Capítulo 18

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POV Patrícia

Fico chateada quando Rodrigo chega para me buscar antes do combinado, mas ele me explica que seus pais estavam conversando em sua casa e ele não quis ficar lá. Pelo que entendi, seu pai não aceita a separação, disse que cometeu um erro, mas que está arrependido, que não está disposto a perder a família. A mãe está muito magoada, porém aceitou conversar.

Vamos para a festa de aniversário de um amigo de Rodrigo da outra escola. Sinto-me deslocada e preferia ficar mais tempo com o Ed, mas não consegui falar para meu namorado ir sozinho, já que ele ficou dizendo como gostaria de me apresentar para seus antigos amigos.

Preciso por um fim ao nosso relacionamento, mas até agora não consegui. Ele se tornou tão dependente de mim que me sinto culpada por querer terminar. Porém, não estou mais suportando esta situação. Já conheço a forma que ele toca a campainha de casa e sinto um frio doloroso no estômago cada vez que a escuto.

Tento disfarçar meu mal estar ante a quantidade de bebida que os jovens estão consumindo e converso com algumas garotas, mas quando o vejo abrir a terceira cerveja, já não aguento mais.

- Estou indo embora, Rodrigo.

- Como assim, linda? A festa está apenas no começo – me diz surpreso.

- Vou pedir um táxi, pode ficar com seus amigos – digo já saindo rápido.

- Ei, espere, o que aconteceu? – ele corre atrás de mim e me alcança já na calçada.

- Sabe dos problemas que a bebida trouxe para minha família, Rodrigo. Seus amigos estão todos bêbados e você os está acompanhando.

- Calma, não é assim. Só bebi duas latinhas até agora.

- Eu sei, mas acho melhor eu ir.

- Mas não é justo. É só isso mesmo? Você está estranha há dias. Acho que é apenas uma desculpa...

- Talvez seja...

- Como assim? O que quer me dizer? Espere-me que vou me despedir e te levo embora.

- Não quero que dirija agora, vamos até a praça aqui em frente.

- Tudo bem – andamos até um banco e nos sentamos – Agora diga qual o problema?

- Fui sincera quando disse que daria uma chance para nós e dei, mas...

- Ainda gosta do Edmilson.

- O que disse?

- Eu sempre soube que estava apaixonada por ele, porém pensei que poderia te fazer esquecê-lo. Mas não consegui, não é?

- Me desculpe, Rodrigo. Nunca quis te magoar.

- Não vou dizer que estou bem com isso, pois não seria verdade – ele respira fundo e continua - Mas não quero que esteja comigo por pena ou costume. Quero que me ame.

- Você é incrível, mas meu coração já tem dono. Não consigo me libertar deste sentimento.

- Você me ajudou muito com a situação da minha família, obrigado. Sei que tenho que deixar você ir, mas confesso que é difícil.

- Podemos ser amigos, sempre estarei disposta a te ouvir.

- Eu sei, linda. Obrigado. Talvez eu precise de um ombro de vez em quando. Quer que te acompanhe até sua casa?

- Não, aproveite a festa, mas não beba muito.

- Não vou – ele ri e me dá um abraço apertado – Sentirei sua falta.

Ele aguarda a chegada do táxi comigo, e depois volta para a casa. Sinto que um peso saiu de meus ombros e posso enfim respirar. Chego em casa e vou direto para meu quarto, minha mãe já está deitada.

Acordo pouco antes das 8 horas e a casa está silenciosa ainda. Vou para a cozinha preparar o café, onde encontro um lindo quadro meu e uma carta sobre a bancada. Está endereçada a mim e abro rapidamente ao reconhecer a letra do Ed.

"Paty

Nunca fiquei sem palavras perto de você. Foi sempre a única a me tirar da concha onde me escondi. Minha melhor amiga, a pessoa que mais me conhece. Porém, é difícil me expressar agora.

O quadro, que acompanha esta carta, foi feito numa das inúmeras noites em que não conseguia dormir, pensando se abria ou não meu coração para você.

Hoje, no entanto, cheguei à conclusão que preciso que saiba como me sinto. Descobri que estou apaixonado por você. Intensa, perdida e irremediavelmente.

Não falei nada, pois você está com o Rodrigo e eu me sentia culpado por estar traindo a lembrança da Janaína. Porém, ela nos amava e vovó me fez ver que nos quereria felizes.

A amei demais, mas ela foi como o ipê florido. Uma bela e esplendorosa floração, mas breve. Sempre terei carinho por ela, mas se foi e não voltará.

Você já é o sol, sempre presente, mesmo quando eu não percebia. Nos meus momentos de tempestade, nos meus dias nublados, nas minhas noites escuras, sempre pude contar com você. Trouxe cor e calor para meus dias, me tirou da escuridão. Meu amor por você me despertou para a vida, para sonhar de novo.

Precisava te contar tudo isso antes de minha viagem. Se posso ter esperanças, fale comigo antes que eu parta.

Com amor

Edmilson"

Meu coração está explodindo de emoção. É muito mais do que ousei sonhar. Enxugo as lágrimas que nem percebi quando começaram a escorrer e olho para o relógio. Será que ainda dá tempo de encontrá-lo? Subo correndo para meu quarto, coloco a primeira roupa que encontro e vou até sua casa.

D. Severina abre a porta e não esconde o sorriso.

- Eu sabia que viria, mas ele já saiu menina – ela vê meu desapontamento, e seu sorriso abre mais ainda - Não se preocupe, pedi para o JC ficá de plantão esperando. Vamos, meu neto, se avexe.

- E não é que a vovó estava certa? – ele ri, já com as chaves na mão.

Fico surpresa ao ver vovó e Toninho entrarem no carro.

- Está achando que vô perdê essa? Esperei tanto por isso, menina – ela diz rindo.

- Eu também, quero assistir de camarote – o menino completa.

JC dirige rápido, mas com responsabilidade. Estou morrendo de medo do avião decolar antes que eu possa vê-lo. Preciso estar com ele, dizer do meu amor.

Não há vagas perto da entrada do aeroporto, então JC apenas para o carro para descermos e corro para dentro. Deixo vovó e Toninho para trás em minha pressa. Vejo-o de longe, desvio de algumas pessoas e suas malas, até que estou frente a frente com ele.


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Despertando para sonhar - Livro 4 da Série SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora