Lyght. A princesa da Luz Noturna.
Sorrio. Esse nome, a pessoa que ela era, seus pais... simplesmente combina. Se encaixa.-Vocês pegaram esse nome de "light", não é? Luz, em inglês?- perguntei, levantando uma sobrancelha.
-O quê?- ele responde, com uma expressão confusa.
-Ah. Esquece.- Só agora que percebo.
Eu só posso ser idiota.
-Então...- Rhys continua, ainda olhando meio torto pra mim- Ela era tão doce, calma. Tanto que, assim que colocamos ela no berço na primeira vez, em sua primeira noite, ela dormiu. Não chorou nada.Me lembro da minha mãe reclamando que fazer um bebê dormir era muito difícil. Tipo, eles ficam chorando, chorando e chorando. Inclusive eu e meus primos.
-No dia seguinte, nós dois ainda admirados pela calma da nossa filha, fomos vê-la. Só que... que...- ele começou a lacrimejar novamente- ela não estava lá.
Levo as mãos à boca. Então era isso que o deixava tão... triste, perturbado. O seu desaparecimento deixava seu rosto dominado pela dor, que chegava em mim.
-Não... estava lá?
-Ela desaparecera. Sumiu. Não deixou nem um único rastro.- Abro a boca para dizer algo, mas ele fala antes, agora com a cabeça recostada à parede.- Eu procurei. Olhei cada canto de Velaris, da Corte Noturna. Procurei em todas as Cortes, terras. Eu fui implorar até para Beron e Tamlin.
A garota sumiu. A filha tão amada de Rhys. Tenho medo de como ele teria ficado, do que ele seria capaz de fazer para encontrá-la novamente, já que engoliu o orgulho (ou não) e foi atrás de duas pessoas que ele odiava. Apenas para recuperar a menina.-A corte ficou arrasada. As tias, os tios.-Ele repuxa um pouco os lábios para o lado- Procuramos cada lugar, possível e impossível. Nunca procuramos por nada com tanta intensidade.
Aceno com a cabeça ainda imaginando como seria.
-Até que... começamos a investigar. Se não a encontraríamos caçando, alguma pista teria que nos levar até a minha filha. Vimos o que tínhamos de registro das pessoas, verifiquei com a magia. Até mesmo Cassian mexeu nos papéis, com uma paciência e atenção que até mesmo eu, em todos os nossos anos de convivência, nunca tinha o visto fazer.
"Havia se passado cinco anos. Cinco longos e terríveis anos sem ver um sorriso dela, os olhos da minha garota. Não vi os seus primeiros passos, suas palavras. Eu havia perdido, fracassado completamente na minha missão de encontrá-la. Você não faz ideia do que eu senti. Uma parte minha estava despedaçada, havia virado pó, porque já tinha perdido as esperanças de encontrar a minha filha. Feyre também. Nunca a tinha visto tão arrasada e destruída desde Sob a Montanha. Sempre havia algum som sendo transmitido pelo nosso laço mental, mas agora estava quieto, calado. Eu ouvia apenas silêncio no lugar de onde teria que ter uma risada."Me encostei na parede da casa, ao seu lado. Ele nem ao menos parece ter notado.
-Você já... falou disso para alguém? Desabafou sobre esse assunto?
Deve ser uma sensação terrível, a dor, a saudade. E seria pior ainda se nunca tivesse falado sobre isso com alguma pessoa.Quando eu penso que ele não iria me responder, ele nega com a cabeça.
-Nunca tinha pensado nisso. Nunca pensei que algum dia iria encontrar palavras para descrever isso que eu sentia no meu peito. O vazio. A dor de perder a minha filha.
Eu queria dizer alguma coisa, não deixá-lo falando sozinho, porém não conseguia dizer nada. Mas acho que apesar disso, ele sabia que eu estava ouvindo, compreendendo e sentindo cada palavra que ele dizia.Olhei para suas mãos, que repousavam tranquilas no chão. Mãos fortes, bonitas, com aqueles calos característicos de Rhys. Havia quatro estrelas de oito pontas em quatro dedos de sua mão esquerda. Encarei-as. Eram da mesma cor da tatuagem que começava em seu pulso e se perdia abaixo das mangas arregaçadas de sua túnica. Um azul muito escuro, quase roxo. As famosas tatuagens, com arabescos e redemoinhos de tinta negra, gravadas em seus braços algumas semanas depois do fim da guerra.
-Isso não estava aí antes, estava? As estrelas.- Falei, apontando para elas, que ficavam antes dos nós dos seus dedos.
Sei que essa é uma pergunta meio intrometida (ou totalmente, mas tudo bem), porém me sinto tentada a fazê-la. Tenho medo que não responda, mas ele diz, entre suspiros:
-É um acordo. Jurei para Feyre que encontraria Lyght. Mas nem ao menos sei mais se sou capaz de cumpri-la.
Sinto a dor em suas palavras. A tristeza com qual ele pronuncia isso.
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Lyght, a princesa da Luz Noturna
FantasyCento e trinta anos se passaram após a Guerra contra Hybern. A Corte Noturna celebra a chegada dos dois novos herdeiros dos Grão-Senhores, mas... Aaliyah é apenas uma garota que ama observar o céu e mora com os pais. Sonha em ter uma vida como a de...