Aaliyah ~ 11

3.5K 392 119
                                    

Estamos voltando para casa, o que significa que eu finalmente tive que lidar com a bagunça que só se acumulava no fundo do meu armário quanto fui obrigada a deixar meu quarto limpo e organizado antes de ir embora daquela cabana no meio do nada.
Agora, dentro do carro, eu apenas olhava o movimento da minha cidade, depois de umas 2 semanas em uma casa isolada no campo. Tudo parecia alto demais; rápido demais. Como se alguém tivesse acelerado as coisas que eu via e aumentado o volume dos barulhos que eu escutava. Era gritante a diferença.

Quando chegamos em casa, arrasto minha mala pelas escadas e me jogo na cama assim que chego no quarto. Quase 5 horas de viagem sentada no banco traseiro em um carro, sem nem parar uma única vez me deixou... cansada. Era péssimo ficar sentada em um estado estranho de dormir-acordar-dormir durante tanto tempo.

Faz apenas 2 dias desde tudo que aconteceu. Fiquei 2 dias ocupada arrumando algumas coisas, mas minha cabeça nem parecia se importar direito com o que eu fazia, porque a única coisa que eu realmente conseguia pensar era em... bem, tudo. No meu pulso tatuado, nas conversas, nas dores, nas lembranças. Tudo pesava sobre mim de um jeito irritante, mas uma parte minha ainda conseguia achar aquilo tudo incrível e, de certa forma, emocionante, porque era como se eu tivesse finalmente conhecendo alguém que eu era louca para encontrar. A única diferença era que eu tinha certeza absoluta que eu não os conheceria, porque eles de fato não existiam. Não era como se fosse um cantor famoso ou uma escritora best-seller; eram pessoas da ficção. Pessoas que vivem em um mundo de fantasia que, para o nosso mundo, não eram reais.

O problema disso é que eu nem presto atenção em mais nada na minha vida. Eu fico tão ansiosa, concentrada e obcecada por isso que não consigo fazer qualquer coisa que me impeça de pensar na situação. O que é terrivelmente exagerado, eu sei, mas o que eu posso fazer?

Quando eu finalmente reúno forças pra me levantar da cama e fazer o que tenho que fazer, minha mãe entra no quarto e diz:
-Está sentindo esse cheiro?
-De...?
-Não sei. Um cheiro forte, meio estranho. Acho que eu já senti antes, mas não faço ideia do que seja.
-Cheiro?- eu não sentia nada. Tudo estava perfeitamente normal.
-É, Aaliyah, chei...- ela para.
-O que foi?
-Deixe pra lá- e então ela se vira e vai embora.
Que cheiro? Eu não estou sentindo nada. Vou até a cozinha, nada; até o quintal, nada; até a sala, e nada. Não estou sentindo porcaria nenhuma. Concluo que ou eu não tenho olfato ou a minha mãe está louca.
Decido esquecer que isso aconteceu.

Volto para meu quarto e começo a desfazer a minha mala. Eu odeio isso. Ter que voltar da longa viagem e logo depois, passar pelo sofrimento de separar todas as roupas sujas, guardar todos os livros em ordem na estante, organizar todos os produtos de higiene e cosméticos e arrumar os lápis e cadernos. Sei que não é uma tarefa difícil, mas é cansativa. Principalmente se você queria estar na sua cama jogando ou lendo alguma coisa aquecida sob os cobertores.

Quando eu vou para o banheiro e passo pelo corredor, vejo meus pais discutindo por meio de sussurros, mas eles param quando me vêem. Olho para eles, eles me encaram. Discretos, eu diria.
Continuo meu caminho e guardo todas as coisas no armário atrás do espelho do banheiro, e então meu pai aparece na porta e diz:
-Guarde tudo.
Levanto as sombrancelhas.
-É o que estou fazendo.
-Não, eu quis dizer para guardar tudo na mala de novo. Vamos pra casa da sua avó.
-O quê?- falo, mais alto do que deveria, quase gritando- Pra quê?
-Sua mãe está preocupada. Vamos ficar lá por um tempo.
-Só por causa desse cheiro esquisito que eu nem ao menos consigo sentir?
-É.
-Qual é a necessidade disso?
-Filha, apenas guarde as suas coisas. Por favor.
-Quer dizer, vocês simplesmente não vêem problema em chegar invadindo a casa dela, avisando que vamos "ficar lá por um tempo"?- Falo, ignorando o que disse e me refiro à casa da minha avó.
-Sabe que não faremos isso, não sabe? Acha mesmo que irei até lá sem avisá-la?
-Claro que não. Mas o que eu estou querendo dizer é que vamos chegar lá e justificar que saímos da nossa casa e fomos até a dela porque a mãe acha que a casa está fedendo?
-Deixa que eu cuido dessa parte. Apenas vá guardar as suas coisas.- E então vai embora.

Lyght, a princesa da Luz NoturnaOnde histórias criam vida. Descubra agora