Aaliyah ~ 7

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Espera.
Eu? Uma garota normal, humana, em Prythian?
Eu acabei de conhecer o cara, e ele já quer me levar para lá?

Isso ou vai dar muito certo ou muito errado.

-O que você disse?- falei, boquiaberta.
Há divertimento em seus olhos, mas algo me diz que ele não está brincando. Está falando sério.
-O que você acabou de ouvir, Aaliyah. Eu entendo se você não quiser ir, mas...

Se eu quero ir? Mas é claro que eu quero.
Porém ele simplesmente acha que eu vou chegar aos meus pais e dizer: "Ei, mãe, parece que terei que dar uma passadinha lá na terra dos feéricos, em Prythian, onde eles podem me matar com um simples pensamento, mas eu já volto, OK?". Também porque eu duvido que eles não perceberão se eu desaparecer por um tempinho.

Mas fora isso o que eu disse, sim, eu quero ir. E esse é o maior problema.

-Rhys, eu...- gaguejo - eu quero ir, mas os meus pais... bem, eles não lidarão muito bem com a notícia, sabe? Que magia existe e tudo mais.
-Eu posso explicar a eles.- Bato a palma da mão na testa. Ele não está entendendo.
-Sabe que não é tão simples assim.

Ele se recosta na parede novamente, frustrado. Ele não entende que a minha situação não chega perto à deles, que nem ao menos leram um livro a respeito do assunto. E, mesmo que tenham lido, jamais acreditarão que esse universo existe de fato.

-E o que faremos, então?- ele pergunta, as mãos apoiando seu queixo, fazendo uma expressão de quem está pensando em algum plano.
Dou de ombros. Eu poderia ir escondida, mas quanto tempo eu ficaria lá? 1 hora? E se eu dissesse que estava na casa de minha amiga? Bem, meu pai certamente poderia ligar para ela, e então descobriria que eu não estava lá, e...

De repente, ele interrompe meus pensamentos:
-E se você dissesse que estava em algum outro lugar?
-Por acaso você está olhando em minha mente de novo, Rhys?- pergunto, cruzando os braços.
-Não- ele responde, com um sorriso no rosto.

Penso com todas as forças e fico repetindo: Mentiroso, mentiroso, mentiroso.
O safado ainda tem coragem de rir. Babaca.

-Voltando ao assunto, não, eu certamente não poderia fazer o que disse. Meu pai facilmente descobriria.
Ele fica em silêncio por alguns momentos, mas depois diz:
-Aaliyah, eu realmente não gostaria de lhe propor isso- ele suspira-, mas eu poderia alterar as memórias de ambos. Seus pais nunca saberão que saiu. Farei-os esquecer.

Desvio o olhar. No momento, essa era a única alternativa, mas eu não queria que tivéssemos que recorrer a isto. Por exemplo, e se algo der errado? Rhysand mesmo disse que sua magia é diferente por aqui.

Eu tinha 3 escolhas, que por mais que fossem simples, não eram as melhores:
•Fazer isso que está propondo;
•Tentar sair sem ser vista, mas sem mexer em memória nenhuma, porém correr riscos enormes;
•Simplesmente não ir à Prythian.

-Mas se lembre que não é obrigada a ir. Estou apenas lhe propondo a visita para melhorar a sua visão de nosso mundo e ajudar a encontrar minha filha, pressionando Tamlin. Porém, a escolha continua sendo sua.

Esse era o Rhysand que eu conhecia. Altruísta, justo, que não impõe o que ele quer a mim. Me deixa fazer minhas próprias escolhas. Assim como fizera com Feyre e sua família.

Olhei para o macho deitado em minha cama, jogado sobre ela como se fosse seu dono, limpando as unhas. Uma pessoa boa escondida sob uma máscara arrogante, fria e má. Era elegante e lindo, tinha traços suaves e fortes. Tudo nele aspirava poder, escuridão, trevas. Mas mesmo com coisas tão intimidadoras como essas, eram perfeitas para a pessoa que ele era. Simplesmente combinavam.

-Você... tem certeza que consegue alterar suas lembranças sem sequelas?
Ele olha para mim e levanta uma sombrancelha.
-Então eu posso...?
-Somente se me garantir que funciona.
-Até hoje, nunca deu errado. Mas aqui minha magia é limitada, portanto- ele dá uma pausa-, não, não posso te garantir.
-Já testou?- pergunto. Tem que ter alguma maneira.
-Não. Não tive a oportunidade.

Penso em algum modo de testar. Quem?
-Eu. Faça em mim.- digo. Uma coisa era alterar a mente de meus pais, que não tinham nada a ver. Outra era testar em mim, que sabia o que estava fazendo.
Ele hesita:
-Quer que eu tente em você?
-Sim. Não posso permitir que faça com meus pais sem que tenha certeza de que é seguro.
-Mas é seguro. Apesar das limitações, tudo que consegui fazer nesse lugar não apresentou nenhum erro.
-Mesmo assim, teste em mim antes de fazê-lo em outras pessoas.

