Todos olhávamos para Tamlin, que descia as escadas.
-Tam, por favor, fale logo. Eu estou pendurado aqui há um bom tempo.
-Solte-o- Ele pede.
Rhysand levanta as sombrancelhas. Tamlin suspira.
-Rhysand, o que quer que eu faça? Que eu me ajoelhe aos seus pés novamente?
Rhys emite um estalo com a língua.
-Deixe disso. Apesar de ser tentador, dessa vez não vou conseguir manter a compostura e vou gargalhar.Manian revira os olhos e diz, entediado.
-Céus, não fará a menor diferença vocês me soltarem agora ou daqui a dois minutos. Essa posição é tão desconfortável.
-Isso depende única e exclusivamente dele- Ele responde, apontando com o queixo para Tamlin ao pé das escadas.
Manian lhe lança um olhar de súplica:
-Anda logo com isso.O Grão-Senhor da Corte Primaveril começa a falar:
-Tive que resolver problemas nas minhas terras. Cem anos depois e ainda existem muitas marcas deixadas pela guerra, principalmente no meu território.
-Que tipos de problemas?
Sério mesmo que ele vai ficar prolongando o assunto? Mesmo sabendo que é tudo mentira?
-Criaturas que atacam as aldeias, hybernianos causando confusões, sem falar em como o meu povo anda descontente.
- Bem, isso não é problema meu. - Era verdade, apesar de eu sentir um pouco de dó dele. O cara foi pressionado a trair Hybern sendo que eles já tinham praticamente dominado as suas terras e teve a Corte desunida por Feyre (mas não vou dizer que não foi merecido porque, né?). A Corte Primaveril foi a maior prejudicada, pois perdeu a sua senhora, a Grã-Sacerdotisa que era muito importante (e idiota também), o emissário e os soldados ao mesmo tempo.
- Eu estou aqui, não estou? Não fugi.Aquilo estava me irritando profundamente. Eu estava quase indo até lá para mandá-lo falar tudo que fez para que pudéssemos ir embora logo. Já estava cansada dele mentindo descaradamente na nossa cara como se fôssemos um bando de crianças burras que não entendem o que está acontecendo ao nosso redor. O que diabos esse babaca cego não estava enxergando?
-Já que você não tem a capacidade de responder uma pergunta simples como a que eu acabei de fazer, vamos ver se você entende outra.- Rhys suspira- O que é aquele lugar?
- Que lugar? - Ele pergunta. Mas que merda.
- Quando eu vim te perguntar sobre minha filha pela primeira vez, Tamlin, você me levou até Aaliyah. Poderia me explicar que lugar é aquele? - Voz entediada de novo.Tamlin parece olhar para mim pela primeira vez desde que chegamos. Sinto seus olhos verdes brilhantes sobre mim, e ele me olha com um desinteresse que consegue acabar com a autoestima de qualquer um.
Quando parece querer começar a dizer alguma coisa, Manian (esquecido lá na parede) diz:
-Será que dá pra me tirar daqui? Tamlin já contou onde foi e...
E então ele cai de joelhos no chão. Levanto as sombrancelhas, quase rindo, mas ele apenas se levanta, limpa levemente os joelhos e diz, com um sorriso debochado no rosto:
-Obrigado.Eu quase deixaria isso passar, achando que foi apenas uma situação engraçada, mas não consigo. Não pode ser coincidência que toda vez que Tamlin tem de dar uma resposta mais "difícil", Manian interrompe. Não sei se ele está ganhando tempo ou alguma coisa do gênero. Ele é daemati; pode enfiar o que quiser na cabeça de Tamlin que ninguém percebe.
- Quem é você?- pergunta para mim.
- Aaliyah. Humana. 15 anos. E não, eu também não gosto muito de você. - Por motivos óbvios, acrescentei mentalmente.
- E o que tem a ver conosco?
- Essa é uma ótima pergunta. O que eu tenho a ver com vocês, Tamlin?
- E acha que eu sei?
- Você o mandou para minha casa no meio da noite - aponto para Rhysand- Era de se esperar que soubesse alguma coisa.
- Não. Não sei.
- Ah, jura? Sobre o que você sabe?- falei, irônica- Daqui a pouco você fala que nem ao menos sabia que Rhysand teve uma filha com Feyre. Aliás, você se lembra de quem é Feyre mesmo?
Eu devia estar louca por estar falando dessa maneira com um Grão-Senhor, mas concluo que era isso, ou um xingamento atrás do outro. Mas, céus, eu já estou irritada dele se fazendo de coitado, inocente, ignorante e alheio a tudo isso. Papel de vítima de uma falsa pista não combina com ele.
Ele me olha com raiva, mas depois de tudo isso, nem me importo mais.
-Quando ele apareceu na minha casa me pressionando da última vez, eu estava desesperado e tentei mandá-lo para o mais longe o possível de mim.
-E por que você ficou desesperado, sendo que é inocente?
-Você não o conhece. Ele é impulsivo- aponta para Rhysand, que sorria-, iria me matar!
-Ah, mas não foi por falta de motivo.- Falo. Não, eu não devia estar falando dessa maneira, mas quer saber? Não me importo. Ele sabe que eu estou dizendo a verdade.- E eu não estou nem falando da filha dele.
-Essa não é a questão. Se Rhysand quer me matar por algo que fiz há cem anos atrás, que resolva isso em outro momento. O problema é que ele agora me quer morto por algo que eu não fiz.
-Não fez?- falo, irônica. Também cruzo os braços para dar mas ênfase. Sua expressão é incrível.
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Lyght, a princesa da Luz Noturna
FantasyCento e trinta anos se passaram após a Guerra contra Hybern. A Corte Noturna celebra a chegada dos dois novos herdeiros dos Grão-Senhores, mas... Aaliyah é apenas uma garota que ama observar o céu e mora com os pais. Sonha em ter uma vida como a de...