XXVII - Anjos, Hospitais e Sobreviventes.

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A chuva não se extinguira, mas parara de oscilar em fortes churradas de gotas e fracas quase extintas. Hyungwon não ousou se mexer muito depois que foi posto embaixo do teto que restava, a fada estava olhando para si enquanto a criança dormia em seus braços. Ambos, deduziu o anjo, envergonhados demais para olhar na direção do híbrido que permanecia inerte olhando a situação do seu lar.

Estavam naquela a horas. Hyungwon nem ousou se mexer por vários motivos, sentia-se frustrado pelo acontecimento, desolado pelas próprias atitudes, preguiçoso em relação ao futuro incerto e fraco; sua asa cobria nitidamente boa parte do lugar ao seu redor, sangue ainda escorria em filetes do ferimento aberto, as penas brilhando em dourado e apagando-se poucos segundos depois. Era para elas que a fada olhava.

- Gostou delas? - Questionou, não por incômodo. Estava motivado por uma curiosidade latente.

- É bonito - O outro respondeu sinceramente, a expressão beirando impassividade - É normal que elas... Bem... Pisquem?

Hyungwon desceu os olhos para suas próprias asas, nada em si era normal. O fenômeno das suas asas decerto era incomum, mas costumava acontecer em raras vezes, pensou por um segundo em como responder, afinal, como um provável leigo em relação a fisiologia dos anjos a fada não conseguiria distinguir a mentira da verdade. Mas, naquele momento, ele teve mais vontade de perguntar a si mesmo o porque elas piscavam.

- Não, não é normal - Respondeu com calma.

A expressão de Wonho mudou de repente, a desconfiança sumindo do seu semblante o que fez um alívio súbito possuir o anjo. Porém, o medo percorreu suas entranhas ao observar que a fada estava para lhe fazer uma enxurrada de perguntas já que teria que respondê-lo.

- Foi o machucado? O que o piscar significa? - O outro questionou cauteloso. 

- Bem, nada demais. Estou bem - Respondeu.

Wonho ficou o encarando desconfiado, afinal, ele poderia estar mentindo para agradá-lo.

- Eu soube por algum lugar que isso não é nenhum pouco comum - O híbrido disse enquanto levantava - Que significa algo sobre 'aceitação do ser' e 'glória de Deus'.

- Como assim? - Questionou a fada torcendo o nariz, confusa.

- Em suma, é como se eu... - O anjo retomou a fala - Eu sou meio defeituoso... De acordo com os Serafins me falta muito para poder seguir com meu propósito, significa que sou instável.

Ver a compreensão nos outros dois fez um alívio colossal que nunca sentiu antes o possuir e quase o fez fraquejar. Híbrido e fada sorriram gentis, Hyungwon retribuiu o ato com incerteza, até que um lampejo no céu atiçou a espinha do anjo, os ouvidos capitando resmungos tenebrosos. Como um sensor de sobrevivência, seus pelos ficaram em pé.

- Chega de conversa, temos que ir - Disse abruptamente.

Wonho levantou do chão com cuidado, embalou a criança nos braços firmes e fortes, voltou os olhos determinados para Jongdae.

- Posso acompanhá-los para um lugar seguro - O híbrido disse.

- Seria de gigantesca ajuda - Hyungwon agradeceu prestando uma reverência.

- Achei que anjos tratavam os outros com deboche, ou desprezo... - Wonho comentou pegando os outros dois de surpresa.

- Depende muito da função e das prioridades - O anjo ponderou - Mas a maioria é gentil de maneira assustadora.

Jongdae franziu o cenho confuso, mas percebeu que Wonho tomara aquilo como resposta suficiente e aquietou a imaginação. Hyungwon tinha plano achar Gabriel, mas aquilo era arriscado considerando a situação e isso o levava a confiar em Jongdae. O híbrido passou a caminhar pela casa em busca de coisas que acreditava ser necessário, mesmo que ainda insatisfeito com a fala alheia.

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