Ele olha para mim, engole em seco e diz:
-Vou olhar e alterar alguma coisa simples que achar desnecessário, tudo bem? Não posso lhe contar o que é, senão poderá se lembrar.
-Tudo bem.
Ele olha fixamente para meus olhos, se concentrando. Alguns segundos depois, ouço uma voz em minha mente: "Pronto", ela sussurrava.
-Já?
-Está vendo? É seguro.- ele dá de ombros.
-O que mudou?
-Uma lembrança de você lendo um livro. Espero que não seja tão importante, já que parecia tão entediada.
Tento me lembrar de alguma coisa. Uma lembrança destruída, qualquer coisa que me desse uma dica do que fora perdido, mas não consigo nada. Céus, deu certo.
-Eu não acredito que você mudou a memória de um livro. Terei que lê-lo novamente!
-Eu te arrumei um novo livro. Deveria me agradecer.- ele sorri. Idiota.
-Tá- digo, zangada-, o importante é que agora sabemos que isso funciona normalmente por aqui.
Ainda estou meio relutante com relação a isso, então farei o possível para que a magia não seja necessária no caso.
-E então, vamos para Prythian?- ele pergunta, esperançoso.
-Só porque estou curiosa.- respondo, com uma falsa irritação- Não é porque quero te ajudar.
-Claro que quer- ele responde, se levantando.
-Espera, vamos agora?
-Não. Precisamos planejar a sua ilustre visita, Aaliyah, querida. Tanto eu quanto você, na verdade.

Mas como diabos eu me planejo para isso? Arrumando uma roupa, roubando facas da cozinha ou arrumando uma mochila com roupa extra, comida e água?

-Vai nos atravessar direto para a Primaveril?-pergunto algo que veio à minha mente no momento.
-Bem, se importa de conhecer minha família antes? Talvez alguém resolva ir conosco.

Dou um sorriso. Vou conhecer o Círculo Íntimo!
-Irei conhecê-los?- pergunto, entusiasmada.
-Quer tanto assim?- ele indaga, com uma expressão divertida.
-Eu gosto deles. Especialmente das "brigas", sinceramente.- penso naquelas pessoas, naquele grupo tão peculiar. As personalidades opostas, que rendem situações divertidas- Lucien ainda está com vocês?
Ele assente.
-Mora junto com Elain, em uma casa afastada de Velaris, apesar de passar a maior parte do tempo na Diurna. Não faço a menor ideia do porquê.

Elain aceitou o laço, pelo jeito. Deve ter dado um certo trabalho, mas eu achava que alguma hora isso iria acontecer. O cara atravessou Prythian, lutou com os irmãos, fugiu pela segunda vez e quase morreu de frio apenas para tentar ver se ela valia a pena.

Coitado de Azriel.

-Bem, eu vou indo. Eu te aviso que dia iremos.
-Eu tenho uma pergunta- falo -Como devo me preparar para isso?
-Bem, eu não espero uma luta, então acho que roupas normais bastam.- Ele diz- Mas se quiser que eu arrume alguma coisa, me avise. A única que tenho para dizer é para você se preparar para perguntas, preconceitos com o fato de ser humana da parte de algumas pessoas, essas coisas.
-Está bem. Mas como você vai falar comigo de lá?- Ele não deve ter telefone.
Rhys apontou para meu pulso esquerdo.
-É como o de Feyre, porém menos exagerado.
-Ah. Mas só você poderá se comunicar não é? Não sou daemati, sabe?
-Darei um jeito.- dá de ombros -Talvez eu te faça mais uma visita.
-Contanto que não me dê outro susto como o de hoje.
Ele ri ao se lembrar.
-Boa noite, Aaliyah.- Rhysand diz, já sumindo em meio às sombras.

Dou um longo suspiro.
Fico sozinha novamente em meu quarto, que agora parece infinitamente mais vazio sem a presença sombria e intimidante de Rhys.

Permaneço um longo tempo pensando em como seria minha vida agora. Se a sua visita mudaria tudo ou se ele encontraria sua filha, dirá adeus para sempre e me deixará aqui, para que eu vivesse até os meus últimos dias tendo a pura certeza que imaginara tudo. E eu temo que isso seja verdade; devido à minha solidão e necessidade de viver ou sentir alguma coisa, eu posso ter inventado tudo. Enlouqueci.

E tudo o que me restara era me entregar a essa loucura.

Lyght, a princesa da Luz NoturnaOnde histórias criam vida. Descubra agora