06 de Setembro, 2018
Já é quinta-feira e algumas coisas bem surpreendentes aconteceram. Tipo conhecer o Henry.
Entrei na escola, junto de Matthew.
-Maninha, você... Espera, você está com suas lentes normais? - questiona.
Ah! Entendi o porquê se estar tudo levemente embaçado.
-Merda, eu esqueci de pôr! - reclamei, batendo na testa.
Ele riu e me entregou a caixinha das lentes.
-Você deixou no banheiro! - falou.
-Obrigada, mas eu preciso pôr isso antes que vejam meus olhos! - falo, indo pro banheiro.
Coloco as lentes, pisco algumas vezes pra elas se ajeitarem e arrumo meu cabelo.
-Então, é verdade?! - ouço uma voz, entrando no banheiro. Era Mirella.
Entro em uma das cabines. Mirella é uma das duas garotas mais fofoqueiras da escola. Era assim que eu descobria as coisas que precisava.
-Sim! Henry viu MettMerry brigando com os meninos e acabou ficando com medo!
-Mas como você pode ter certeza disso?
-Eu perguntei pra ele, hoje cedo. Quer dizer, era de se suspeitar, né? Porque, cá entre nós, o garoto ficou próximo dela e, de um segundo pro outro, se afastou!
-Hmm, verdade! Bem, nada além do normal, não é? Cedo ou tarde, ele teria medo dela! - deu uma risada fraca - Só tem o irmão de amigo, é uma pena.
Amanda, a outra maior fofoqueira da escola, suspirou.
-Você tem medo dela? - pegunta Mirella.
-Não, ela nem é tão assustadora assim.
Ele estava com medo de mim. Suspiro, silenciosamente.
Abro a porta da cabine e saio, as encarando.
-Não sou tão assustadora assim, né? - levanto uma sobrancelha.
-M-MettMerry! - exclamam juntas.
-Estávamos mentindo! - se justificou Mirella - Você é a pessoa mais assustadora de todas! Vamos, Amanda!
Agarrou o pulso da amiga e saiu correndo.
Suspiro. Me olho no espelho e saio do banheiro.
O pátio já estava quase vazio, o sinal tocou e eu nem ouvi.
Caminho para minha aula de Inglês.
Ele está com medo de mim.
Por que você não tira isso à limpo?
Ele vai correr!
Você não sabe! Tenta!
Não! Ele era uma das únicas pessoas que eu não queria que sentissem medo de mim! Mas ele sente medo! Merda!
Paro, antes de entrar na sala. Eu só tinha andar mais cinco centímetros e decretava a minha sentença. Se eu entrasse, ficaria curiosa e acabaria perguntando. Mas e se eu não entrasse?
Encostei minhas costas na parede, bem ao lado do portal da porta. Suspiro. Mas que merda!
-Bem, não falta mais ninguém! - ouço o professor dizer aos alunos.
-Professor, falta minha irmã! - exclama Matthew.
-Bom, ela tem meio minuto pra chegar.
Olhei pra porta. Respiro fundo.
-Sinto muito, Matthew, mas sua irmã irá ficar pra fora! - disse e fechou a porta.
Minha respiração começa a ficar acelerada, meu coração batia rápido.
Vou até meu armário, não posso ficar no pátio. As inspetoras iriam me obrigar a entrar na aula!
Deixei minha mochila dentro da estrutura de metal e fui pra quadra.
Fiquei nas arquibancadas, absorvendo Vitamina D.Eu não pretendia ficar quatro aulas na quadra, mas acabei ficando.
Nem fui pro intervalo. Meu irmão deve estar preocupado.
Mas, agora, isso não importa!
O sinal para o início da quinta aula foi dado.
Passou algum tempo até eu ouvir um falatório.
Ah, merda! Me esqueci que eu tinha educação física hoje!
Antes que alguém visse um ponto extremamente vermelho em meio às arquibancadas brancas, fui pra baixo dos bancos.
Vi Henry sorrindo pra Ashley, uma garota super fofa da minha turma.
Hahaha, eu irei assustá-la fácil...!
O que? Balanço a cabeça, afastando esses pensamentos. Quando eu me tornei essa mulher horrível?
Matthew olhou pra cá, me agacho rapidamente.
-Hey, Matthew, onde você vai?! - ouço.
-Espera aí! - meu irmão grita.
Ele se aproximava.
Ouço o estalo da madeira, alguém sentara ali.
Olhei de relance. Era meu irmão.
-Onde você estava? - perguntou.
Me virei e apoiei o queixo no banco.
-Passei o dia aqui. - respondo desanimada.
-Por que?
-Ele sente medo de mim - respondo.
