Capítulo Um

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Era verdade, Micayla Schumann havia morrido com quatro balas, duas alojadas na cabeça e duas no peito. Os rebeldes queriam se garantir que ela estaria morta.

Minha mãe berrou, aterrorizada e meu pai a abraçou. Fechei meus olhos, reprimindo as lágrimas. Senti que meu corpo estava sendo partido ao meio, assim como meu coração. Me levantei, revoltado. Passei a mão pelo meu rosto, não conseguindo realmente acreditar. Olhei Kyle, meu melhor amigo e guarda real, que viera nos avisar. Ele me olhava, era perceptível em seus olhos que ele também estava triste, afinal... era sua namorada. Mas ele tinha que servir a família real, manter a compostura, assim como meu pai e eu estávamos. Ouço o choro agudo dos meus irmãos, e aperto os olhos. A dor naquele cofre era palpável, queria nem imaginar a dor que iria se alastrar por todo o reino ao descobrirem que sua futura rainha havia morrido.

Micayla era minha gêmea, nascera alguns minutos antes de mim. Ela era minha alma gêmea, minha outra metade, eu não sabia viver sem ela. Ela era a primeira na sucessão do trono, e logo após ela viria eu. Mas nunca imaginei que eu viria a assumir o trono, pois eu dava apoio total a minha irmã... ela era tão boa.

- É seguro sair? - Pergunto, com a voz firme, esmurrando a dor para o fundo do meu coração. Ele se comprimia, assim como o nó recém criado em minha garganta.

- Os guardas ainda estão fazendo uma busca, alteza. No entanto, posso lhe acompanhar - Sentia seus olhos implorarem para sairmos juntos. Confirmo com a cabeça, e arrumo meu paletó.

Olhei minha mãe e meus irmãos, todos no colo dela, chorando. Meu pai estava olhando para um ponto na parede, mantendo-se forte por todos nós, como sempre. Ele acariciava o cabelo da amada, mas não havia como a consolar, pois ele também precisava ser consolado. Não vou até eles, apenas sigo atrás de Kyle, que mesmo carregando a dor insuportável sobre os ombros, mantinha a postura diante do príncipe. Logo que saímos do cofre real, que protegia minha família dos ataques dos rebeldes, ele se vira para mim. Ele não consegue segurar as lágrimas, que involuntariamente rolaram pela sua face.

- Kyle, vá para seus aposentos. O general irá entender - já que era seu pai. - Deixe que do resto os seus companheiros fazem.

- Pode passar lá no seu tempo livre? - Ele pergunta, eu sentia que ele queria um abraço de amigo. Mas no momento não podíamos, eu não estava com cabeça para nada.

- É claro - Murmuro, ele faz uma reverência e se vira, e após alguns passos, seus ombros pesam, carregando a maldita dor da perda.

Me virei, caminhando para o lado norte do palácio, onde encontraram o corpo de minha irmã. Coloquei as mãos nos bolsos, assim que pude vislumbrar os seus cabelos enrolados espalhados pelo piso bege do palácio, seu corpo estava virado para a parede. Ela trajava uma camisola de seda, que marcava de uma forma elegante suas curvas de mulher. Me aproximei, com um leve sorriso, tristonho. Abaixo a cabeça, e vejo o rosto da minha irmã, sereno, como se ela estivesse dormindo. Mas seus lábios antes morenos, agora pálidos, entregavam que estava morta. Me agacho, e pego em seu frágil corpo. Deito sua cabeça em meu colo, como ela costumava deitar-se quando tinha alguma briga com Kyle e vinha dormir comigo, porque não queria de jeito algum o vê-lo. Mas eu sempre acabava ligando escondido para ele, e os mesmos faziam as pazes, antes mesmo de ela dormir.

Passo as mãos pelos seus cachos, enquanto minha outra mão acariciava seu rosto suavemente bronzeado.

- Eu te odeio... - Sussurro baixinho, segurando minhas lágrimas. - Te odeio por me deixar... te odeio por ter saído daquele cofre pela sua maldita bondade - Falei, me relembrando do momento que ela saíra do cofre ao ouvir supostos gritos de crianças.

