Prólogo

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Prólogo



Shinguru. Outubro de 2037.

A neve caía insistentemente e a noite era iluminada apenas pela lua.

O carro de modelo antigo estacionou próximo a reserva florestal do Parque Ecológico Yōji, na entrada do antigo Hotel Hitsuku. Uma figura encapuzada e de vestes negras saiu do assento do motorista, fechando a porta e rodeando o carro para abrir a porta atrás do banco do passageiro. Puxou o corpo sonolento e o arrastou para dentro do Hotel.

O homem de aproximadamente 65 anos foi jogado sem delicadeza no quarto sujo e fétido que um dia havia sido um quarto luxuoso, sendo descartado como lixo sem despertar preocupação da outra pessoa presente no recinto decadente, afinal, só havia ele e seu algoz. Estava amordaçado e seus pulsos foram amarrados para trás, impossibilitando seus movimentos tanto das mãos quanto dos braços, a corrente que foi usada para arrastá-lo até ali maltratava a pele do pescoço, a cortando. O agressor havia deixado somente seus olhos e pés livres de amarras ou venda.

A vítima estava desorientada, sem saber o que acontecia ao seu redor, nem ao menos quem estava ali com ele, em um momento estava no bar que sempre frequentava aos domingos junto aos seus amigos de infância e no outro já estava sendo puxado para interior de um carro e, em seguida, sendo arrastado por aquele lugar que todos julgam ser perigoso e assombrado. Em toda a sua existência nunca havia pisado naquele prédio antigo, com quase 80 anos de construção que ainda se mantinha em pé quase inteiro e que era, de acordo com as lendas locais, assombrado.

Assustado, ele se arrastou com muita dificuldade para o canto do quarto quando voltou a si e viu seu malfeitor adentrar o recinto segurando uma garrafa de vidro com a mão esquerda e uma seringa contendo um líquido suspeito na mão direita. Por maior que o quarto fosse, não demorou mais do que cinco segundos para que o homem estivesse em sua frente. Ele estava vestido totalmente de preto, calçando botas de combate militar e usando uma máscara de teatro retratando um semblante triste que cobria quase todo o seu rosto, mostrando somente a área da boca e dos olhos.

A vítima esperou que ele dissesse algo, qualquer coisa, mas a figura estranha apenas agachou na sua frente e lhe observou com um sorriso aberto cheio de dentes. O medo percorreu seu corpo, aquele sorriso deixava óbvio que, quem quer que aquele homem fosse e o que quer que planejasse, não seria rápido e indolor. O senhor apostava justamente no contrário. O mascarado então se levantou e rodeou seu corpo e a vítima ouviu o tilintar da garrafa de vidro contra o chão até que o estranho voltou a sua frente e, em um movimento rápido, chutou-lhe o peito causando uma terrível e agoniante falta de ar. Sentindo seus pulmões se encherem de sangue, a vítima curvou o dorso e encolheu-se tentando ao máximo se proteger. Respirar tornou-se uma tarefa difícil, o sangue escorreu pelas mordaças e um arrepio tomou conta de seu corpo, em seu íntimo ele sabia que a brincadeira estava somente começando e, sinceramente, orava para que toda essa agonia terminasse logo.

A mão coberta pela luva agarrou seu maxilar e levantou seu rosto. Olhar para aqueles olhos negros vazios de compaixão e cheios de ódio fez seu estômago embrulhar e o suor frio descer pela sua testa, o homem voltou a sorrir e o idoso amordaçado sentiu a faca rasgando sua blusa e, com este movimento, a pele do seu abdômen protuberante também sendo atingida. Não foi um corte profundo e mal sangrava, mas a dor da pele sendo dilacerada e a ardência persistente após o ato fez com que a sensação fosse desagradável mesmo que superficial.

Bruscamente o homem o jogou no chão e pisou em seu rosto deixando-o de perfil. A faca fora usada repetida vezes, agora em suas costas.

— Consegue sentir? — o estranho lhe perguntou enquanto cortava sua pele. — A faca rasgando sua pele, mas não era suficiente para matar, apenas o bastante para incomodar.

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