XXVI - Apelos, Mortos e Prisioneiros.

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O recinto estava silencioso, as sombras no meio do breu dançavam e segredavam entre si sobre acontecimentos presentes, a jovem aguardava afoita a moça da caverna. Changkyun sabia que Yuri estava a espera de algo grande, diferente das outras vezes em que a firmeza dela fincava em todas as suas próprias células, agora ela parecia o oposto. Ela havia mudado, um desespero e melancolia palpável rondavam a sua volta.

No momento parecia algo divergente, os olhos vidraram em uma folha que caia junto ao vento, esse cantava alguma música que a deixava nervosa. Estava incomodado. Changkyun sentia-se revoltado, estranhava aquele tempo, a atmosfera do lugar era irregular e detestável. Queria voltar, levantar e girar os calcanhares para correr em qualquer outra direção, esse sentimento era partilhado o que começara a deixa-lo apavorado com a situação.

O cheiro de mofo pareceu sobressair aos outros por alguma esquisita razão, o vento encerrou sua canção e aquietou-se. Alguém se moveu a frente, Yuri enrijeceu a postura e prendeu minimamente a respiração sendo apossado pelo sufoco de uma presença. Medo.

Uma mulher de idade surgiu pelas silhuetas escuras das pedras, seu rosto foi iluminado pelo luar que a aguardavam do lado de fora. Os cabelos não eram grisalhos e sim ruivos, os traços de seu rosto quase mal feitos, sua pele apresentava rugas; possuía olhos pequenos e brancos, o vestido que usava era apenas uma velharia remendada. A senhora sentou a sua frente com calma extrema, mas o clima chegava a gelar os ossos, a imensidão da presença causava náuseas e havia mofo. Ela parecia usar perfume de mofo.

— Está aqui por que deseja algo perigoso, criança — Ela decretou. Parecia ler os pensamentos da alfa — Está escondendo isso dos outros.

I.M queria gritar a todos pulmões a repulsa que pairava sobre seu peito, sobre o peito de Yuri. Ele queria fugir dela, queria de verdade, mas outro desejo surgiu a sua mente e o local em que se encontrava fez sentido. Mentir para a matilha fez sentido. Ir contra tudo e todos fez um sentido descomunal que I.M queria negar, queria ir para mais longe.

Jooheon. Ele era a razão.

— É verdade que pode tira-lo de lá? — Changkyun demorou a reconhecer a voz dela, mas aceitou.

Estava confuso, perturbado. Parecia deslocado daquele momento, também parecia tão integrado que sentia a energia presente o consumir e isso era mais assustador do que as outras coisas que já vira. Era mais agoniante e triste do que vê-la quase engasgar no própio sangue, era mais deplorável. Uma alfa de elite, um lobo que possuía seguidores para guiar e proteger estava aos pés daquela mulher que não conhecia no intuito de conseguir mudar algo que não deveria ser mudado. Por mais que não soubesse o que estava acontecendo, sabia que estava errado.

— Eu posso fazer muitas coisas — A senhora respondeu em tom macabro — Dei-me um bom motivo e farei o que quiser.

— Amor é um sentimento aceitável?

Estava ali. Amor, era isso que os unia, afinal? Changkyun teve um leve aperto no coração quando reconheceu a expressão rabugenta e ranzinza nos olhos da velha. Não era o suficiente, não era o que ela queria ouvir.

— Não sou o cupido, não trabalho com coisas românticas. Tem mais que isso para oferecer.

Yuri rosnou. Changkyun quis para-la, era perigoso.

— Se sabe que infernos quer, por que não me diz?

— Criança — A verdadeira face da senhora surgiu sobre brechas de sua máscara, a voz carregada de uma potência que fazia até as árvores tremerem — Você que precisa de mim nesse momento, por que eu deveria dizer-lhe algo se não pagas-tes nada?

Yuri engoliu em seco, I.M sentiu a si mesmo décadas a frente completamente apavorado. Não sabia, mas seu corpo tremia e preocupava a todos ao seu redor.

Monster [Em revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora