Prólogo

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Cerca de dois anos e meio atrás...

POV Janaína

Estou mais fraca que o normal hoje. Acho que meu tempo aqui acabou. Olho para meus pais, para meu Edmilson e para minha melhor amiga Patrícia, todos ao lado de minha cama. A esperança já não existe, sei pela dor em seus olhos. Dra. Andréia chega e sei que preciso fazer minhas despedidas.

Peço que apenas meu namorado permaneça no quarto, e os demais saem em silêncio. Ele se senta perto de mim e pega minha mão com carinho. As lágrimas descem por seu rosto e ele não as enxuga, apenas me olha, com tanto amor, que me abala.

- Fofinho, sei que é difícil, mas temos que ser francos. Meu tempo acabou.

- Não fala assim, Jana! É só um dia ruim. Já superou piores... Vai melhorar! – ele quer se aferrar a estas mentiras, não aceita a verdade.

- Eu já me conformei. Irei ficar bem, mas em outro lugar.

- Mas eu não me conformo, nunca vou aceitar uma injustiça destas. Por que você teve que ficar doente? É tão boa, jovem, inocente...

- Shiuu, não se exalte. Eu não preciso disto.

- Me desculpa, amor. Mas não suporto pensar em perder você.

- Preciso que prometa uma coisa para mim, antes de eu ir.

- Não fale assim. Pare, por favor – seu choro aumenta e ele tampa os ouvidos.

- Já passei pela revolta também, mas agora estou em paz. Mas para partir, preciso que me prometa que voltará a ser feliz, a sonhar quando eu me for.

- Não posso. Não me peça isso. Só vejo dor e escuridão numa vida sem você.

- Sei que é duro, mas eu preciso ouvir sua promessa que tentará reconstruir sua felicidade. Tem apenas 16 anos, uma vida inteira pela frente.

- Sou jovem, eu sei. Mas o que sinto por você é forte, te amo desde pequeno.

- Eu sei, fofinho. Também te amo. Por isso preciso saber que ficará bem. Como posso ir se te deixo destruído? Por favor, me jure que não vai desistir de tudo, que pensará em mim com carinho e viverá por mim. Que fará tudo aquilo que eu não poderei. Te amo, Edmilson, nunca se esqueça. E por te amar, quero vê-lo feliz. Nunca vire as costas à felicidade. Encontre alguém e viva por mim.

- Não quero saber de outra pessoa. Só amo você, só existe você.

- Prometa, fofinho, por favor.

- Sim, mas só porque me pediu assim. Porém não será preciso, você se curará e viveremos muitas alegrias juntos – ele tenta se enganar, vejo o esforço que faz para negar as evidências.

- Preciso também que faça um favor para mim. Cuide da Patrícia quando eu já não estiver. Sabe como a família dela é complicada, sempre a apoiei, não suporto pensar que estará sozinha daqui para frente.

- Cuidarei, prometo.

Sorrio e o abraço. Seu choro molha meu pescoço e o aperto com a pouca força que ainda tenho. Não posso deixar de lembrar-me de nossa história juntos. Apesar de nossa idade, já namoramos há 2 anos, e sempre estivermos próximos. Moramos perto e estudamos na mesma classe desde o primeiro ano na escola. Ele foi o único menino a me chamar a atenção e sou sua primeira namorada também. Nosso primeiro beijo foi debaixo do ipê florido do parque, após ele dizer que eu sobre aquele tapete de flores era a visão mais linda que ele já viu.

Tínhamos tantos sonhos, mas há alguns meses descobri que estava doente e, apenar de todos os esforços e orações, estou morrendo. Passei pela fase da negação, da raiva, da barganha, da depressão e agora aceito. Minha vida foi curta, mas recebi tanto amor que não posso reclamar. Meu namorado lutou comigo contra a doença, sempre me apoiando, ao meu lado. Mas a luta chegou ao fim.

- Peça para a Patrícia entrar, quero falar com ela – ele me beija e faz o que pedi.

Ela é minha melhor amiga desde sempre. Esteve ao meu lado durante todos os momentos bons e ruins. Foi responsável por alegrar meus últimos meses, mesmo quando sua própria vida era triste.

- Oi, Paty, sente-se aqui.

- Está com dor? Quer que eu faça algo?

- Não, quero conversar. Estou partindo...

- Não diga isso – me interrompe, já com lágrimas nos olhos.

- É verdade, amiga, não adianta negar. Já conversei com meu namorado, mas agora preciso falar com você.

- Fale, farei o que me pedir.

- Cuide do Edmilson por mim. Ele ficará devastado com minha partida, mas sei que seu amor o ajudará.

- Amor? – ela engole em seco, pálida por saber que conheço seu segredo.

- Não negue, vejo como olha para ele e também a culpa que sente. Mas não precisa, sei como ele é encantador.

- Nunca quis ele para mim, Janaína. Ele é seu namorado, sei disso e admiro o amor de vocês.

- Mas eu irei embora e você ficará aqui.

- Não, você vai sarar, viverá por muito tempo até completar pelo menos 50 anos de casados com ele, cercados de muitos filhos, netos, bisnetos e eu, estarei lá para comemorar com vocês - seu choro agora é copioso, e não para de falar, para esconder a verdade da minha morte eminente.

- Chega, Paty. Eu te entendo e não estou brava pelo que sente por ele. Ele foi mais do que perfeito durante minha doença e você estava aqui, vendo quão amoroso e incrível ele é. Como não se apaixonar por ele?

- Eu não queria, juro. Por favor, não fique brava, nunca pensei em roubá-lo de você – ela para de negar e vejo muito dor em seus olhos.

- Não se culpe, já disse que entendo. Está tudo bem. Agora que irei partir, preciso que prometa que cuidará dele.

- Serei uma ótima amiga, confie em mim.

- Torço para que ele perceba a garota maravilhosa que você é e se apaixone também. Seria a minha maior alegria saber que estão juntos e felizes.

- Não tem ciúmes?

- Amo vocês demais para isso. Me ajudaram e amaram tanto, Patrícia, que só posso querer sua felicidade.

- Obrigada, mas ainda prefiro que você sare e que me convide para madrinha – a abraço e deixo algumas lágrimas rolarem. Porém, me recupero logo.

- Pode pedir para meus pais entrarem?

Ela faz como pedido e é duro me despedir deles. Minha mãe chora descontrolada, meu pai fica bravo, tentando negar, até que sucumbe às lágrimas também.

Digo adeus aos meus irmãozinhos e agora tenho todos a minha volta. A mãe de Edmilson está aqui e consola Patrícia em um canto. Ela precisa de uma figura materna forte, já que sua mãe está tão imersa na própria dor que não cuida dela.

Num último momento de lucidez, peço mais uma vez que Deus me acolha em seu colo e sorrio quando uma grande paz me envolve.


Início triste... 

O que acharam?

Despertando para sonhar - Livro 4 da Série SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora