Era tudo meio estranho, ou muito estranho. Estar sentado de frente ao piano novamente, dedilhando calmamente meus dedos nas teclas enquanto meus pensamentos voavam para perto da minha irmã. Respirei fundo, eu ainda não entendia porque ainda tentava parecer bem. Eu estava um caco. Tudo ao meu redor parecia estar desmoronando. Afastei meus dedos, levando a mão diretamente ao rosto, enquanto minha respiração ficava ainda mais ofegante. Era tudo uma grande merda sem ela. Eu me levantei, desnorteado, sentindo as lágrimas salgadas e ardentes lentamente descendo pelo meu rosto. Céus, como eu tinha vontade de sumir ou morrer, ter impedido ela de sair do cofre. Eu juro que estava morrendo a cada dia. Mas eu tentava, eu juro que tentava parecer bem. Eu tentava ficar bem. Mas eu não conseguia.
Peguei o copo de vidro e derramei mais whisky ali, tomei apenas num gole. Me encostei no piano, debruçado sobre o mesmo, encostando minha testa no instrumento. Como meu pai achava que eu iria ficar no meu aniversário? Tecnicamente, era aniversário de Micayla também. Ele não esperava que eu quisesse que a coroação fosse especificamente nesse dia, certo? Eu esperava que não. Pois eu não queria.
Os dias se passavam bem lentamente nos bailes, todo sexo, bebida, ou pequenas diversões eram coisas bem passageiras. Meu futuro ainda me esperava ali, e meu passado continuava a me assombrar. Pois é, era uma droga quando eu me olhava no espelho e comparava nossos olhos, nosso sorriso, nossos narizes. Eu era uma lembrança viva de Micayla, apenas por existir, eu me lembrava dela.
Até que eu tentei seguir em frente, sabe? Eu sei que não sou o único a sofrer, mas parece que sou o único a qual não sente mais um pingo de felicidade sem ela ali. Eu era apenas um poço de tristeza e máscaras. Cameron Schumann era a droga de um fingido fraco. Por que mesmo que eu iria ser rei? Ah, porque minha irmã morreu.
- Que droga! - Gritei, jogando o copo contra a parede, agarrando meu cabelo.
Eu olhei para a porta, balançando a cabeça em negação. Tudo estava tão errado. Me sentei na cama, me curvando, chorando de raiva, tristeza, e por tanta pressão. Eu odiava toda essa merda! Eu não conseguia mais sentir nada, absolutamente nada, por que era tão difícil para mim? Apenas consegui sentir uma pequena mão tocando a minha que se encontrava em meu rosto. Tirei a mesma do rosto e levanto a cabeça, era Hazel. Não importava como ela tinha ido parar ali, apenas a puxei num abraço desesperado, sentindo uma satisfação e alívio desumano quando seu corpo frágil tocou o meu, e seus braços me acolheram. Deus, eu estava me tornando um maluco, um depressivo. Tudo que o reino não queria era um rei depressivo e mal resolvido com seu passado.
- Cameron, por favor, para de chorar - Ela pediu, com a voz baixa.
Eu estava chorando? Eu não conseguia sentir nem mesmo minhas lágrimas! Eu me afastei dela, a mesma estava no meio de minhas pernas já que eu estava sentado na cama.
- Fecha a porta, Hazel - Pedi, num tom baixo.
Ela se afastou cuidadosamente, fechou a porta, e passou a chave. Voltou a se aproximar, porém dessa vez se sentou ao meu lado.
- Aconteceu alguma coisa? - Ela perguntou, com os olhos lindo arregalados.
- Agora eu tenho apenas três meses, Hazel - Sussurrei. - Faltam quatro meses para o meu aniversário, e o de Micayla. Você... você não sabe o quão...
- É doloroso - Ela diz, eu balanço a cabeça em afirmação. - Eu sei, calma. Eu nunca te vi chorar, para falar a verdade nunca vi ninguém tão desesperado.
- Eu quero ela de volta - Falei baixo, apertando a borda do roupão que eu vestia. - Ao longo desse mês eu apenas foquei em achar alguém, mas eu não consegui. Eu estou tão perdido, tão desnorteado. Eu não sou assim, eu juro que não sou assim... Eu nunca fui de usar o sexo para esquecer meus problemas, nunca fui de beber tanto. O que está acontecendo? Me ajuda - Eu falava tudo, desesperado, balançando a cabeça em negação.
