Foi o sol ir embora para a temperatura cair bastante. Tina caminhava para casa aquecida pelo moletom de Pedro. Ela brincava com o excesso de tecido das mangas em uma tentativa frustrada de aquietar o nervosismo.
Quando ele ofereceu o casaco emprestado, Tina pensou em devolver a camiseta que estava lavada e guardada dentro da mochila. Não o fez. Disse a si mesma que era vergonha de falar sobre o dia no terreno baldio, mas ela sabia que havia algo indefinido justificando a hesitação.
Ao avistar a árvore da esquina sentiu a adrenalina a preparar para qualquer tentativa de intimidade. Ela estava determinada a manter distância, mas o frio na barriga denunciava o medo. Medo quanto à reação dele. Medo de ceder às reações do próprio corpo.
- Amanhã, no mesmo horário - foi tudo o que ele disse e aguardou, dando espaço para que ela fosse embora.
Tina, confusa, deu alguns passos devagar. Ela imaginou que ele seria rude como no primeiro beijo ou sedutor como no segundo. Porém, estava despreparada para agir como se fossem amigos. Eles não eram! Tina sempre destacava esse não.
Ela parou ainda de costas para Pedro. Uma enxurrada de perguntas invadiu a mente da garota, mas uma gritava mais alto: "o que diabos ele quer de mim?"
Tina girou nos calcanhares e voltou até ele.
- Esqueci que eu não posso. Minha mãe tá dando plantão, hoje, mas amanhã vai tá em casa e não vou conseguir sair. - Ela poderia esquivar da mãe, mas não. Não havia sentido em se esforçar para algo sem sentido algum.
- Que tal quinta?
- Você tá me perguntando? - Tina estava incrédula. - Tipo... Eu tenho escolha?
Pedro hesitou.
- Depende - respondeu com um sorriso travesso no canto da boca. - Qual a sua resposta?
Tina ficou indignada, pois era claro que não tinha escolha. E que pergunta era aquela?! Ele achou que em algum plano de existência ela aceitaria passar horas de ansiedade sem saber se ele a beijaria, se tentaria alguma coisa, se ela conseguiria manter distância ou se ele iria tolerar as recusas?
- Não! Se eu tiver escolha a resposta é não, nem quinta nem nunca. Mas eu não tenho escolha, tenho?
- Tem - ele respondeu fechando o semblante. - Você sempre teve escolha, mas preferiu insistir na briga com o Davi.
- É por causa do Davi?! - A lógica deixou Tina ainda mais irritada. - Você quer esfregar na minha cara que vocês venceram? Eu admito a derrota. É isso que você quer? - Lágrimas de raiva e humilhação começaram a embaçar a vista. - Eu perdi. Não há nada que eu possa fazer contra o Davi, contra... Contra você.
Assim que a voz falhou e as lágrimas tentaram escorrer, ela virou de costas com vergonha da própria impotência e da exposição. Enxugou os olhos no moletom e conseguiu se controlar. Só então percebeu que quase foi embora sem devolver o casaco.
- Não é isso. - A voz de Pedro era branda e educada.
- Então o que é? - ela perguntou olhando de volta para ele.
Ele desviou o olhar e nada respondeu.
- Você não precisa de mim pra estudar. - ela começou a desabafar. - Você se saiu melhor do que eu. Posso te mandar as anotações, faço resumos. Eu não preciso estar na sua casa. Aonde você quer chegar com isso? - Ele permaneceu mudo sem conseguir sustentar o olhar dela. - Eu não vou mais brigar com o Davi. Eu juro. Eu fui uma idiota, eu admito.
- Não! - Ele enfim a encarou, mas o significado daquele não era obscuro como tudo o que ele fazia.
- O que você quer de mim? - ela disse com um suspiro.
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Pedro e Tina
Teen FictionTina estava cansada de ver a amiga sofrer bullying e resolve se rebelar. As coisas estavam indo de mal a pior quando Pedro, um dos agressores, descobre algo sobre o passado dela que Tina queria muito esquecer. Refém dos caprichosos do garoto, ela c...