20. Enfrentando os medos

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Tina passou pelos portões da escola, mas parou atrás de um arbusto grande e ornamental. Adiante dela, ao longe, estava a gangue reunida próxima da escada. Muitas incertezas causavam aflição à Tina e a maior delas era o quanto de informação Pedro teria compartilhado com os amigos, em especial, sobre a Úrsula. Ela estava com muito medo. Havia trocado mensagens aleatórias com Amanda durante o café da manhã e a amiga parecia ignorar a situação.

Ela fechou os olhos e respirou fundo, como sempre fazia ao organizar os sentimentos, em busca de coragem. Quando os abriu, abafou um grito com as mãos em sobressalto, pois Pedro estava diante dela, a menos de um passo de distância.

- Se escondendo de alguém? - Ele sorriu e olhou para além do arbusto. - Você sabe que, mais cedo ou mais tarde, você vai ter que encarar ele. Espero que tenha conseguido engolir a raiva.

- Você contou pra alguém? - ela perguntou hesitante.

- Sobre o quê? - Ele logo supôs a resposta. - Sobre a Úrsula?!

Tina olhou ao redor temerosa de que alguém pudesse ter ouvido ele falar de forma tão casual sobre aquele fantasma.

- Não, eu não contei.

Tina respirou aliviada, mas voltou a ficar tensa no instante seguinte.

- Você vai contar?

Pela segunda vez, Pedro observou a menina trocar o comportamento obstinado de sempre por uma inesperada docilidade, o que conferia àquela informação um fascinante poder.

- Me dê um motivo pra eu não contar. - Ele estreitou os olhos estudando a situação.

- Eu não posso dizer minhas razões, mas acredite: é importante.

Pedro se aproximou e, quando ela tentou se afastar, ele impediu a segurando pelos pulsos.

- Se você não pode me dar um motivo - a voz era rouca e cheia de malícia -, o que pode me dar em troca?

O verde daquele olhar a inundou preenchendo e alterando cada espaço dentro dela. Tina pensou em perguntar o que ele queria, mas logo lembrou do que ele havia dito no shopping: "quero você" e teve medo de ouvir aquela resposta mais uma vez. A simples lembrança fez o coração bater forte e Tina colocou todo o esforço em esconder o que o corpo estava sentindo, sendo impossível dizer alguma coisa.

Pedro também permaneceu calado e aproximou o rosto, tão perto que ela pode sentir a respiração dele e o raciocínio ficou ainda mais confuso. O olhar dele desceu para os lábios, denunciando a possibilidade de um beijo e, por instinto, ela virou o rosto para se esquivar.

- Pedro, já tá implicando com a Pinscher?

Martins se aproximou e Pedro se afastou soltando os pulsos dela.

- Pinscher? - perguntou ele enquanto Tina tentava voltar a si deixando as sensações desconcertantes para trás.

- É aquele cãozinho, mini, que parece um Dobermann e acha que é um. Só acha, né, porque é totalmente insignificante. É assim que o Davi tá chamando ela, agora.

- Pois deixe ele morder seu calcanhar - brincou Pedro. - Eu quero ver se é insignificante mesmo.

Os dois garotos se afastaram e, ao ver o segredo dela ser levado embora, Tina agarrou o braço de Pedro tentando impedi-lo. Arrependida, ela recuou no mesmo instante. O garoto virou na direção dela, mas Martins estava ao lado, o que a impedia de dizer qualquer coisa. Ela fez uma súplica silenciosa e torceu para que ele a entendesse e considerasse o pedido.

A resposta de Pedro foi um sorriso discreto e um afago na cabeça, antes de se afastar. O gesto fez Tina sentir um calor reconfortante no peito que se espalhou por todo o corpo.

- Tina! Tá tudo bem? - Era Lex que acabava de chegar. - Pedro e Martins estavam de bullying com você?

Por alguns instantes, ela nada respondeu, perdida em pensamentos, tentando entender aquele estranho sentimento de cumplicidade que surgiu entre ela e Pedro.

E havia aquele suposto beijo.

- Você acha que ele poderia ter... Será?! - Após uma pausa, de cenho franzido, ela mesma respondeu. - Não. Só pode ser coisa da minha cabeça.

- Do quê você tá falando, Tina?

- Nada. Eu achei que Pedro teria tentado... Bobeira minha. - Ela sabia que não era impressão, mas era melhor evitar o assunto. - Eu fiquei nervosa e viajei. Só isso.

- O que eles queriam? Pedro falou alguma coisa sobre... aquilo? - Tina fez uma negativa com a cabeça. - Ainda acho que você deveria ter contado pra Amanda.

- Se depender de mim, esse assunto está enterrado. Acho que Pedro não vai falar nada, por enquanto.

- Por que diz isso?

- Não sei. Eu só acho, tá. Vamos pra sala.

Pedro e TinaOnde histórias criam vida. Descubra agora