- Como que irei viver sem a metade da minha laranja, hum? - Perguntei, tentando sorrir, mas meu lábio tremeu. Eu mordo o mesmo, e fecho meus olhos. - Eu te amarei para sempre, Micayla. Nunca esquecerei você mesmo que eu perca a memória, sempre irei lembrar-me de você de alguma forma. Vamos ser sempre os Gêmeos Mais Lindos De Atlantic... mesmo que esteja apenas um deles aqui - Murmuro.

Abro meus olhos, e então olhei seu corpo morto novamente. Sugo as lágrimas e então a abraço, apertando contra meu corpo. Dessa vez não ouvi sua risada, nem sua mão quente me abraçando, nem mesmo seu cabelo pinicando minha nuca.

- Eu deixo você usar minhas roupas, sapatos, até mesmo cuecas. Deixo ver meu diário, e até minhas cartas de amor... mas volta - Pedi, esperançoso. Eu não era mais príncipe, ou Cameron Schumann... eu era apenas Cameron, irmão gêmeo de Micayla, a mulher que as pessoas se sentem sortudas apenas de vislumbrar seu sorriso.

Ouço passos de botas, mas não largo o corpo de minha irmã. Sinto uma mão em meu ombro, abro meus olhos e olho para cima, meu pai me olhava com dor. Ele evitava olhar Micayla, meu pai era tão forte, e eu estava chegando perto dele. Já Micayla era como minha mãe, sentimental. Chorava por tudo. Meu pai e eu riamos disso, mas sempre acabavamos consolando as duas, por mais que fosse por algo bobo como um filme de um cachorrinho.

- Vamos, precisa descansar - Ele diz, baixo. Deito minha irmã no chão novamente, meu pai me ajuda a levantar. E nos abraçamos, aquele momento não existia reinado... era apenas uma família em luto.

Nos distanciamos, e não havia uma lágrima sequer que molhara nossas faces. Mas no fundo, sabíamos que quando estivéssemos sozinhos, toda aquela dor iria transbordar em forma de lágrimas.

O General Banks estava logo atrás do meu pai, prestando suas condolências. Eu aceitei apenas com um aceno de cabeça. Ele aguarda que nos afastamos para assim pegar o corpo de Micayla, observei tudo pelo canto dos olhos.

- Sua mãe e irmãos já estão em seus aposentos, creio que não temos condições de nos reunirmos para estabelecer algumas coisas sobre essas repentina invasão...

- Mas é necessário, pai. Temos que analisar as brechas que deixamos para assim cobri-las, o que aconteceu aqui hoje poderia ter sido com Amélia, Connor, mamãe, o senhor ou eu... precisamos nos cuidar - Falei, com firmeza, mas apenas ele sabia como meus olhos estavam perdidos e vazios.

- Exatamente, filho. Vá para seu quarto, tome um banho, e depois vá para o meu escritório. Farei o mesmo - Confirmo com a cabeça. Ele dá umas batidinhas em meu braço e se afasta, após deixar-me na porta do meu quarto. Ele coloca suas mãos para trás, e andava de forma pesada. Não analisava mais o castelo, apenas andava rápido, para ficar um momento sozinho.

Suspiro, e entro em meu quarto, perfeitamente arrumado. Os rebeldes não adentravam os quartos reais, pois se mantinham trancados internamente por um sistema que instalamos quando o alerta de rebeldes soava.

Tiro meu paletó, junto da gravata. Coloco ambos sobre uma cadeira, me sento na ponta da cama, deixo meu cabelo pender para frente, enquanto eu encarava o chão. E, automaticamente, começo a chorar. Me deito na cama, encolhido, e pegando o travesseiro. Eu sentia vontade de berrar, me descabelar, e gritar por Cayla. A dor se apossou de uma forma avassaladora por todo meu corpo, e eu apenas desejava que parasse. Sentia vontade de arrancar meu coração para fora, se de alguma forma parasse isso tudo. Eu não suportava. Eu poderia suportar o mundo inteiro em minha costas, menos a perda da minha irmã... eu trocava minha vida pela dela, se fosse necessário. Mas ela tinha que continuar a iluminar a vida de outras pessoas com seu sorriso, com a sua alma... mas ela simplesmente não estava mais lá.

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