E mesmo sem explicar nada, Matthew entendeu o que eu quis dizer com o "ele".
-Bom, não sei nada sobre esse medo dele, mas sei que ele veio me perguntar sobre você, no intervalo - comentou.
Levanto a cabeça, surpresa, e acabo batendo ela no outro banco.
-Aí... - reclamei.
Ele riu.
-Você está bem? - assinto, passando a mão na parte dolorida - Mas, me responde, por que está fugindo? Você não é dessas!
-Talvez, só talvez. Sei lá. Ele foi a única pessoa que não me conhecia de verdade e foi gentil comigo. E mesmo sabendo das histórias, ele continuou sendo legal.
-Você tá gostando dele? - questiona.
-Não sei! - exclamo.
Ele deu uma risada anasalada, negando com a cabeça.
-Sai daí e vamos jogar queimada! - falou.
Queimada é meu segundo esporte favorito!
Matthew se levantou.
-Saí por baixo! - falou, antes de voltar pra perto da turma.
Dou um jeito pra sair de lá, pulando a estrutura de metal, em algumas partes.
Respiro fundo e corro pra junto do meu irmão.
Pulo em suas costas, ele, rapidamente, me segura.
-Você sumiu, sua idiota! Fiquei preocupado! - me repreendeu falsamente.
-Tá, tá, não importa! Saí por aí! Não queria ver sua cara feia! - exclamo, enquanto descia.
-Eu sou lindo, MettMerry! - diz convencido.
Como uma boa pessoa, revirei os olhos.
-Quem vai tirar os times?! - gritou a professora.
Levantei a mão, junto com Matthew.
Olhei pra ele.
-Irmão vs. Irmã! - diz - Se eu ganhar, você não vai poder usar lentes vermelhas amanhã!
Reviro os olhos novamente.
-Ok, mas se eu ganhar, você me compra Colossal Supremo!
Ele fez uma careta de dor. Aquilo era caro pra caramba!
-Fechado!
E tiramos o time.Venci fácil! Mas como preço da minha vitória, levei uma bolada meu joelho machucado, de uma Vanessa revoltada com a derrota.
Acabei caindo no chão da quadra e fui carregada por Matthew até a enfermaria.
As paredes brancas e o cheiro enjoativo de hospital, me irritavam.
Matthew teve que voltar pra última aula e eu fiquei lá. Naquele lugarzinho horrível.
A enfermeira foi chamada na quadra, parecia que uma aluna do 9º1 havia ganhado um nariz quebrado.
A porta se abriu.
-Meu joelho não dói mais, posso ir embora? - perguntei, virando meu rosto pra porta.
Não era a enfermeira, era alguém um pouco melhor. Henry.
Ele tinha um sorrisinho de canto.
-Que bom que não dói mais. - comentou, entrando.
Encarei ele por milésimos de segundos. Virei o rosto e encarei o dia claro, através da janela.
Eu sentia sua proximidade.
-O que faz aqui? - pergunto, ainda sem encará-lo.
-Vim ver se você estava bem.
-Por que...? - eu não estava questionando o por quê dele estar ali.
Eu estava querendo saber o porquê dele não ter ido na sorveteria, ontem.
-Fiquei preocupado - respondeu.
Viro meu rosto pra ele.
-Não isso. Por que não foi ontem? - fui direta, finalmente.
Ele comprimiu os lábios.
Por favor, diga que aconteceu alguma coisa e não foi porque estava com medo.
-Eu... - ele deu um sorrisinho - Não consegui sair de casa. Minha mãe não deixou.
Henry estava mentindo. Como eu sei? Esse é meu sexto sentido.
Suspiro.
-Você tem medo de mim.
-Não, por que teria?
-Não foi uma pergunta - falo cabisbaixa - Foi uma afirmação.
Ele se surpreendeu.
-Mett, eu... Só... - ele suspira e respira fundo - Olha, eu fiquei com medo, admito! Seu olhar ameaçador me deixou perplexo! Nunca senti tanto medo na minha vida - engulo em seco.
Aquilo estava doendo. Por favor, pare!
-Mas... - ele passou a mão pelo cabelo.
-Mas...? - encaro ele.
-Eu percebi que meu medo de você não é nada! Bem, pelo menos, comparado à minha preocupação com você e... - Henry pôs o punho e pulso na frente dos olhos e continuou - A minha saudade de ti.
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I'm MettMerry
Ficção AdolescenteNão faço cortes profundos no meu antebraço, nem observo os prédios mais altos para pular deles, mas minha mãe insiste que eu vá para um psicólogo. Isso tudo só porque eu não tenho amigos e pelo meu favoritismo pela cor vermelha. Como passar de algu...