Capítulo 7: Os muros ruíram

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07 de Setembro, 2018

Eu estava inegavelmente atrasada.
Quando tentava prender meu cabelo com a pulseira (ato causado pela pressa), ouvi a campainha.
Desisti de amarrar a juba vermelha e me encostei na porta, pra ouvir.
—Ahn... Olá! - ouço mamãe.
—Bom dia, sou Henry - Henry!!!! - Amigo da Mett!
Ownn, ele é meu amigo!!! Ok, tenho que me conter!
Peguei a mochila e o celular e desci.
Fiquei na escada, apenas observando.
—Mett? - questiona meu pai.
—Não quis dizer Matthew?
Eles estavam duvidando da minha amizade com Henry?! Indignada.
Meu celular vibra na minha mão.
Desbloqueio.

"-Ele está nervoso" - Maninho😻.

"-Até tá parecendo que está te pedindo em namoro!"

O que?
—Matthew!!! - berrei e ouvi as risadas dele, indo pra cozinha.
—Essa Mett? - ouço papai.
—É, essa Mett! - confirmou, enquanto eu dava uns tapas no meu irmão.
Os três apareceram, enquanto eu dava um último tapa na cabeça de Matthew.
—Brigando logo cedo, Mett? - questionou papai.
Olho pra ele com cara de inocente.
—Brigando? O que é brigar? Eu estava apenas demonstrando meu profundo afeto pelo meu irmão. Em tapas! - sorrio.
—Foi uma ótima desculpa! - afirmou mamãe.
Rio e vou até a geladeira, pego uma maçã e mordo.
—Não vai tomar café, MettMerry? - pergunta mamãe.
—Estamos atrasa... - tropeço na minha mochila e Henry me segura.
—Por que você vive caindo?  - pergunta.
—Vai pôr as lentes, Maninha! - falou Matthew, se levantando.
Me levanto, subo as escadas e ponho as lentes.
—Vamos, MettMerry! - grita Matthew.
Pulo os últimos degraus e vou pra porta.
—Tchau, mãe. Tchau, pai! - falo, pegando minha mochila com Henry e mordendo minha maçã.
—Tchau!
Fecho a porta e fomos pra escola.
Matthew olhou o horário no celular.
—Merda! - exclamou - Me esqueci completamente.
—O que? - questiono.
—Tinha que estar agora, com meus amigos, na quadra. O professor vai dizer quem está no time! - começou a correr - Nos vemos na escola!
Começamos a rir.
—Não devíamos correr? - pergunta.
—São 6h55min, a escola está à seis minutos daqui. Um minuto de atraso. Apenas isso.
Dou de ombros.
—Pensei que você gostasse de entradas triunfais!
—E eu gosto!
—Então, vamos! - ele pega minha mão (obs: teve aquela corrente elétrica novamente).
E me obrigou a correr.
—Eu sou sedentária! - gritei contra o vento.
—Vamos logo! Você é lenta demais! - comentou.
Como? Nunca me chame de lenta na sua vida!
Me soltei dele e comecei a correr mais rápido que ele.
Parei na frente do colégio, ofegante.
Ele se aproximou.
—Viu? E ainda são 6h58min! - exclamou - Vamos entrar!
Ele avançou um passo, mas olhou pra trás.
Eu encarava a entrada do colégio, porém não pretendia entrar.
—O que foi? - pergunto, chegando mais perto.
—Eu não sei. Entrar com você fará, provavelmente, que eu perca a minha coroa! - falo, meio chateada.
—Coroa? Ah! Você é rainha do terror, certo? - ele pôs uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.
Levantou meu queixo com o indicador e sorriu.
—Você tem medo de perder sua realeza?
—Um pouco - dou de ombros.
Henry aproximou sua boca do meu ouvido.
—Se você perder sua coroa vermelha, eu te dou uma nova. Mas, apenas se você quiser ser minha rainha! - sussurrou.
Por fora, estava perplexa. Por dentro, eu tava morrendo!
Ele se afastou e abriu um sorriso.
—Vamos?
—Vamos!
Como de costume, o mar de alunos foi aberto. O que estava me incomodando era os comentários.
"Ele não tinha medo dela?", "Aposto que ela está o obrigando a ficar perto dela" e/ou "Coitado, tem que ficar com a garota mais assustadora da escola!".
—Calma, respira! - sussurra Henry.
Me mantive calma até Chuck comentar algo.
—Estávamos certos, então! - ouço, paramos no meio do caminho - A temida rainha do medo, a temida MettMerry, está apaixonada pelo Henry!
Estalei a língua no céu da boca, me viro lentamente.
—Como? - pergunto, lhe lançando aquele olhar tenebroso.
—I-isso aí que você ouviu! - gagueja Chuck.
Rio sarcástica, jogo meu cabelo pra trás e me aproximo do garoto.
—Você acha mesmo que eu seria capaz de amar alguém, Chuck? - questiono.
O garoto deu um passo pra trás.
—A-acho!
—Tem certeza? Eu, a temida rainha do medo, a temida MettMerry, a insensível?
Ele fez uma cara de choro e negou com a cabeça.
—Não, você nunca amaria alguém! - exclamou e saiu correndo.
—Tsc, idiota! - falo, me virando.
Henry estava assustado, de novo. Olhei para sua mão e tinha uma rosa. Ele iria me dar ela. Como o pedido de desculpas. Merda!
Ele a deixou cair e saiu correndo. Matthew saiu do meio da multidão e pegou a rosa.
Eu ainda meio paralisada.
Meu irmão se aproximou e me entregou a rosa.
—Acho melhor você ir atrás dele. - falou baixo.
Assinto e vou atrás dele.

