranja sob um dos braços. Era difícil para Tina desviar o olhar em um lugar tão apertado e com um enorme espelho no fundo. Mesmo que baixasse a vista, lá estava o cós frouxo da bermuda dry fit preta, alguns pelos descendo do umbigo até o elástico da cueca. Tina olhou para o próprio tênis branco e respirou fundo.

- Sua mãe tá em casa? - perguntou da maneira mais casual que conseguiu, olhando o visor que mostrava os andares e voltando para os pés. O tênis dele era preto com detalhes vibrantes.

- Não.

Pedro se divertia com a menina-pinscher, mas aquela versão freirinha tímida era doce e atraente. Ela parecia a mesma Tina de sempre, com exceção do brilho labial, que ela nunca usava.

Mas deveria.

- Você tem irmãos? - Ela perguntou apertando as alças da mochila e mordendo o lábio inferior.

- Noup.

Pedro pensou em largar a bola e experimentar o sabor daquele brilho rosa, mas se conteve. Tinha sido difícil ultrapassar a barreira no primeiro beijo e a aproximação errada poderia colocar todo o esforço a perder.

- Talvez uma...

- Fica tranquila - ele falou abrindo a porta do nono andar. - Não tem ninguém em casa.