Capítulo 19

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POV Edmilson

Adio minha saída de casa até o máximo que posso, mas preciso estar no aeroporto uma hora antes do horário de decolagem. Patrícia não veio à minha casa nem enviou mensagem. Não sei se já leu minha carta ou apenas não tem uma resposta para mim.

- Não fica triste, meu neto. Sei que ela ama você – vovó me diz quando me abraça em despedida.

- Ela não veio e eu preciso ir agora, não posso esperar mais.

- Confie em mim, menino. Meu Santo Antônio não se engana.

Olho mais uma vez para sua casa antes de entrar no carro. Sua janela está fechada, talvez ainda esteja dormindo.

Permaneço calado durante o trajeto, olhando a todo o momento para meu celular, na esperança de receber uma mensagem sua.

Distraio-me alguns minutos com o check-in, mas a ansiedade volta quando me sento para esperar meu horário.

Minha mãe permanece abraçada o tempo todo comigo e meu pai me dá conselhos de última hora, mas confesso que nem escuto o que ele fala. Inês está com Eduardo, curtindo cada minuto e sinto uma certa inveja deles.

São 8:40h e meu celular continua silencioso. Já quase não tenho mais esperanças, até que ouço minha mãe dizer meu nome de uma forma diferente. Olho confuso para ela, que me aponta o corredor, com um grande sorriso. Andando apressada, desviando dos passageiros, está Patrícia. Num primeiro instante fico estático, mas me levanto rápido e corro até ela.

Paro à sua frente, sem saber o que fazer. Seus olhos estão brilhantes e intensos, dizem mil coisas. Deixo de pensar e permito que meus sentimentos me guiem. Toco seu rosto e me aproximo. Ela mantem o olhar fixo no meu, e seus lábios sorriem me acolhendo. Delicadamente, nossas bocas se encontram num beijo delicado, mas aprofundo o contato, com toda a intensidade de meu amor e medo de não a ter. Ela me envolve o pescoço e esqueço que estamos num saguão lotado e somos só eu e ela.

- Te amo, minha Paty, meu sol. Tive medo que não me quisesse – falo quando nos afastamos brevemente.

- Te amo há tanto tempo, Ed. Esperei muito por este momento, mas já não tinha esperanças.

- Desculpe minha cegueira. Demorei para perceber como me sentia com relação a você. Meu amor cresceu silencioso, mas é forte e verdadeiro - Volto a beijá-la e nunca me senti tão pleno e em paz como agora, cheguei ao meu lugar, meu lar.

- Terminei com o Rodrigo ontem, antes mesmo de ler sua carta. Namorei com ele apenas para tentar te esquecer, mas não é possível.

- Fiquei louco de ciúmes, mas com medo de falar de meus sentimentos e perder sua amizade.

- Filho, estão chamando para o embarque – meu pai me avisa, constrangido em nos interromper.

- Preciso ir, amor. Mas não deixarei de pensar um minuto em você. Contarei os dias para voltar.

- Aproveite sua viagem, seu curso. Estarei esperando por você, como sempre estive.

- Te amo, te amo, te amo – digo entre muitos beijos - Não se esqueça.

- Sonhei muito em te escutar dizendo isso, não vou esquecer. Te amo, Ed, muito – ela me beija mais uma vez, e é difícil me afastar.

Eduardo está abraçado com minha irmã. Há lágrimas no rosto dela, apesar de incentivá-lo a ir. Despeço-me de meus pais e irmãos. Minha avó me espera com um grande sorriso.

- Enfim meu Santo Antônio pode descansá, coitado. Vou podê deixá ele em paz agora, todos os meus netos estão encaminhados.

- Obrigado, vovó e agradeça ao santo por mim.

Não resisto e beijo Paty mais uma vez. Seus olhos estão marejados e meu desejo é abraçá-la e não soltar mais.

- Deixo meu coração com você. Volto para buscá-lo.

- E você leva o meu. Te espero.

Mal embarcamos e já tiro meu bloco de desenho e meu lápis de minha mochila. Passo todo o voo desenhando seu rosto, seus olhos, seu sorriso. Meu coração já dói de saudade e não sei como farei para sobreviver estas semanas longe dela.

Depois de muitas horas, descemos finalmente em nosso destino. Estou dolorido, mas a emoção é grande. Ao contrário do Brasil, aqui está frio e nos agasalhamos antes de sairmos do aeroporto. Chamamos um táxi e Eduardo dá o endereço da pensão onde ficaremos. O lugar é simples, mas aconchegante e confortável. Envio mensagens para meus pais e para Paty avisando de nossa chegada, depois tomo um banho demorado e caio na cama. Não consegui dormi direito no voo e estou muito cansado.

Acordo por volta das 9h da manhã e Eduardo já está de pé. Saímos para conhecer nosso lar temporário e a cidade é linda. Há tanto para ver que só voltamos à noitinha para nosso quarto e só vimos uma pequena parte.

O curso de artes é incrível, muito mais do que imaginei. Aprendo técnicas que não conhecia em pintura a óleo, aquarela, nanquim e mesmo grafite. Meus professores são muito qualificados e pacientes, e meus colegas interessados e participativos. Faço amizade, já no primeiro dia, com um colombiano muito talentoso e é ótimo trocar experiências.

Apesar da diferença no fuso horário, consigo manter contato com minha família e falo com eles todos os dias. Mas minhas chamadas de vídeo favoritas são com minha Paty. Estou adorando meu curso, mas louco para estar perto dela de novo.

Escrevo detalhadamente tudo o que acontece em meu diário, como ela me pediu, inclusive como me sinto com relação à ela, meu amor, minha saudade. Faço também um desenho especial para cada dia. Seu rosto, flores, pássaros, lugares que me chamaram a atenção. Será um registro não apenas em palavras, mas com minha arte também.

Gostaria de continuar com cartas de amor, mas demoraria muito para chegar até ela. Então, toda noite, mesmo após falar com ela, envio mensagens, expressando tudo que gostaria de lhe dizer. Ela sempre responde com tanto carinho, que gostaria de pegar um avião na mesma hora para ir ao seu encontro. Como pude demorar tanto tempo para perceber como a amo?


Gostaram do encontro no aeroporto? 

Despertando para sonhar - Livro 4 da Série SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora