Capítulo 6

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POV Patrícia

Não tenho coragem de contar para ninguém, além do Ed, sobre os tapas que meu pai me deu. Sinto vergonha, não quero que saibam o tipo de homem que ele é.

Invento uma história qualquer para o hematoma em meu rosto e sigo como se nada tivesse acontecido, mas as marcas em meu coração são profundas. Fazia tempo que ele não me agredia, e foi horrível, penso como deve ser para minha mãe que apanha várias vezes por semana. Como ela pode permitir e não fazer nada?

O professor entra e cesso minha conversa com Rodrigo. Observo que Edmilson estava conversando animado com a Karen e estranho, já que ele não costuma falar muito com ninguém. Ela é uma das garotas que gosta dele e não posso evitar o ciúme ao vê-lo sorrindo para ela.

Rodrigo me passa um bilhetinho confirmando nosso horário de estudo e aceno com a cabeça. Percebo que Ed notou nossa comunicação, mas não faz caso. Queria que ele se sentisse incomodado por meu novo amigo, mas não parece afetá-lo. Sou mesmo uma boba, não aprendo que para ele sou só uma simples amiga.

Após a aula, passo em minha casa apenas para almoçar, mas não saio antes de arrumar a cozinha, depois volto para a biblioteca.

- Oi, te deixei esperando? – encontro Rodrigo sentado com seus livros abertos.

- Não, Patrícia, acabei de chegar também – ele me dá um sorriso tão acolhedor que sinto meu coração se encher de carinho por ele.

- Está em dificuldade em que parte da matéria?

- Apenas o início, que foi a parte que perdi.

- Vamos lá, então. Abra na página 77.

Explico o conteúdo para ele, que entende rápido. Como terminamos logo, aproveito para procurar um livro para levar para casa e ele vai comigo.

- Acho que vou pegar um também. Alguma indicação?

- O que gosta?

- Não sou de ler muito, mas prefiro algo que tenha investigação policial. Mas que só no final revele o vilão. Gosto de tentar descobrir sozinho.

- Agatha Christie é excelente. Já leu algum?

- Não, mas ouvi muito sobre ela.

- Ela tem vários. Gosto daqueles com o detetive belga Hercule Poirot.

- Já leu muitos? Qual indica?

- Li a maioria, amo seus romances policiais. Por que não começa com O assassinato no expresso do Oriente? Tem o filme. Podemos assistir depois que terminar a leitura.

- Então será este, com certeza. E vou cobrar o filme, hein?

- Combinado – escolho para mim o livro de fantasia Sombra e ossos, de Leigh Bardugo, primeiro da trilogia Grisha. Já ouvi falar muito dele e estou ansiosa para ler.

Chego em casa, lavo os banheiros e faço o jantar antes que minha mãe chegue. E ainda sobra tempo de começar minha leitura. Ela entra em casa e seu cansaço é nítido.

- A senhora está bem, mamãe?

- Não muito, minha menina. Me senti estranha o dia todo. Uma exaustão fora do normal.

- O movimento foi intenso na loja?

- Até que não. Minha chefe está até descontente e planeja algumas promoções para atrair os consumidores.

- Vá tomar um banho, vou colocar a mesa. Será que papai chega logo?

- Não sei, meu bem. Espero que sim. Tomara que não passe no bar.

A campainha toca e vou atender. É vovó Severina com um prato nas mãos, coberto com uma toalhinha bordada.

- Boa noite, menina. Sua mãe está? – faço a entrar e levo-a até o sofá.

- Oi, D. Severina. Acabei de chegar.

- Não quero atrapalhá seu descanso. Apenas fiz broas de macaxeira e trouxe uma para você experimentá. Minha nora adorô a receita e está querendo colocá para vendê na padaria dela.

- Vamos adorar provar, muito obrigada.

- Depois me diga o que achô. Pesquisa, como Maria diz. Não que precise, minha broa sempre fez o maió sucesso.

- Tenho certeza que está uma delícia.

- Obrigada. Mas me diga, está doente, Judite? Estou te achando com a espinhela caída.

- Não, apenas cansaço, só isso.

- Precisa se cuidá. E de sua menina também. Fiquei sabendo do que aconteceu depois da festa que ela foi.

- O Jonas não é mau, D Severina. Mas a bebida está acabando com ele. Quase não o reconheço.

- Você precisa se impô, mulher. Não pode aceitá os maus tratos dele.

- Me falta coragem, e ainda tenho esperança que ele melhore.

- Assunta bem, ele não vai melhorá sem tratamento. É um vício que só piora.

- Mas ele não aceita, o que posso fazer?

- Primeiro, não deixe ele te batê mais, nem na menina. Segundo, de um ultimato no homem. Se não buscá ajuda, não tenha medo de largá dele.

- Já pensei nisso, mas tenho receio dele só piorar ainda mais sozinho.

- Mas vai deixá ele machucar ainda mais você e sua filha? Ele está descontrolado.

- Tem razão, vou pensar em tudo o que me disse. Obrigada por se importar.

- Conte conosco para o que precisá. Agora já vou indo que tenho terço na casa da Dita. Se quiser ir, rezamos todas as segundas e quartas, cada dia numa casa diferente.

- Hoje não consigo, mas verei se na próxima eu vou.

- Será lá em casa, faça uma forcinha. Para mudá, não podemos esperá caí tudo de mão beijada do céu não, temos que nos esforçá.

D. Severina se despede de mim com um abraço apertado e espero que sua visita ajude minha mãe a tomar uma atitude.

Meu pai chega quando minha mãe está no banho. Milagrosamente está sóbrio e, apesar da expressão cansada, este de ótimo humor, nem parece o bêbado agressivo de quase todos os dias.

Vou para meu quarto após lavar a louça e me envolvo em meu livro novo. Escuto meus pais conversando de forma civilizada e ele até parece carinhoso com ela. Como pode o álcool mudar tanto uma pessoa?

Durmo logo, pois tenho aula no dia seguinte, mas confesso que foi difícil largar a leitura. Sonho com Ed e eu, numa roda gigante, e ele me beija. Fecho meus olhos e quando abro, é o Rodrigo na minha frente. O que será que significa?


Quem gosta de triângulos amorosos? Este é o primeiro que escrevo, me digam o que estão achando. Obrigada.

Despertando para sonhar - Livro 4 da Série SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora