XXXII - Demônios, lutas e anjos.

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Tudo poderia ser diferente. Se, no mundo idealizado, criaturas noturnas e sobrenaturais não existissem, então estaria tudo resolvido? Se não existissem demônios no sentido literal? Apenas aqueles que seres humanos cultivam desde de crianças e carregam por aí. Se monstros não existissem, como seria, então, o mundo?

Jessica parou de andar pela rua, ao seu lado, na luz, os que seguia caminhavam juntos. Sentia-se estranha por pensar na utopia de um mundo que não teria lugar, vagou os olhos de um jeito perdido pelos prédios que a rodeavam, havia uma entrada para uma casa pequena e modesta próximo de onde estava, a poucos passos. Inveja. Era isso. Queria aquilo, viver como um ser humano, ter uma casinha escondida entre prédios gigantes para ficar nem que de maneira solitária.

Sim, ela daria tudo para, no mínimo, possuir o vilarejo de Ísis, porém não apenas possuí-lo, como também transformar-se em parte dele. Ter tantas pessoas que te ajudam e acolhem seria divertido. Seria... Uma vida.

Contudo, monstros são monstros. E, infelizmente, Jessica Jung não era um demônio por algo banal e fútil; ela admitia a si mesma toda manhã que era uma criminosa nojenta e repúgnavel que merecia ódio. Dentro desse conceito, de receber ódio, seria aquela que ri dos outros e destrói cada vez mais e mais, ela admitiu muitas vezes ao vento que é uma criatura detestável. Portanto, batalhará para ser mais ainda.

Voltou a deslizar pelas sombras, casualmente, majestosa como poucos deles, pondo a dignidade inexistente em uma bandeja para acertar na cabeça o sentido "então irei matá-lo" e era isso que pretendia fazer. Wonho a havia implorado pela morte, então seguiria isso a risca para trazer-lhe seu desejo tenebroso a realidade, quase riu eufórica. Sentiu-se empolgada pela sensação tão sombria quanto por onde andava. Preenchida por uma satisfação de trazer a todos os outros seus piores desejos, como aconteceu com ela, assim outros poderiam ter uma consciência do que fazer apenas para executar o completo contrário.

Aguardou sentada no chão a confusão dentro do lugar se apartar, ouviu os barulhos abafados de corpos se chocando enquanto sentia a pulsação sútil da fada e a existência tornando-se, de certa forma, mais viva e terna. Perigoso. Porém, empolgante para a caçada. O problema seria passar pelo anjo, então, talvez o correto fosse derrubá-lo primeiro, em sua cabeça o híbrido não seria problema algum.

Jessica ergueu o corpo sem pressa, o ar ficava mais pesado ao seu redor seguindo os passos cautelosos rumo ao edifício hospitalar. No momento que foi abraçada pelas penumbras do lugar resolveu esticar o pescoço em um tique ansioso enquanto abria e fechava as mãos testando a pressão. Prestou atenção, os pelos ficando arrepiados em tensão ao reconhecer um aroma suave de híbrido viajando no ar. Tomando o caminho até aquele ser conseguiu ver o caos estampado no lugar, uma tragédia bonita, sorriu enquanto passava as mãos pelas paredes em um frenesi doentio.

Havia um ar gélido no local, talvez o aparelho de ar condicionado. Em passos rasos e gatunos o dono do cheiro surgiu na porta a frente com medicamentos em mãos acompanhados de outros equipamentos. Então, ele estagnou os passos, virou os olhos para o demônio e os arregalou assustado. Jéssica posicionou o dedo indicador nos lábios em busca de pedir silêncio, o híbrido, em contra partida, largou tudo que segurava para correr e ir distante, mas foi segurado pelo pulso. Num golpe para surpresa o bichano bateu o rabo peludo nos olhos dela e, logo após do choque, enquanto pressionava a mão do misto, sentiu um cano frio na pele exposta da testa. Nem abriu os olhos.

— Você é rápido... — Ela disse risonha — Talvez não tanto.

Quando Jongdae franziu o cenho, ela acertou um chute em seu abdômen provocando uma queda no chão e súbita falta de ar. Na primeira respirada desesperada enquanto a maldita dor aguda se espalhava por seu corpo teve o rabo pisado com força e isso levou-o a soltar um miado abafado. Até tentou puxar o pobre órgão de volta, mas o demônio esfregou a sola do pé sujo sobre ele com mais apresso. A arma estava escapada a passos da sua mão.

Monster [Em revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora