XXXVIII - Despedidas, sombras e início.

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Homens corriam do lado de fora com ordens sussurradas e pés leves no chão. Evitavam o estardalhaço dentro da sede, mas as orelhas hábeis de Jongdae captavam o som de toda a gritaria e carregamentos do lado de fora. A pressa, incubada em uma sensação de medo, o estava dando muita apreensão. Seus olhos focaram, então, em Minseok dormindo na cama no intuito de se recuperar para tudo isso e, pensativo, levou mais uma vez a xícara de chá para a boca. Aninhado ao híbrido dormindo estava a criança fada que trouxera consigo e tinha visto muitos outros fugitivos que normalmente não seriam aceitos sobe custódia da ordem.

Não gostava dos muros do triunvirato, muito menos da aspereza e rigidez das regras disseminadas por seus seguidores. No entanto, se no momento de maior necessidade foram eles que os ajudaram e os únicos que sustentavam o que sobrava do seu lado, não cabia a Jongdae julga-los – ao menos, não mais. Hyungwon e Wonho tiveram que preparar detalhes e ajudarem nos últimos preparativos para a defesa como os abastecimentos, as armas, verificar e criar rotas de fugas, ou fechá-las. Como Jongdae já havia feito o seu papel anteriormente, o deram esses momentos finais para descansar.

Mais tropeços no corredor, vozes zangadas. Não existia modo algum de ficar menos infeliz com o ocorrido que chamam de guerra, por vezes, fim dos tempos, e até apocalipse. É de fato um tudo ou nada resguardado nas costas de pessoas tão comuns quanto podem. Os olhos do Kim acordado foram parar no relógio em cima da cabeceira constatando a hora de levar Sewoong para a outra ala, lá estavam reunidas todas as crianças que conseguiram resgatar e que seriam guardadas por si e Hyungwon. Os ponteiros, no entanto, o prenderam no looping que o tempo parecia parar de fazer e isso fez com que lembrasse vagamente de um ensinamento mundano aplicável. Se o tempo rodava em círculos, e tudo no mundo atuava de mesmo modo, por que parecia que a qualquer momento aqueles ponteiros parariam de funcionar e nada mais haveria de se fazer?

Disseram, também, uma vez que esperar o momento pré guerra é de enlouquecer qualquer homem, mas também o período necessário para que entendam a si mesmo e vejam pelo que vão lutar. A proposta de fato é cumprida, mas pensar sobre esses aspectos é deveras mais infeliz do que muitas outras coisas. Não pode-se salvar a todos, quantas vidas isso tudo já havia custado para todos? Quantas pessoas perderam tudo? Ou então nunca mais conseguirão viver suas vidas? 

Jongdae suspirou a última vez, logo largou a xícara de chá vazia em cima da cômoda. O corpo se ergueu com elegância, depois dirigiu-o até a cama e colocou as mãos por baixo da fadinha a fim de carrega-lo sem o acordar. No meio do processo o rabo felpudo e laranja do seu cônjuge agarrou seu pulso levemente, mas tão firme como sempre foi. Os olhos escuros dirigiram-se para o corpo remexendo na cama e olhando-o de volta.

— Já? — Murmurou o mais velho.

Jongdae sorriu pequeno pela fofura dele, porém a expressão se desfez e ele acenou minimamente. Os pelos de Minseok largaram sua derme e vagaram perdidos no ar enquanto ele espreguiçava-se. O mais novo, então, tomou isso como deixa e saiu do quarto com a Sewoong nos braços tomando rumo pelo corredor amadeirado.

Do lado de fora era mais corrido, muitos passavam do seu lado, ou desviavam, pedindo desculpas caso viessem a ser incovenientes; nos olhos carregavam lágrimas, vermelhidão ou uma determinação amedrontada. Quantos não conseguirá salvar?  Vagamente, vendo mais um dos guerreiros atravessar seu caminho com um punhado de roupas, lembrou-se de Minseok dizer o que achava do triunvirato. Estava olhando as estrelas na noite enquanto tomavam café e ele disse se sentir livre para ser entendido sobre esse aspecto, são crianças, segredou-lhe. Achavam graça de atos de destruição e morte, principalmente por que não os afetaria. Isso martelava o seu peito.

Afinal, quem não quer chorar como uma criança que acabou de se perder da mãe com tudo isso?

A porta para o salão que abrigava as crianças surgiu com o brilho prata oscilante em um feitiço de proteção, um dos homens encarregados do lugar abriu a porta o saudando com um pequeno aceno de cabeça firme. Entrou no lugar vendo crianças das mais saudáveis, as menos doentes. Caminhou por entre eles em camas, brinquedos e tapetes, enquanto sorria e sabia que seguiam os seus passos devido as asinhas chamativas da criança que carregava. Afinal, fadas não saem dos seus esconderijos com facilidade. Com a permissão de uma garota híbrida de raposa, deixou o jovem na cama ao lado da dela para dormir.

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