- É o luto - Eu franzi o cenho, a olhando intrigado. Sua pequena mão tocou na minha mecha de cabelo, caída em meu rosto. - Você está de luto, Cameron. Não superou a morte da princesa Micayla, até então você nunca se entregou a ele, mas agora está vendo que não pode fingir que está tudo bem. Está tudo bem não estar bem, está tudo bem chorar, não vai te tornar menos másculo ou forte. Vai provar que você é humano - Minha respiração estava acelerada. - Você é apenas um irmão de luto. Tudo bem que não é a forma mais certa, mas cada um lida a sua maneira. O rei está se privando das atitudes de rei, a rainha está aprendendo a cozinhar, e seus irmãos estão fazendo o seu próprio canteiro de flores. Cada um lida a sua maneira. A verdade é que a princesa não vai voltar, essa dor ao lembrar dela é normal. É normal, Cameron. Um dia você vai lembrar dela e sorrir, porquê sabe que ela está num lugar melhor - Seus dedos se entrelaçam no meu cabelo. - Lembra, a história dela chegou ao fim, mas a sua ainda continua.
- Mas eu não quero ficar sem ela - Hazel balançou a cabeça em afirmação.
- Eu entendo. Mas Micayla fez o que devia aqui na Terra, ela sempre vai ser lembrada, porquê foi uma mulher maravilhosa. Você ainda tem muito o que fazer, ainda tem uma história para escrever, ainda vai fazer muita coisa. Vai se apaixonar, vai se casar, vai ter filhos, e vai governar um reino que te ama. Entendeu? - Eu balanço a cabeça em afirmação. - Desabafar é bom, não deixe de fazer isso.
- Hazel... - Murmuro, e sorri de lado, sentindo um alívio. - Obrigado.
- Tudo bem - Ela diz, e quando se atreve a tirar a mão do meu cabelo, eu seguro seu pulso.
- Fica, por favor - Pedi. Soltei seu pulso, e a mesma tocou meu rosto, pude ver suas bochechas vermelhas.
Levantei minha mão até sua bochecha avermelhada e a toquei, sorrindo ao senti-la quente. Olhei em seus olhos, que me traziam uma imensa tranquilidade. Ela sorriu meio nervosa, e eu também. Me aproximei um pouco, podendo sentir o seu perfume ainda mais perto. Suspirei baixinho, deslizando os dedos para sua nuca. Ela continuou com a mão em minha bochecha, Hazel aproximou o rosto. Automaticamente eu fiz o mesmo. Sim, aquilo era muito certo. Seu rosto estava muito perto, seus olhos eram ainda mais bonitos dessa proximidade. Mordo meu lábio, mas finalmente puxei-a para um beijo. A corrente elétrica que se alastrou pelo meu corpo apenas me deixava ainda mais concreto que era certo. Estar ali com ela era certo.
Nos afastamos do pequeno selinho, mas tão cheios de significados. Dei um pequeno sorriso, apenas para tranquilizar seu rosto de confusão. Ela fez o mesmo, mas ainda parecia tão tensa. Eu também estava. Comprimi os lábios, o que eu devia fazer? Eu já tinha beijado tantas garotas, mas ela era diferente. Muito diferente. Eu deveria me levantar? Me afastar dela? Ela não parecia querer se afastar. Minha mão se afastou da sua nuca.
- Cameron... Eu...
A voz tão tensa, eu apenas consegui levar minha mão dessa vez para sua cintura e puxa-la para um segundo beijo. Sim, era tão bom o gosto de morango de seus lábios. Era maravilhoso. Dessa vez, eu abri um pouco a boca, ela fez o mesmo e eu pude aprofundar aquele beijo. Meu coração estava tão acelerado, mas eu queria apenas beija-la para sempre. Sua língua tocava a minha uma vez ou outra, apenas me deixava ainda mais amolecido por ela. A puxei para mais perto, almejando te-la mais perto possível. Céus, eu não imaginei que seus lábios fossem tão viciantes. Certo que eu havia pensado nesse momento algumas vezes, apenas algumas.
Ela se afastou bruscamente, se levantando prontamente.
- Eu preciso ir agora - Ela diz, com os olhos arregalados, e bem agitada. - Fica bem, por favor - Ela diz, e se vira, destranca a porta e sai praticamente correndo.
Eu fiz algo errado? Beijo mal? Meu Deus, isso era péssimo. Foi errado, não era pra acontecer. Definitivamente toda "magia" estava toda na minha cabeça. Me levantei, fechei a porta e fui me trocar para o último baile desse mês, que agora seria no meu castelo. Mas eu estava menos triste, sabia que ela estava aqui para servir no baile. Então eu a veria novamente. Algo muito, muito bom.
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Futuro Rei
RomanceUm país rico, chamado Atlantic, conhecido por suas florestas e mares esplêndidos, e também conhecidos por seus reis serem benevolentes e humildes. Mas, o povo é devastado por uma dor imensa quando a sucessora do trono, Micayla Schumann morre. Isso...