Capítulo Três

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Abro meus olhos, vagarosamente. No fim das contas, após horas relendo meus três diários e arrumando mais de 10 vezes meu quarto, consegui dormir. Mas isso não impediu dos pesadelos, o que tornava tudo ainda mais real.

Acordei com meu garçom avisando-me sobre o Jornal Oficial, agradeço e peço para ele se ausentar até o final do velório de Micayla, o mesmo consente e faz uma reverência antes de se retirar, fechando a porta atrás de si. Olhei por longos minutos para o teto, da cor branca, onde o lustre dourado destacava-se bem. Fechei meus olhos, suspirando... coragem.

Sento-me na cama e calço meus sapatos, caminhando para o banheiro do meu quarto. Ligo a água do chuveiro e a deixo correr um pouco, para o esquentar enquanto eu me despia, lentamente. Em minha mente ficou gravado o corpo sem vida da minha irmã... se eu a tivesse segurado talvez eu pudesse ter evitado isso. Suspiro e entro no box, exageradamente grande, mas que me permitia sentar em um dos bancos de mármore. Puxo o ar, e abaixo minha cabeça enquanto a água caía em todo meu cabelo, costas e nuca. Depois de um tempo daquele jeito, tentando relaxar, constato que é impossível e então me levantei, tomando um banho decente.

Logo saio, com o roupão em meu corpo. Escovo os dentes, e vou direto até o terno todo preto que meu garçom arrumou. Dentro de minutos, estou vestido, com o cabelo alinhado e os sapatos e já perfumado. Me olhei no espelho, arrumando meu paletó. Meus olhos correm até um retrato meu e de Micayla que ficava no meu criado-mudo, peguei o mesmo e o analisei, e aquela dor voltou.

- Vou ser forte por nós dois - Sussurro, e beijo ela na foto. Deixo o retrato onde estava, mas dessa vez virado para baixo. Eu não iria suportar encarar aquela foto.

Puxo o ar, e depois o solto. Viro-me e deixo meu quarto. Os empregados ainda estavam arrumando a bagunça, no entanto havia diminuído. Desço as escadas, analisando como estava o palácio, quase como se na noite passada não tivesse tido uma invasão. Mas sem Micayla ali, era apenas uma impressão.

Sorri de canto ao ver a cabeleira de Amélia, a mesma era quase que a cópia perfeita de nossa mãe quando criança. O cabelo armado e extremamente cacheado. Amélia e Connor também eram gêmeos, brigavam mais que tudo, mas não suportavam ficar longe um do outro. Ambos tinham seus 3 anos, mas dessa vez Connor que tinha 5 minutos adiantados de Amélia. Desço as escadas e vou ao encontro dos dois, Lia usava um vestidinho preto, e uma tiara da mesma cor. Ela parecia um bolinho naquele vestido.

- Camelon - Ela pronuncia meu nome, e levanta a cabeça para me olhar. Seus olhinhos estavam tão tristes, assim como os de meu irmão.

Connor se encontrava sentado em um dos diversos sofás espalhados da sala de estar. Ele trajava um terno feito sob medida para ele, todo de preto. Ele e eu éramos os únicos que tinham o cabelo perfeitamente liso, como o de papai. Micayla e Amélia haviam puxado os cachos de mamãe. Peguei Lia no colo, beijando sua testa e me sento ao lado de Connor. Ele levanta a cabeça para me olhar, e eu tento dar um sorriso reconfortante, mas falho. Puxo o mesmo para minha outra perna, já que Lia estava sentado apenas sobre uma.

- Eu não conxigo ser foite, Camelon - Meu irmão sussurra, e vejo seu queixo tremer. Ele ía começar a chorar.

- Ser forte não significa que você não possa sofrer. Eu também estou sofrendo, assim como papai - O aconselho, passando a mão em seus fios.

- Mas eu quero ser como você e o papai, não chorar... - Ele dizia, carregado. Eu tinha certeza que ele estava sentindo esse nó na garganta.

- Connor, você é forte por estar aqui, enfrentando isso. Pode chorar, você continuará sendo a criança mais forte que conheço - Ele sorriu, tristemente. E logo estavam os dois me abraçando e chorando baixinho em meus braços.

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