23. Festa junina

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- Finalmente, essa festa junina chegou! - celebrou Amanda. - Quem sabe, agora, eles parem de implicar comigo e me esqueçam.

A menina estava cansada de ser o centro das atenções toda vez que o assunto entrava em pauta. A pior parte seria dividir a barraca com Paola. A melhor parte é que só faltava mais um dia daquela tortura.

***

A barraca que obtivesse o maior lucro ganharia um churrasco e a maioria dos alunos almejava a premiação.

- Se eles querem tanto ganhar - Tina perguntou à amiga em tom de desabafo -, por que não se oferecem como voluntários?

- Lei do menor esforço, claro - respondeu Amanda emburrada. - É mais fácil sortear quem faz o quê e ficar só exigindo dos outros, ao invés de ajudar.

Tina e Amanda não tinham intenção alguma de ir ao churrasco caso a turma ficasse em primeiro lugar. Por azar, Tina acabou responsável por levar um doce a ser vendido durante a festa e Amanda, por cuidar das vendas.

***

Já estava escuro quando Tina chegou com uma embalagem descartável nas mãos. Usava jeans com retalhos que ela mesma havia fixado, um top preto e, por cima, uma blusa xadrez aberta no peito com um nó na cintura. Ao ver algumas meninas de saia rodada e barriga à mostra, agradeceu ao destino ter escapado de dançar caipira.

Quando finalmente encontrou a barraca de palha e bambu, entre bandeirolas e cartazes de todas as cores, presenciou uma cena que a fez segurar o fôlego como se, dessa forma, pudesse prender o coração aflito dentro do peito.

Amanda estava com a boca toda suja de doce, Paola com a câmera do celular ligada e várias pessoas, entre conhecidas e estranhas, achavam graça da amiga.

Tina voou para a barraca colocando o doce no balcão com tanta força que uma parte da embalagem ficou destruída e uma cocada escapou para o chão.

- O que vocês pensam que 'tão fazendo?! - Tina gritou.

Amanda entrou em desespero ao ver a amiga em modo de ataque. Deu a volta no balcão o mais rápido que pode e arrastou Tina para longe enquanto limpava a boca com a mão. Por instinto, foi parar no corredor que levava à biblioteca, fechada àquela hora.

Quando se encontraram sozinhas, Amanda desabou em lágrimas de auto piedade, vergonha e derrota. Tina sentia o sangue ferver e só pensava em voltar ao centro da festa a fim de protagonizar uma cena de agressão.

- O que houve? - Tina agachou ao lado da amiga, sentada no chão cinza grafite, encostada na parede.

Foi com muito dificuldade, entre soluços e frases desconexas, que Amanda conseguiu explicar.

Desde o início da festa, Paola estava oferecendo beijinhos para quem comprasse na barraca, em um trocadilho com o doce de mesmo nome. A depender do cliente, Paola dava um estalinho na bochecha, na boca, ou dava um doce de brinde. Na base do flerte, ela aumentava as vendas.

Tudo começou a dar errado quando um garoto chegou querendo um beijo de Amanda. Era só um estalinho, insistiu Paola. Após muita pressão, Amanda acabou cedendo e, quando fechou os olhos, Paola espremeu um doce contra a boca da menina.

- Esse é o único tipo de beijinho que você vai conhecer, ô garota. - Paola havia filmado tudo sem que Amanda percebesse. - Se enxerga!

Foi nesse momento que Tina chegou, e lá estavam elas, escondidas como sempre, em um canto escuro da escola.

- Pega minha bolsa. Ela ficou na barraca - pediu à amiga. - Eu quero ir embora. Vou ligar pra minha mãe.

Tina respirou fundo para conter as emoções enquanto observava alunos e convidados lotarem o pátio e a quadra. Ela se misturou àquela infinidade de cores certa de que encontraria Paola ainda na barraca.

"Eu não vou perder a cabeça", repetiu como mantra por todo o trajeto.

Pedro e TinaOnde histórias criam vida. Descubra agora