Tina parou de lutar e Pedro a soltou. O garoto fechou o portão e o som de metal reverberou no estômago dela como se uma presa tentasse fugir do cativeiro. Ela estava mais abalada pelas histórias da gangue do que tinha imaginado.
- Tá sussa, agora? - perguntou Davi com sarcasmo - Já podemos conversar?
"São apenas garotos como eu", Tina tentava se convencer e manter o autocontrole. "Eles não ousariam fazer nada muito absurdo."
- Eu tô aqui. Pronto. - apesar da raiva, ela tentou manter um tom educado - Já pode liberar a Amanda.
Davi riu e se aproximou da amiga de Tina.
- Você quer que eu expulse minha convidada VIP?! - continuou no mesmo tom de deboche - De jeito nenhum! - Ele ergueu o queixo da menina com uma das mãos apertando as bochechas com firmeza - Comportada, segue todas as regras... Lógico que ela vai ficar. - Davi estava se deleitando com aquela demonstração de poder - A Rainha de Copas é a minha favorita.
- O que você quer Davi? - Tina interrompeu para afastar a atenção dele para bem longe da amiga - Fala logo!
O garoto largou Amanda quase a desequilibrando, a marca dos dedos estampada na pele clara da menina. Ele se aproximou de Tina com passos largos trocando o sarcasmo pela intimidação.
- Que tal começar se ajoelhando e pedindo desculpas?!
- Por que eu faria isso? - Tina quase se deixou intimidar, mas conseguiu manter a postura. - Eu não fiz nada de errado.
Eram apenas garotos como ela, insistia para si mesma.
- Aqui não tem nenhum inspetor pra te defender, não - disse Davi com arrogância puxando o rabo de cavalo dela para baixo.
Segurando o cabelo com uma das mãos, ele pegou o chiclete que mascava com a outra e o colou na testa da menina com grosseria. Quando ele se afastou, Tina arrancou a goma enojada e a jogou no chão.
Foi a vez de Paola tomar parte no espetáculo desfilando com sua calça jeans skinny colada nas longas pernas e um top curto e provocante que deixava boa parte da pele morena à mostra.
- Qual o seu problema? - perguntou Paola jogando os cabelos longos e ondulados para o lado - Ô Madre Teresa, a gente nunca implicou com você, nunca falou nada! E você chegou lá na escola querendo humilhar?! Qual é?!
- Não gostaram de tomar do próprio veneno? - a réplica veio rápida e hostil.
- Não era contigo! - Davi se intrometeu indignado - Por que não cuida da própria vida?
- É cada um por si, garota. - continuou Paola - Sai dessa bolha cor de rosa. Não tem príncipe encantado para vir salvar os pobres e indefesos, não.
- Só que nesse caso - interferiu Leandro se achando muito engraçado -, ela que é o príncipe da rainha, ali. Duvido que ela seja santa. Deve ter dado uns pegas na gordinha.
- Será que é isso mesmo, Vossa Alteza? - provocou Davi indo ao encontro de Amanda enquanto a olhava de cima a baixo. - Vocês duas... Quem diria?! - As mãos do garoto se aproximaram dos fartos seios da menina, num gesto malicioso, fazendo Amanda se afastar assustada enquanto Tina entrava em desespero.
- Vocês são uns imbecis mesmo! - Tina partiu na direção de Davi para trazer a atenção de volta. - São patéticos, uns bossais!
Pedro interrompeu o avanço da garota, a segurando pelos ombros. Vendo que Davi tinha deixado Amanda para trás, Tina cedeu à contenção de Pedro e ele a largou mais uma vez.
- Davi, ensina logo uma lição pra essa daí. - exigiu Paola.
- Você vai pedir desculpas por bem ou por mal? - ameaçou Davi.
- Eu já disse que não tenho motivos pra me desculpar.
- Então vai ser por mal.
Davi foi ágil ao agarrar os ombros de Tina e passar uma rasteira precisa e repentina sem qualquer chance de esquiva ou contra ataque. Ela nem percebeu que um combate havia começado quando foi arremessada ao chão. Sentiu o impacto contra o solo retirar o ar dos pulmões e, logo em seguida, uma dor aguda irradiou a partir da omoplata. Ao final do golpe, o garoto se afastou satisfeito ao ver a dor contrair o rosto da adversária.
Tina sentou-se checando o chão, no local do impacto. Lá, encontrou a pedra, responsável pela dor intensa nas costas, coberta por uma fina e seca camada de terra. A mão da menina conteve uma lágrima que queria escapar, e Pedro estendeu a dele para que ela se levantasse, mas Tina a ignorou colocando-se de pé.
O garoto contraiu os lábios ao perceber que ela estava quase chorando e que havia uma marca de sangue no uniforme.
Tina sempre soube que Davi era indiferente, hipócrita e arrogante, agora, ela adicionava covarde àquela lista.
- E aí? Já tá pronta pras desculpas ou vai querer mais?
A ironia da história é que Tina também já tinha sido como ele, e a covardia dela era a culpada por estarem todos ali. Ela sabia bem como era pisar nos outros para ser popular e aceita, a necessidade por impressionar os colegas. Davi era como ela e faziam parte do mesmo pacote sujo e barato.
Ela riu com os olhos marejados.
Tina já estava devendo muito ao Universo e havia chegado a hora de pagar aquela dívida. Chega de covardia, pensou ela.
- Você bate feito uma menininha.
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Pedro e Tina
أدب المراهقينTina estava cansada de ver a amiga sofrer bullying e resolve se rebelar. As coisas estavam indo de mal a pior quando Pedro, um dos agressores, descobre algo sobre o passado dela que Tina queria muito esquecer. Refém dos caprichosos do garoto, ela c...