Rhysand ~ 16

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- Amren, já pode ter passado pela sua cabeça que talvez seja muita coisa para ela? Ou que... -
- Rhysand, o que é muita coisa para ela? Descobrir que magia e pessoas imortais existem? Faça-me o favor. - Ela fala em tom de deboche, e depois emite um estalo com a língua.
- Você não sabe o que ela sente. Não viu todas as dúvidas que ela tinha. Mas eu vi. Não é justo que a julgue desta maneira.
Ela suspira.
- Certo. Ela tem que pensar, lidar com suas preocupações e pensar sobre suas dúvidas. Ótimo. Mas você não fala com ela há 3 dias. Não tem o menor sinal dela há todo esse tempo. Precisa se mexer, Rhysand! Nem a sua filha nem aquela garota vão aparecer milagrosamente à sua porta. -
- Não vou pressionar Aaliyah. Quando estiver pronta, falarei com ela.

Amren se levanta do sofá onde estava deitada, próxima à janela, tomando sol. Eu tinha vindo até seu apartamento para conversar com ela a respeito de diversos assuntos relacionados à alguns problemas em cidades, essas coisas. Não me lembro exatamente de como chegamos a esse assunto, mas desejo agora nunca ter entrado nele.

Ela anda algumas vezes pela sala, então olha para mim novamente. Estava sentado, jogado sem jeito em uma poltrona próxima à lareira apagada. Ela se encosta no balcão da cozinha, e então retoma:
- E temos outra opção? -

Esse era o problema. Não tínhamos saída, mesmo que eu odiasse admitir isso. Aaliyah era a minha última e única pista, e eu sabia que devia focar nela, mas às vezes eu me odiava por isso. Porque, veja só, isso soa terrível. Extrair todas as informações que podia dela para encontrar a minha filha.
Mas eu tinha que fazer isso. Estava quase lá, e não podia parar. Não agora.

- Falarei com ela hoje, ao amanhecer. Mas apenas conversarei com ela, entendeu? -
Amren revira os olhos.
- Por que não pensou exatamente nessas palavras ao considerar a possibilidade de vir até aqui logo cedo? São 5 horas da manhã. O sol mal nasceu. - Ela pergunta, com irritação.
- Você já estava acordada - Falo, erguendo uma sobrancelha.
- Isso não quer dizer que você tenha o direito de vir até aqui, essa hora, para ficar reclamando de Keir. -
- Claro que eu tenho. Sou o Grão...
- Não ouse usar essa desculpa para cima mim, Rhysand. Não sou obrigada a lidar com os seus delírios de grandeza.

Passamos um tempo converando a respeito do que vim tratar a princípio, mas quando saí de lá, notei que já eram 6:30. Será que Aaliyah já estava acordada?
Não. Só vou visitá-la mais tarde. Nem ao menos sei o que direi.

Fico pensando nisso. O que eu posso dizer a ela? "Olá, eu sei que está assustada e, de certa forma, com medo de tudo isso, mas você não quer me ajudar"? "Me desculpe por aquela noite e tudo o que aconteceu, porém, você sabe, eu preciso encontrar minha filha. E você pode me ajudar."?
Eu não posso dizer isso. Mas o que direi? O que eu posso falar, sem que soe insensível? Porque eu via a sua mente, seus pensamentos, seus sentimentos. Eles já eram confusos e amontoados o suficiente; não precisavam que eu chegasse e dissesse coisas que a fariam pensar e ficar mais cheia do que estava. Não podia fazer isso. Não era justo.

Penso em voltar para casa, mas isso fica mais difícil a cada dia. Odeio ter que olhar nos olhos de minha parceira, nos de meus irmãos, nos de minha prima, nos das irmãs de Feyre e não ter nem ao menos uma informação de Lyght. Odeio ter que fingir que estou cada dia mais confiante, sendo que estou exatamente o oposto disso.

Me limito a ficar deitado no telhado, encarando o céu azul do dia que acabou de começar. Vejo as montanhas que eu tanto amava e conhecia ao fundo da paisagem, com seus topos salpicados de branco devido ao inverno. Vejo os algumas pessoas caminhando pelas ruas, provavelmente pensando em suas tarefas diárias e em outras preocupações normais, que todos têm.

Às vezes eu imaginava como seria a minha vida se eu não fosse... eu. Se eu não fosse um Grão-Senhor, o mais poderoso da história; se eu não fosse caçado e testado a minha vida toda; se eu fosse apenas mais um macho vivendo tranquilamente em alguma corte, qualquer que seja. Se eu vivesse uma vida feliz e calma, sem o medo diário que eu tinha pela segurança de minha família, sem o dever que eu sentia em mim todos os dias. Eu estaria vivendo em uma casa no meio de muitas outras, com minha parceira e filhos, pensando em quando eu teria que visitar a minha família pela próxima vez? Eu teria mãe, pai e irmã vivos, normais e saudáveis?

Lyght, a princesa da Luz NoturnaOnde histórias criam vida. Descubra agora