Capítulo 3: Necessita-se de Vermelho

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05 de Setembro, 2018

Encarei o teto durante quatro horas, não consigo dormir e já passam de três da manhã.
Suspiro e me levanto.
Abro minha sacada e fico olhando pro céu estrelado, sentindo o vento gelado da noite.

"-Mett, você finalmente chegou! - exclamou Matthew - Podemos...?
-Eu já me desculpei com Henry, ok? Pode me deixar em paz, agora! - falo, subindo pro meu quarto.
-Mett! - chamou ele, mas ignorei."

Eu poderia ir pro quarto dele, se eu não tivesse brigado com ele mais cedo.
Volto pra dentro e vou para meu closet, acendo a luz do local (sim, meu closet é quase um segundo quarto).
Me olho no espelho. Argh, minha cara está horrível!
Encarei minhas unhas pelo reflexo. O esmalte vermelho brilhava com certa intensidade sob a luz.
Sento no banco, que eu chamo de ilha estofada (e, sim, tem uma banco no meu closet).
O closet é todo branco (uma das únicas coisas não-vermelhas no meu quarto e/ou vida), as roupas vermelhas davam um certo destaque na madeira clara.
Bem lá no canto, quase não dando pra ver, tinha algumas roupas coloridas, cerca de umas dez ou doze peças, não sei.
São as roupas que ganhei de aniversário ou natal, ou sei lá. Vou até elas e ergo uma blusa na minha frente.
Era uma de gatinho, ele é branca, com as orelhas, o nariz e os bigodes em preto. Era bonita, mas não era vermelha.
Não ache que eu sou obsessiva pela cor (só um pouco), mas o vermelho me inspira e causa medo nos outros (não sei por quê).
Meu celular toca. Mensagem? Às três e pouco da manhã?!
Apaguei a luz do closet e acendi a do quarto, pego meu celular. Era um número desconhecido.

"-Tá acordada?" - Número desconhecido.

"-Ahnn, sim, quem é?" - Mett🌸.

Não pode ser alguém da escola, né? Quer dizer, todos tem medo de mim!

"-É o Henry" - Número desconhecido.

Perdi um batimento. Merda! Por que isso tá acontecendo?!
Apago a luz do quarto, deito na cama e diminuo o brilho da tela.

"-Ainda tá aí?" - Número desconhecido.

"-Aham, só um minuto, vou salvar seu contato!" - Mett🌸.

"-Pronto, voltei! O que faz acordado essas horas?".

"-Sei lá, mas o que VOCÊ faz acordada?" - Henry❤.

Espera, eu coloquei um coraçãozinho no nome dele?! Como assim?!?! Depois eu arrumo!

"-Não consegui dormir." - Mett🌸.

"-Quer conversar? Tô sem sono agora!" - Henry❤.

"-Ok!" - Mett🌸.

E passamos o resto da madrugada conversando.

-Mett... Ué, cadê ela?! - ouço Matthew, enquanto termino de escovar os dentes.
Ele sempre me acorda. É muito raro quando eu acordo antes dele.
-Mãe! A Mett fugiu de casa! - gritou.
O que? Sério?!
Coloquei a cabeça pra fora do banheiro e encarei meu irmão.
Ele ficou surpreso.
-Deixa pra lá! Encontrei ela! - gritou - Desde quando acorda cedo?
Dou de ombros e cuspo toda a espuma, limpo a boca e saio da banheiro.
-Anda logo! Tem vinte minutos! - falei, apressando ele, como faz comigo.
Matthew riu e foi tomar banho.

-Matthew Anystrey, desce logo! Depois eu que enrolo! - gritei, reclamando.
Ele desceu correndo a escada e fomos pra escola.
-Você está estranha hoje. - acusou.
-Estranha? Por que?
-Acordou cedo e estava na porta antes de mim. Você só era assim quando... - corto ele.
-Não! - exclamo - Não fala, não gosto de lembrar! Só quero passar mais tempo no pátio, a primeira aula é matemática! Coisa que eu odeio, então tenho que me preparar psicologicamente!
Ele riu.
-Tem razão!

Enquanto Matthew ficava com seus amigos, fui pra quadra.
Sentei nas arquibancadas, aproveitando o sol.
Alguém cobre meus olhos. Matthew.
-Matthew, saí fora! - reclamo.
-Acho que eu não seria capaz de ser seu irmão! - fala Henry.
Ele liberta meus olhos e se senta ao meu lado.
-Bom dia, Garota Vermelha!
-Bom dia, Novato! - falo, rindo.
Henry riu junto.
-Dormiu um pouco?
-Dormindo ou não, meu irmão iria me acordar vinte minutos depois de você sair da conversa - dou de ombros - Então, acabei levantando.
Ele sorriu.
-Você pintou o cabelo? - perguntou - Eu notei algo diferente ontem, mas esqueci de perguntar.
-Sim, pintei. Quando nos encontramos, eu tinha acabado de sair do salão. Mas... Algo diferente?
-Na escola, sua raíz tava meio castanha e, agora, está vermelha vivo.
Assinto e ouço o sinal tocar.
-Argh, droga! Esqueci de pegar meus livros!
-Vamos, então! Temos 2 minutos!
Ele me puxou pela mão, senti aquela corrente elétrica novamente.
Sua mão era quente e se encaixa perfeitamente na minha.
Chegamos no meu armário e ele solta minha mão. Não... Espera, o que?
-Necessita-se de vermelho! - murmurrei.
-O que?
-Nada! - abro meu armário e pego os livros das matérias até o intervalo, fecho e o encaro - Vamos?
Ele assente e fomos pra sala.
Os poucos alunos que estavam no corredor, nos olhavam, sussurrando entre si.
Pela primeira vez, não liguei se estavam ou não achando que eu estava sendo uma pessoa normal e não uma louca monocromática, que assusta à todos!
Entramos na sala, fui pro meu lugar e Henry, foi pro dele.
-Você e o Henry, em... - meu irmão me lançou um olhar sugestivo.
-Cala a boca! Pessoas não tem sentimentos, Matthew! - falo - Além disso, a gente se encontrou no corredor, só isso!
Dou de ombros.
-Aham, sei. Você nunca leva nenhum Novato, que apanhou, pra enfermaria. Muito menos se preocupa com ele. E, além disso, você pediu desculpas pra ele! Você nunca pede desculpas pra alguém, além de mim!
-Aí, Matthew, ele foi legal comigo. Só retribui! - digo com descaso - Agora, presta atenção!
O professor entrou na sala.
-Bem, meus alunos queridos! - começou.
-Merda! - exclamou eu e Matthew, juntos.
Todas as vezes que André fala "Meus alunos queridos", é porque vai acontecer merda.
-Eu vou fazer o mapa de turma! - fala ele, animado.
Todos reclamam.
-Eu sou o professor coordenador da turma, então quietos! - diz - Agora, vamos começar!
-A gente vai ficar longe um do outro - reclamei, me virando para Matthew.
-Eu sei, eu sinto muito! - ele me abraçou.
-Irmãos Anystrey! - argh, já vai começar?
Todos os professores que fazem o mapa da turma nos separam. Por que esse semestre seria diferente?!
Olhamos pra ele.
-Matthew, vá para o lado da Vanessa! - ordenou.
Meu irmão fez uma cara, ele odeia a Vanessa, ela é a famosa patricinha da escola.
A garota abriu um sorriso que daria pra ver do espaço! Nojenta!
-Não vire babaca! - sussurro, enquanto ele pegava sua mochila.
-Não vire patricinha! - sussurrou de volta, indo embora.
Bufo e encarei o homem de meia idade. Eu vou estrangular esse cara! Sinceramente, ele me odeia! E, por sorte dele, o sentimento é recíproco!
-Hmmm, Vanessa vá para o lado da MettMerry!
-Aí, professor, não quero ficar do lado daquela psicopata! - acusou.
Olhei pra ela.
-Ainda bem, você valoriza sua vida! Porque eu não iria te aguentar e atiraria em você! - dou um sorrisinho psicopata.
Ela ficou com medo.
Hahaha, muito bom!
O professor resmungou algo inteligível e olhou pra mim.
-MettMerry, vá para o lado de Henry. E Vanessa, vá para o lugar da MettMerry
Oi? Eu ouvi Henry? Ah, só pode estar de brincando, né? Se eu passar cinco horas e vinte minutos do lado daquele garoto, eu vou me apaixonar! E eu não quero me apaixonar!
Peguei minhas coisas e atravessei a sala, resmungando meu mantra.
-Necessita-se de vermelho, necessita-se de vermelho, necessita-se de vermelho! - sentei do lado do Henry.
-Tudo bem? Parece que não gostou da decisão do professor. - Falou, parecia chateado.
Merda, eu não queria chateá-lo.
Olho pra ele.
-Não! Quer dizer, não é que eu não gostei, é que... Eu não... - suspiro, derrotada - Deixa pra lá. Está tudo bem. Você é uma ótima companhia!
Henry sorriu abertamente.
Se isso fosse um anime, estaria saindo sangue do meu nariz e minha alma estaria saindo do meu corpo.
-Por Pudim! - sussurrei.
-O que foi? - perguntou confuso.
-Nada não! - exclamei e me voltei ao meu caderno.
Meu Deus, o que está acontecendo comigo?! Quem sou eu? E o que esse garoto está fazendo com psicológico?!

I'm MettMerryOnde histórias criam vida. Descubra agora