Capítulo 3

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POV Edmilson

Hoje é sexta, terminei meu último trabalho e irei entregar amanhã pela manhã.

- Vamos dar uma volta? Está passando um filme legal no cinema – Paty sempre me convida e é a única que me tira de casa, não gosto muito de deixar o meu canto.

- Não sei... Estou cansado.

- Deixa de preguiça, Ed. Lembra que me prometeu que iria da próxima vez que te chamasse.

- Tudo bem. Me dá uns minutinhos que vou me trocar.

- Pode deixar que termino de guardar seu material.

Volto alguns minutos depois e a encontro admirando meus quadros particulares, aqueles que me são mais caros. Ela é minha maior incentivadora e não se cansa de me dizer quanto talento tenho.

- Vamos para o cinema? – tento colocar animação em minha voz.

- Sim, vou só falar tchau para a vovó.

- Não pode esquecer. Ela gosta mais de você do que de mim.

- Não é verdade! Deixa de ser chorão – ela ri descontraída e saímos para a cozinha, onde encontramos minha avó, numa discussão com seu amigo José Magalhães.

- Cabra abestado, já te disse que vai tomá meu chá e pronto.

- Mas eu estou bem, Severina querida.

- Bem que vi você tossindo ontem no terço. Não me engana. Vai se cuidá que ainda tenho muitos planos para você.

- Tudo bem, eu tomo, mas não se zangue. Eu gosto muito dos seus chás, só não queria te dar trabalho.

- Trabáio vai me dá se ficá doente de novo – é divertido observar como minha avó manda no senhor idoso e ele obedece, temeroso de a irritar. É apaixonado por ela, e até já a pediu em casamento, mas minha avó não aceitou. Diz que já está velha de mais, porém cuida dele como uma esposa amorosa, mas mandona.

- Já estamos indo, vovó – Paty a abraça e beija e minha avó sorri encantada.

- Não que comer nada antes, menina?

- Vamos ao shopping, mas na volta experimento um de seus doces.

- Cuida dela direito, Edmilson. Estou achando ela magrinha por demais.

- Certo, vovó. Até mais, Sr. Magalhães.

- Bom passeio, meninos – me responde enquanto bebe seu chá, como ordenado.

Pego as chaves do carro de meu pai, que me empresta, agora que tirei habilitação. Faz apenas 3 meses que estou dirigindo, mas me sinto seguro e meu pai confia em mim.

- Ela não perguntou se eu queria algo.

- Por que você é de casa, não precisa de oferecimento.

- Você também é, até dorme lá às vezes.

- Só quando a situação na minha está muito difícil, você sabe.

- Não estou reclamando, é como uma irmã para mim – ela faz uma cara estranha, que não consigo decifrar, mas logo muda de assunto.

- Engraçado como o Sr. Magalhães aceita tudo que ela manda. Nem parece aquele senhor ranzinza que falavam no bairro.

- Vovó e seu jeitinho especial – ambos rimos muito, lembrando-nos do ar autoritário dela e da cara de cachorrinho obediente dele. Só perto da Paty me vejo rindo e fazendo piada. Algo nela me liberta.

Chegamos ao cinema a tempo para comprar os ingressos e a pipoca. Estamos nos sentando quando vejo Rodrigo se aproximar. Ele mudou-se para nossa escola neste segundo semestre e sempre procura desculpas para conversar com minha amiga. Algo nele me incomoda, talvez a forma como olha para ela, como se não pudesse desviar o olhar.

- Patrícia, que bom te encontrar. Não sabia que gostava de filmes de aventura – diz já a abraçando e beijando seu rosto.

- Oi, Rodrigo, tudo bom? – ela o cumprimenta sorrindo – Quer sentar-se conosco?

- Claro, meus amigos estão atrasados, ficarei com vocês, se não incomodar.

Ele se acomoda ao lado dela e iniciam uma conversa sobre filmes semelhantes. Contribuo com pequenos comentários aleatórios, me sentindo sobrando, apesar das tentativas de me incluir que Paty faz.

O filme finalmente começa, mas meu alívio dura pouco, pois o garoto não para de cochichar ao ouvido de minha amiga e ela ri do que ele está falando. Minha vontade é de ir embora, mas aguento firme até o final, nem sei direito o que aconteceu, em minhas tentativas de ouvir o que tanto falavam.

- Vamos tomar um sorvete? – ele pergunta quando saímos.

- Eu preciso ir embora – digo logo – Vamos Paty?

- Ed fica mais um pouco, ainda é cedo.

- Preciso mesmo ir. Se quiser carona, estou indo – falo ríspido, não sei por que, mas não suporto este cara.

- Eu levo você, Patrícia.

Ela me olha com um olhar que não entendo, suspira e diz que vai ficar. Algo desagradável se instala em meu peito e parto sem nem mesmo me despedir.

Chego em casa me recriminando por minha rispidez. Não sei o que aconteceu comigo, por que fui rude com a Paty.

Envio uma mensagem me desculpando, mas ela não vê. Umas horas depois, resolvo enviar outra, perguntando se ela chegou bem, mas continua sem visualização. Será que a conversa está tão boa que ela ainda não chegou em casa?

Fico na minha janela observando sua casa há alguns metros da minha. Posso ver seu quarto daqui e a luz está apagada. Talvez já esteja dormindo.

De repente, um carro para em frente seu portão e fica parado um tempo, até que a porta se abre e ela sai, com um sorriso no rosto.

Sinto um aperto em meu peito ao perceber que posso estar perdendo minha amiga para aquele garoto, e não gosto nem um pouco da sensação. Ela é a única pessoa que deixo se aproximar e não posso perdê-la. Porém, não devo ser egoísta e querê-la só para mim. Se ela encontrou alguém, tenho mais que torcer para que dê certo. Então por que a ideia dela com ele me incomoda tanto?


E este Rodrigo, hein? O que acham dele?

Despertando para sonhar - Livro 4 da Série SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora