- Filha? - Ouço, mas não abro os olhos. Que horas deviam ser? 7 da manhã?
Rolo para o lado no sofá, o que só irrita a minha mãe.
- Vai, levanta logo. Já vamos voltar pra casa. - Ela fala rapidamente, e então sai da sala.É segunda feira, o que significa que foi a terceira noite que dormi no sofá da sala de estar da casa de minha avó, pois aqui só havia dois quartos, o que dá no total de uma cama de casal e outra de solteiro. Não foi a primeira vez que tive que dormir aqui, e também não posso dizer que é agradável.
Ouço vozes conversando calmamente na cozinha. Pelo que vi, minha mãe já estava com um casaco de moletom e jeans, o que significa que já iríamos embora mesmo. Finalmente, depois de duas semanas, voltarei para casa definitivamente.
Suspiro e me levanto. Visto uma roupa que claramente não combinava nada com nada, mas eu acreditava que já voltaríamos direto para casa, então não tinha problema. Vou ao banheiro e depois me direciono para a cozinha, onde certamente todos estariam lá, conversando e rindo.
- Bom dia! Dormiu bem? - Pergunta a minha avó, me dando um beijo na bochecha.
Faço que sim com a cabeça, sorrindo um pouco.
- Que bom. Quer café? - Ela pergunta, pegando a jarra (ou a xícara, não me importava) da cafeteira elétrica. Aceito, mas o meu pai faz uma careta para minha caneca cheia.
- Já falei que não é para ficar bebendo café.
- Eu não bebo toda hora. - Falo, mas era mentira. Sempre que eu saía sozinha (e com dinheiro) eu comprava um. Não me importava se era pequeno ou ruim. Se tivesse gosto de café e uma quantidade considerável de açúcar, estava bom.
- Mesmo assim. Faz mal. - Ele diz.
- Deixa a menina beber o café. Ela só tem quinze anos; não vai morrer por tomar um pouco. - Minha avó sai em minha defesa.
Meu pai apenas emite um estalo com a língua e continua a comer o seu pão.Pego um pedaço de bolo e um pedaço de pão doce. Eu ficava isolada na ponta da mesa, sendo a única a não comer nada salgado.
A mesa já começara a ficar silenciosa. Todos assuntos que meus pais tinham para conversar com minha avó já haviam sido comentados desde sexta-feira, e eu já estava cansada de ficar sempre no canto, isolada. Não ter o que responder, não saber o que dizer quando falam comigo, não falar nada em conversa alguma. Sempre havia sido assim, eu quieta no meu canto, presa aos meus próprios pensamentos. Quando era menor, apesar de ser mais alegre e aberta, como uma criança normamente é, nunca fui como as outras. Elas sempre brincavam livres e contentes, com seus amigos de infância da escola, mas eu não sabia como era isso. Meus pais não me deixavam ir na casa dos meus amigos, e nunca fiquei mais de três anos no mesmo colégio. Não tinha irmãos, e raramente via os meus primos.
Nunca desabafava com ninguém. Raramente eu conseguia confiar em alguém para contar tudo o que eu queria contar. Não sabia se era um problema da minha cabeça ou alguma coisa do gênero, mas eu tinha certeza que, para qualquer um que eu contasse o que se passasse na minha cabeça, ela iria me julgar e achar que eu era maluca, sei lá.
Depois de algumas horas, finalmente estou deitada em minha cama. Na minha maldita cama, quase não consigo acreditar.
Esqueci de mencionar que, além de louca e deprimida, eu era exagerada.Consigo finalmente guardar as minhas coisas tranquilamente, sem a minha mãe ficar se queixando de cheiro nenhum. Eu sabia que não era nada, e a gente passou três dias inteiros na casa da minha avó, a atrapalhando, só porque minha mãe pirou por causa de um cheirinho que ela devia estar sentindo (que podia muito bem ser coisa de sua cabeça, já que eu acho que a minha loucura poderia ser hereditária).
Nunca valorizei tanto minha cama. Nem a minha internet decente e rápida. Eu posso estar exagerando novamente, mas acho que posso ter até arrumado minhas coisas mais tranquilamente e sem reclamações por causa do meu retorno.
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Lyght, a princesa da Luz Noturna
FantasyCento e trinta anos se passaram após a Guerra contra Hybern. A Corte Noturna celebra a chegada dos dois novos herdeiros dos Grão-Senhores, mas... Aaliyah é apenas uma garota que ama observar o céu e mora com os pais. Sonha em ter uma vida como a de...