A luz alaranjada dos postes, apontando para a rua deserta sob a noite escura, deixava a atmosfera ainda mais onírica e confusa. Os pensamentos nublados levaram Tina em direção à escola, seguindo a batida da música e o burburinho de vozes, mas ela recuou ao avistar o resto da gangue em frente ao portão.
Tina recostou na parede afastando a memória dos últimos momentos, o ranço deixado pelas sombras, pelo odor de vela e mofo, pelo amargo úmido de sangue. Ela precisava se concentrar em voltar para casa, ou qualquer lugar seguro, onde pudesse organizar e dobrar, etiquetar e guardar cada um dos sentimentos que explodia dentro dela.
Checou as mensagens no celular: Lex estava em um evento de k-pop, Amanda tinha ido embora com o pai, após enviar várias mensagens que ficaram sem resposta. Elas tinham combinado de voltarem juntas e Tina estava sem carona.
Àquela hora, não havia tijolos amarelos para ela seguir e a perspectiva de um criminoso a transformar em manchete de jornal era assustadora. Sem alternativa, respirou fundo e arriscou. A mãe a mataria se soubesse. Porém, um bêbado interrompeu a jornada e a fez mudar de ideia ao vir andando em zigue-zague falando coisas desconexas. Ela voltou.
Tina estava pensando em alguma desculpa para a mãe ir buscá-la, quando avistou Pedro e Martins descendo a rua. Ela se escondeu atrás de um carro estacionado, mas acabou esbarrando em um amontoado de garrafas e latinhas abandonadas no meio fio. O barulho alertou os dois para a presença de alguém e, antes que ela pudesse pensar em alguma saída, Pedro e Martins a encontraram agachada.
- Ótimo! - Pedro balançou a cabeça e cruzou os braços em frente ao peito. - O que você tá aprontando, agora?
Martins gargalhou ao vê-la.
- Nada! - Ela se levantou envergonhada.
- Aposto que pensou em voltar lá dentro para ver se a gente largou alguma prova pra trás.
- Não! - A suspeita de Pedro era absurda.
- Então o que você tá fazendo aqui? - perguntou Martins.
- Perdi minha carona - confessou constrangida. - Fiquei com medo, no caminho, e acabei voltando. Eu tava decidindo o que fazer.
- Você acredita nela?
- Acredito. - Pedro suavizou a expressão. - Eu vi as mensagens da princesinha quando estava apagando o vídeo. Ela foi embora naquela hora.
- Então tá - disse Martins. - Vou me encontrar com o resto do povo. Você vem?
- Sem condições. Vou pra casa.
Martins se despediu e Tina aproveitou para fazer o mesmo, tentando escapar.
- Pode ir parando aí! - ordenou Pedro fazendo ela voltar a contragosto. - Você não disse que tava com medo de voltar sozinha?
- Fazer o quê? - Ela deu de ombros.
- A gente vai na mesma direção, então, eu vou com você.
Tina arregalou os olhos e tentou fazer com que mudasse de ideia.
- Eu não perguntei. Só tô informando. - Foi o argumento definitivo dele. - Eu não sou garantia de nada, mas é melhor do que voltar sozinha a esta hora.
E, com certeza, era melhor do que ligar para a mãe, pensou Tina.
Os dois caminharam em silêncio até cruzarem com o bêbado, o que deixou Tina tensa, diminuindo o passo.
- Foi ele que te assustou? - Pedro colocou a mão nas costas dela, se posicionando entre os dois, ao desviarem do sujeito.
Ela confirmou com a cabeça e ele riu.
- O cara não consegue andar em linha reta. Se tentar alguma coisa, é capaz de cair com a cara no meio-fio.
Ele amenizou o risco com as palavras transmitindo segurança com a postura. Tina deu uma espiada rápida no garoto ao lado. A mão tinha saído das costas e pendia do bolso da calça pelo polegar enquanto ele caminhava tranquilo. Tina estava confusa sobre o que pensar ou sentir. Segurança e medo, atração e antipatia, gratidão e ressentimento, todos andavam de mãos dadas ao redor dele. Poucos minutos antes, ela queria ele longe e, naquele momento, ela estava feliz por tê-lo perto.
Tina tentou se despedir dele em alguns pontos do caminho, mas Pedro insistiu em ir junto até a casa dela. Para evitar pensar no silêncio constrangedor, Tina focou a atenção na sombra dos dois. Projetada no chão, ela mudava e se refazia pelas diversas fontes de iluminação artificial, se multiplicando em diversos tons de cinza sob o tom alaranjado.
O tênis esportivo novo e de cores vivas, que caminhava ao lado dela, contrastava com a calça jeans surrada. De cabeça baixa, ela chegou na esquina de casa sentindo o estômago somatizar toda a ansiedade.
- É melhor eu ficar por aqui pra minha mãe não me ver chegando com um garoto.
Ela agradeceu e se afastou.
- Espera! - Uma única palavra foi o suficiente para o coração da menina contrair dentro do peito.
- Está tarde. Preciso ir. - Ela nem tentou esconder o medo enquanto se afastava.
- Eu mandei esperar. - Ele a pegou pelo pulso, ela tentou se soltar e ele insistiu. - Esqueceu que agora você é minha?
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Pedro e Tina
Teen FictionTina estava cansada de ver a amiga sofrer bullying e resolve se rebelar. As coisas estavam indo de mal a pior quando Pedro, um dos agressores, descobre algo sobre o passado dela que Tina queria muito esquecer. Refém dos caprichosos do garoto, ela c...