Aaliyah ~ 18

3.1K 351 30
                                    

Minha mãe está chorando. Tipo, muito. Soluçando e limpando o nariz na manga da blusa, abraçada à alguma almofada do sofá.
Céus, ela nunca chora. Nunca.
Corro até ela.
- Mãe... - gaguejo, já a abraçando.
Ela grita e se afasta de mim. Como se eu não fosse eu. Como se eu fosse uma completa estranha tentando consolá-la.

Eu já não sou mais a Aaliyah, porra.
Mas por dentro eu sou. E temo que sempre serei.

- A-aliyah? - ela fala, olhando torto e estranhamente para mim. Eu apenas me encolho um pouco no meu lado vazio do sofá.
- Sou eu. - E dou um sorrisinho.
E ao invés de dar aquele abraço que eu fui impedida de dar, ela só se encosta novamente no canto do sofá e recomeça a chorar.
- Meu Deus, mãe, sou apenas eu. Sei que não do jeito que você está acostumada, mas...

E, do nada, ela se levanta com um pulo, vem até mim e me abraça, sussurrando alguns pedidos de desculpa no meu ouvido.

Ela estava pedindo desculpas.
Então... ela tinha culpa nisso.
O que havia acontecido?

- Mãe, eu... - engulo em seco - Você... por favor, me explique o que aconteceu.
Então ela me solta, se senta ao meu lado no sofá e seca as lágrimas em seu rosto. Fica alguns segundos apoiada no encosto do sofá, respirando fundo, até que olha para mim novamente.

- Eu quero que saiba que... tudo o que eu fiz foi... no desespero, sabe? Eu não estava muito bem, não pensei nas consequências do que eu estava fazendo, nem quantas vidas eu iria alterar... - Ela disse, mas senti que também era um pedido de desculpas à Feyre (que ela certamente pôde notar que era a minha mãe de verdade, considerando as nossas características físicas semelhantes).
- Então, você... céus, você sabia. - Suspiro. Não havia sido, sei lá, um acidente. Isso me entristecia um pouco.

Sua expressão aparenta um pouco mais de tristeza e mágoa, mas continua:
- Quando eu conheci você, tinha acabado de ter a minha filha, sabe? Eu estava grávida. Mas... ainda não era a hora dela nascer. Faltava cerca de um mês ainda, então o bebê não havia se desenvolvido direito e... - Ela abaixa a cabeça, como se aquela lembrança a abalasse ainda mais. E devia mesmo. Meu Deus, deve ter sido terrível. Ter uma filha morta.

Assinto e pego em sua mão, para demonstrar apoio. Com esse gesto, ela parece um pouco mais feliz.
- Eu estava péssima. Chorava o dia todo. Não sabia até hoje como seu pai havia conseguido suportar aquilo tudo e ainda me aguentar, mas ele me ajudou muito. Aí... - Ela para totalmente. Respira mais um pouco, e continua - Um homem muito estranho apareceu lá no hospital, segurando um recém-nascido, também. Eu não aquilo acharia estranho, afinal, aquilo era uma maternidade, se não fosse... se não fosse o seu tamanho e porte, o tipo de suas roupas, o seu cheiro e algo muito estranho que ele emanava.
- Cheiro? - Pergunto. Céus, a minha mãe só podia ter alguma neurose com esse negócio de cheiro.
- Por isso eu quis ir embora de casa, naquele dia. Era o mesmo cheiro. - Ela declara.
- E daí que era o mesmo cheiro? O que tem isso?
- Aquele homem te trouxe naquele dia! E eu tinha tanto medo que ele te levasse. Não suportaria isso. - Sua voz vai perdendo a força.

Esfrego a testa, como se isso me ajudasse a entender mais facilmente o que estava acontecendo. O que aconteceu.
- E como era esse cara?
- Ele... bem... Ele era bem alto, forte, tinha um cabelo loiro comprido...

Nesse momento, ouço um xingamento vindo de onde eu havia surgido novamente em minha casa. Feyre.
Claro. Minha mãe havia acabado de comprovar que tudo o que havia acontecido... fora por causa de Tamlin.
Merda.

- Ele reparou no meu choro, me fez contar o porquê dele, e então... - ela faz uma pausa, e então olha novamente direto em meus olhos - Desculpe, Aaliyah, eu juro que não sabia o que estava fazendo quando eu... eu... - Ela gagueja.
- Você...? - Aperto um pouco mais sua mão, encorajando-a a continuar.
- Ele me ofereceu você... disse que poderia fazer com que você realmente se parecesse com a filha que eu perdi, e que o lugar de onde você vinha... não a queria. - Ela retoma o choro.

Lyght, a princesa da Luz NoturnaOnde histórias criam vida. Descubra agora