Já tinha tocado o sinal da primeira aula, mas eu não me importei.
Eu queria saber onde ele estava!
Procurei na escola inteira, só faltava um lugar. As arquibancadas.
—Henry! - gritei.
Não tinha ninguém lá. Suspiro. Tenho que esperar a primeira aula acabar, então sento no meu lugar de costume.
Olho pra rosa, que tinha um papelzinho preso.

"Espero estar desculpado!
                                   Henry❤"

Merda!
—Teria algum problema você me amar? - ouço, olho pra baixo.
Lá estava ele, escondido.
—Henry...
—Teria algum problema você amar alguém além de si mesma? - perguntou, parecia que iria gritar.
—Eu...
—Eu sou uma pessoa tão horrível assim pra você nem querer que insinuam que me ama?! - gritou.
Ele saiu do esconderijo e me encarou.
Seus olhos verdes pareciam que estavam ardendo em chamas.
Nos encaramos por alguns minutos.
—Você acha que é fácil ou legal pra mim ter que ouvir todos esses comentários?! Saber que algumas pessoas já estão me chamando de estranho por aí, só porque eu ando com você?! - gritou.
"Você me dá nojo!", "Eu tenho medo de você", "Não quero mais ver você!".
Estava se repetindo! Tudo estava se repetindo!
Tudo isso porque eu deixei alguém quebrar minha defesa! Deixei entrar nos meus muros! Argh, como eu sou idiota!
Me viro, sentindo meus olhos marejarem, respirei fundo.
—Eu sinto muito. Sinto muito por ser tão estranha - engulo o choro, que estava já entalado na garganta - Por ser tão assustadora. Eu sinto muito.
Deixei a rosa no banco e sai andando.
Assim que entrei, o sinal tocou, fui direto pra sala de ciências e sentei no meu lugar.
Henry chegou um minuto depois e se sentou ao lado.
Eu vi, de relance, a rosa em sua mochila.
—Bem, alunos, você vamos falar dos sentidos! - disse a professora.

Arrumei meu material calmamente e esperei meu irmão na porta.
—Vamos? - pergunto, assim que ele saí.
—Não vamos esperar o Henry? - questiona.
Nego com a cabeça e vou em direção do meu armário.
—O que aconteceu? - pergunta, assim que fecho a porta de metal.
Contei resumidamente pra ele.
—E vocês não vão se resolver? - pergunta, já no caminho de casa.
Dou de ombros.
—Acho que foi melhor assim. Mais um passo dele e tudo o que construí pra minha proteção iria ruir.
—Sinceramente, Mett, quer um conselho?
Suspiro.
—Quero... - respondi derrotada.
—Ele, sem querer, acabou vendo uma parte sua, que você não mostra pra ninguém! Ele viu você sendo gentil. E acabou criando uma imagem sua sendo gentil sempre, ele vai ficar assustado, vai ficar bravo. É normal! - ele abriu a porta de casa e me encarou - Não pense de mais no que aconteceu no passado, senão isso vai estragar o agora e o seu futuro.
Ele entrou, me deixando perplexa na calçada.
Meu irmão é bom conselheiro! Nunca imaginei isso!
Olhei pro céu azul.
—Talvez você esteja certo! - sussurro sozinha.
E entrei, decidida com o que eu iria fazer.


I'm MettMerryOnde histórias criam vida. Descubra agora